15 abr 2002 - 17h52

Xaropinho conta tudo

Kleberson tem apenas 22 anos, mas é o principal jogador do Atlético na atualidade. Dono da camisa 10, ele conquistou a Bola de Prata da Placar no ano passado e foi um dos artífices do título brasileiro. Agora, prestes a ser convocado para a Copa do Mundo, terá a chance de ser o primeiro representante do rubro-negro em um Mundial. Foi neste clima que a Furacao.com recebeu uma visita de Kleberson para uma entrevista completa.

O meia falou sobre o início de sua carreira, sobre os bastidores da conquista do Brasileirão e contou detalhes de sua passagem pela Seleção Brasileira. Pela primeira vez, o Xaropinho revelou suas opiniões sobre assuntos importantes como a Lei Pelé, o calendário do futebol brasileiro e o papel social que deve ser desempenhado pelos jogadores de futebol. Em todas as suas respostas, deixou transparecer sua humildade e o orgulho com o qual veste a camisa rubro-negra. Confira abaixo a entrevista completa:

Agradecimentos a Roberto Karam, relações públicas do Atlético Paranaense

Você é de Uraí ou de Ibiporã?
Eu nasci em Uraí, mas morei toda minha vida em Ibiporã. Foi lá que eu cresci e onde meus pais moram. A minha história começa ali em Ibiporã.

E como você começou a jogar futebol em Ibiporã?
Desde pequeno eu sempre joguei bola. Meu pai me levava nos campos e eu sempre estava correndo atrás de bola. Mas eu comecei a jogar mesmo em times amadores de Ibiporã, em escolinhas que havia lá. Inclusive nessa época eu jogava muito futsal também. Quando eu cheguei a uma certa idade, com uns 16 anos, meu pai me colocou no Infantil do Londrina. Eu joguei quase um ano lá e fui dispensado. Depois tive uma outra proposta para ir para o Nichika. Fui junto com um amigo e joguei como Juvenil. Depois disso, fui para o PSTC. Lá as coisas mudaram muito para mim. Eu estava maduro e joguei mais lá.

Você começou como lateral ou como meia?
Eu sempre jogava como meia e como lateral-esquerda. Só que no PSTC tinha um lateral-esquerdo muito bom, e me colocaram como lateral-direita. Aí, de repente chegou um lateral-direita muito bom também e o pessoal me passou para jogar como meia ofensivo. Eu acabei ficando na posição, mas jogava como lateral de vez em quando.

Teu pai foi jogador de futebol?
Não, meu pai jogou só em time amador.

Você torcia para algum time quando era criança?
Eu era corinthiano doente. Era aqueles de usar camiseta e sair na rua e querer brigar pelo time. Eu era fanático pelo Corinthians. Inclusive eu conheci melhor o Atlético Paranaense naquele jogo contra o Corinthians, pela Copa do Brasil. Em Ibiporã a gente não conhecia muito os times daqui.

Mas hoje Ibiporã inteira deve ser atleticana, não? Antes, o interior torcia para times do eixo Rio-São Paulo e agora o Atlético ganhou uma grande força. Como você vê essa mudança que ocorreu no futebol paranaense?
É verdade. Quando eu morava em Ibiporã, eu não conhecia muito torcedor do Atlético Paranaense. Eu conhecia um só, que tinha até camisas antigas do Atlético. Mas agora eu sei que o pessoal torce mesmo, que o pessoal se identifica muito com o Atlético Paranaense. E o que é bom lá é que eles não torcem só pra mim, eles torcem mesmo para o time. Isso aí é que é bom de você ver. Quando eu volto para minha cidade, eu vejo o pessoal com camisa do Atlético, vejo gente procurando camisa da Fanáticos.

E sua chegada ao Atlético como foi?
Do PSTC eu vim para o Atlético Paranaense. Teve um amistoso com o pessoal da China e eu fui observado. O Zequinha assistiu a esse jogo para indicar jogadores para disputarem a Taça BH pelo Atlético e eu fui um dos indicados. Eu fiz o teste em 98 e deu certo. O treinador da época era o Sérgio Moura e eu fui bem nos testes. Não joguei os dois primeiros jogos da Taça BH, mas joguei contra o time da cidade e contra o Palmeiras, entrando como lateral-direito.

Você estava com quantos anos nessa época?
Eu tinha 19 anos.

Seus pais vieram junto com você?
Eu vim sozinho. Ficou difícil trazer meus pais. Inclusive quando eu vim pra cá eu fiquei três meses sem ver meus pais. Fiquei morando no CT. Quando eu cheguei lá eu olhei e fiquei impressionado porque no interior a gente não vê essas coisas. Você tem horário certo para se alimentar, lanche muito bom, horário para estudar, tudo.

Uma de suas principais características é chutar bem tanto com a direita quanto com a esquerda. Você é ambidestro?
Eu sempre tive facilidade porque meu pai me levava para treinar no Centro Social Urbano de Ibiporã. Lá tinha um vestiário onde eu sempre gostava de ficar chutando bola na parede. Quando a bola vinha eu batia uma vez com a direita, outra com a esquerda. Meu pai sempre falava para eu bater com a esquerda também. Quando eu comecei a bater com a esquerda, eu não batia bem. Eu batia muito mal, errado, mas sempre ficava querendo melhorar cada dia mais. Eu fui treinando e a cada dia me aprimorei mais. A sua perna esquerda é boa, mas você tem de ter a noção de saber onde pisar o pé de apoio. Isso você só pega com treino.

Como foi sua estréia no Atlético?
Foi em 99 em um jogo contra o Paraná, no Couto Pereira. Fui lançado pelo técnico Antonio Clemente. Foi até engraçado, porque eu estava treinando nos Juniores e a maioria dos meus amigos que eram 79 tinham subido para o profissional. O Jean, o Clóvis, o Valciclei, o Marcelinho…todos eles subiram. E eu continuei ali, fazendo meu trabalho. Mas uma vez faltaram jogadores e o Antonio Clemente pediu para eu ir lá, treinar com os profissionais. Fui super bem no coletivo e ele começou a falar de mim. Ele me chamou para treinar em três coletivos e eu fui bem. Até o Sérgio Moura, que era técnico nos Juniores, falou para eu continuar daquele jeito porque parecia que estava agradando. Até que um dia ele me chamou para ficar definitivamente nos profissionais. E foi engraçado porque logo em seguida ele me chamou para ficar no banco do jogo contra o Paraná.

E o jogo, como foi?
Eu estava no banco. O Bruder estava na lateral-esquerda e o Luisinho, na direita. Como o Bruder não estava muito bem, o professor olhou para trás e falou para o Riva: “Aquece o garoto”. Na hora eu pensei: “Caramba! É agora ou nunca!”. Nisso o jogo estava no primeiro tempo ainda. Eu fiquei pensando se ia entrar antes do intervalo. Mas ele esperou terminar o primeiro tempo e conversou comigo, me deixou calmo. Eu entrei na lateral-direita e o Luisinho foi para esquerda, no lugar do Bruder.

Da tua época de Juniores do Atlético, teve algum atleta que você lembra que era um craque e acabou não dando certo no profissional?
Teve o Valciclei. Ele chegou a disputar alguns jogos do Campeonato Brasileiro de 98 e sempre foi elogiado. Eu era reserva dele nos Juniores. O meio era Clóvis, Jean, Marcelinho e Valciclei e eu era reserva. O pessoal apostava muito no Valciclei. Eu perdi contato com ele. Sei que ele esteve em Foz um tempo e agora não sei.

Meia autografa a camisa rubro-negra

Quando você começou no Atlético, qual foi o jogador que mais te ajudou?
Quando eu cheguei no Atlético Paranaense, o Adriano estava muito bem. Ele tinha até sido convocado para a Seleção Brasileira. Eu sempre tinha visto o Adriano jogar e sempre comentava com os meus amigos: “Pô, se um dia eu jogar e correr como o Adriano, está bom demais”. Então quando eu cheguei eu me espelhei muito no Adriano. Eu não sou idêntico a ele, mas sou um pouco parecido, principalmente na velocidade, no passe. Eu sempre falo pras pessoas que o Adriano é um excelente jogador. Com certeza ele acaba com qualquer esquema tático pelo pulmão e pela qualidade que ele tem. Ele sempre toma porrada e sempre consegue se levantar.

[…o professor olhou para trás e falou para o Riva: “Aquece o garoto”. Na hora eu pensei: “Caramba! É agora ou nunca!”]

E hoje você acha que já assumiu esse papel de exemplo para os jogadores mais novos do Atlético? Você tem contato com os garotos de outras categorias?
Tenho contato, claro. O pessoal dos Juniores do Atlético é muito legal, tem meninos muito bons ali. A categoria de base do Atlético é muito boa. Acho que o trabalho que eles fazem com o pessoal é excelente. Então tem muitos jogadores bons que daqui a uns meses, um ano, estarão com certeza no time de cima.

Quem são seus melhores amigos entre os jogadores do Atlético?
Olha, eu sou amigo de todo mundo, nunca tive problema com ninguém. Mas com quem eu tenho mais afinidade é com o Fabiano, o Igor, o Ivan. São jogadores da minha idade, começamos todo mundo junto. Na concentração eu divido quarto com o Fabiano e, de vez em quando com o Igor.

Você pode apontar algum jogador dos Juniores em quem você aposte para brilhar no profissional?
Tem o Welignton, que é um volante, o David, o próprio Fabinho, que já chegou a jogar no profissional neste ano. São garotos excelentes que quando tiverem tempo para trabalhar no profissional vão se dar bem. É só preciso de tempo para se adaptar, porque o é totalmente diferente o júnior do profissional. Quando eu estava nos Juniores, era só correria e gritaria. No profissional é mais calmo, é mais toque de bola, tática.

O que você acha do Rodriguinho?
Se continuar jogando do jeito que está jogando nos treinamentos, o Rodriguinho tem tudo para ser um grande nome do Atlético Paranaense. Já teve o Kelly, o Adriano, o Lucas e até eu e o Rodriguinho pode ser o próximo. Se ele tiver cabeça, ele vai ser um grande jogador. Ele é muito bom jogador. Chuta muito bem com as duas pernas, tem ótima visão de jogo e tem uma condição também muito boa.

Como você encarou o fato de ter de substituir o Kelly, que era um ídolo da torcida? A 10 era dele e passou para você de cara, como foi isso?
Eu não substituí o Kelly. Ele é insubstituível, o lugar dele continua ali. O Kelly é um grande jogador, tem muito mais técnica, é muito mais habilidoso e tem muito mais experiência do que eu. Eu só procurei fazer a torcida gostar de mim. Eu tentei fazer a torcida esquecer dele aos poucos, mas foi muito difícil. Inclusive nos primeiros jogos que eu fiz eu lia no jornal que o Kelly tinha saído e o Kleberson teria de melhorar bastante se quisesse fazer a torcida esquecê-lo.

Você marcou vários gols de fora da área logo que começou a se firmar no Atlético. Ultimamente, isso não vem mais acontecendo. É por falta de oportunidade ou por determinação do técnico?
Não é pedido do técnico, não. Acontece que com o campeonato que a gente conquistou e com nossas boas atuações, os outros treinadores estão mais inteligentes contra a gente. Eles estão armando as equipes muito certas ali atrás. Eles sabem que eu chuto bem, então eles não vão querer deixar eu chutar. Sempre que eu chego bem próximo à área tem um cara em cima de mim, então não tem como eu chutar. Na posição que eu estou jogando agora, estou me sentindo muito melhor. Antes eu jogava quase como o Adriano, só que eu me desgastava muito. Eu chegava às vezes na cara do gol e não tinha fôlego para chutar. E eu não sou esse jogador de chegar na cara do gol e definir um lance. Sou aquele jogador de ficar mais atrás e chutar de fora da área. Assim eu fui crescendo mais.

Então por que na Seleção você tem arriscado mais de fora da área?
Na Seleção é diferente. Aqui no Atlético se eu pegar uma bola livre, já aparecem dois, três jogadores na marcação. Na Seleção o pessoal não me conhece ainda.

Como é tua relação com a torcida do Atlético? Você certamente é o jogador mais importante do time, por estar na Seleção Brasileira, mas apesar disso não é tão idolatrado pela torcida como outros jogadores. Isso incomoda?
Eu encaro de modo normal. É claro que a torcida vai gritar muito mais o nome do Alex ou do Kléber, porque eles são jogadores que chegam na hora e decidem o jogo, fazem o gol. Eu não sou aquele tipo de jogador que gosta de aparecer para a torcida, que faz uma jogada de efeito, que dá um drible ou um chapéu. Eu sou mais aquele jogador que procura fazer dois toques. Eu pego a bola, vejo quem está melhor posicionado e já toco. Se eu me destaquei no Campeonato Brasileiro foi por conta disso aí, por procurar errar o menos possível. Mas a torcida sabe do meu potencial e eles me ajudam muito. É muito bom chegar no estádio e ver a torcida gritando seu nome. Eu nunca tinha visto a torcida gritar meu nome como gritou quando eu fui convocado para a Seleção. Ficou todo mundo: “Ão, ão, ão, Xaropinho é Seleção”.

[Na Seleção é diferente. Aqui no Atlético se eu pegar uma bola livre, já aparecem dois, três jogadores na marcação. Na Seleção o pessoal não me conhece ainda.]

E esse carinho do torcedor faz diferença? Ouvir seu nome sendo gritado mexe com você?
Faz, faz muita diferença. A torcida do Atlético, que é isso…Quando eles gritam Atlético ou Dá-lhe, dá-lhe Atlético dá um arrepio na gente. Quando você faz uma jogada e gritam teu nome, você se sente com a moral muito mais alta para tentar fazer novamente e partir pra cima.

Quando você sai nas ruas a torcida do Coritiba te provoca?
Não, não. Quando eu saio na rua o pessoal do Coxa até comenta: “Bom trabalho que você está fazendo” e brincam: “Você tem que jogar no Coxa”.

Ganhar do Coxa é mais gostoso?
(risos) Sempre tem aquela rivalidade, né? A gente sabe que quem ganhar um Atletiba vai levar vantagem porque vai levar muito tempo para ter outro Atletiba. Então, quando você joga Atletiba você quer ganhar de qualquer maneira. Ganhar um clássico muda totalmente o ambiente. A motivação fica muito maior.

E a pressão antes do jogo, como é? Os atletas sentem a responsabilidade de jogar o clássico?
Com certeza, a rivalidade que existe é muito grande. Acontecem coisas absurdas nos bastidores em termos de rivalidade, então a gente sabe como é importante vencer.

[A torcida do Atlético, que é isso…Quando eles gritam Atlético ou Dá-lhe, dá-lhe Atlético dá um arrepio na gente.]

Você jogaria no Coritiba?
Olha, depende. Como profissional que eu sou, eu teria que jogar. Se eu tiver a oportunidade, tenho de ir lá e fazer o que eu faço no Atlético Paranaense.

O seu passe pertence ao Atlético integralmente ou tem uma parte do PSTC?
É meio a meio. Para eles ficou bom agora. Eles receberam proposta do Atlético para vender a outra parte, mas não aceitaram. Eles sabiam que aos poucos eu poderia ir despontando. E o Atlético também estava crescendo. Quando eu cheguei, em 98, o time tinha sido campeão paranaense, no ano seguinte foi campeão da Seletiva, depois já estava na Libertadores.

E o contrato com o Atlético vai até quando?
Vai até 2005.

Nesses pouco mais de três anos de carreira, qual foi o título mais emocionante que você já conquistou?
Ah, certamente foi o Campeonato Brasileiro. Ser campeão brasileiro é algo que sempre ficará na minha memória. A gente sabia que era uma oportunidade que a gente tinha de agarrar. Pelo jeito que as coisas foram acontecendo durante o Campeonato e, principalmente nas finais, a gente sabia que só dependia da gente na final.

No título brasileiro, Kleberson vibrou em São Caetano

Como foi a preparação para ganhar o Brasileirão?
A preparação do ano passado, tanto na parte psicológica quando no companheirismo, foi muito boa. A gente estava com um objetivo só: ser campeão. Quando a gente chegou entre os oito, passou pelo São Paulo e passou pelo Fluminense, a gente sabia que o momento era aquele. Tínhamos de dar de tudo, fazer das tripas coração para ser campeão porque a gente não sabia quando o Atlético Paranaense poderia estar na final de novo.

Acho que nenhum jogador do elenco tinha sido campeão brasileiro antes, não é?
Não, ninguém tinha sido. Por isso estava todo mundo com o pensamento de ser campeão. E a gente ia para dentro de campo com essa vontade. Nós saíamos das conversas com a psicóloga e das preleções do professor Geninho querendo dar porrada, doido para botar o uniforme, jogar logo e arregaçar meio mundo. Ano passado a gente estava muito unido. Foi o melhor grupo com o qual eu já trabalhei no Atlético Paranaense.

E nos bastidores do título, o que aconteceu? Em algum momento vocês chegaram a pensar na possibilidade de perder o título?
Não, em nenhum momento nós pensamos em perder. Antes do jogo contra o São Caetano, a gente estava concentrado em São Paulo e começou a chover. Eu falei para o Fabiano: “Olha, esse jogo tem que ser hoje porque hoje está todo mundo ligado. A gente vai ser campeão, ninguém vai segurar a gente”. Nós sabíamos que se jogássemos o que tínhamos jogado o campeonato todo, não ia sobrar pra ninguém.

Como os jogadores sentiram a participação da imprensa do eixo Rio-São Paulo, que tentou menosprezar a final entre Atlético e São Caetano?
A gente nunca tinha vivido aquele momento de ter vários jornalistas em cima o tempo inteiro. Claro que ficávamos super chateados de ouvir falar que São Caetano e Atlético Paranaense eram times pequenos, mas acho que o trabalho que a gente fez para chegar até lá comprovou nossos méritos. Mostramos que não era só o pessoal que ganhava altos salários que merecia estar ali. Quem brigou e jogou um bom futebol também merecia.

E quando você voltou para Ibiporã depois do título brasileiro, teve festa na cidade?
Teve sim. O pessoal fez uma carreata e a maioria estava vestindo a camisa do Atlético Paranaense.

Isso aconteceu com todos os jogadores. O Adriano e o Flávio tiveram uma grande festa em Maceió, o mesmo com o Kléber em São Luís. O Atlético superou o Paraná e está ganhando o Brasil.
Com certeza. Isso é no Brasil inteiro. Nós fomos para o amistoso lá em Cuiabá e eu estava treinando quando de repente eu vi um pessoal gritando: “Kleberson, Kleberson”. Eu dei com a mão assim e continuei treinando. Quando eu olho tem uma senhora com a camisa do Atlético e mais três menininhos pequenininhos, tudo com a camisa do Atlético Paranaense. Eu fiquei pensando: “Olha, o Atlético Paranaense cresceu mesmo…”

[Claro que ficávamos super chateados de ouvir falar que São Caetano e Atlético Paranaense eram times pequenos…]

Durante esse Campeonato Brasileiro, você foi expulso no jogo contra o Juventude. Foi a primeira expulsão da sua carreira?
Como profissional foi a segunda. Antes eu havia sido expulso contra o Palmeiras. As minhas duas expulsões foram muito bobas (risos). Contra o Palmeiras, eu fui expulso porque no primeiro lance dei um carrinho por trás no Arce. Na segunda bola, o Edmilson, que até jogou no Coritiba depois, tabelou com o cara e eu fui tentar antecipar e estiquei a perna. Quando eu coloquei, ele caiu e o juiz me expulsou. Eu desci para o vestiário e chorei para caramba. Eu mal conseguia falar. E contra Juventude acontece que a marcação deles estava muito forte. No primeiro lance já haviam me dado uma pegada. E no jogo inteiro tinha um cara me batendo e o juiz não marcava nada. Logo em seguida ao segundo gol deles, eu fui proteger uma bola e o cara me chutou e me puxou. Eu caí reclamando a falta e o juiz não deu. Como eu tinha que tomar o cartão amarelo para entrar na outra fase legal, eu reclamei com o juiz. Eu reclamei e tomei o amarelo. Só que daí me subiu uma coisa na cabeça e eu comecei a xingar ele de tudo quanto é nome. Eu tentei voltar e os caras tentaram me puxar. Foi bobeira, eu esquentei a cabeça à toa.

A comissão técnica cobra dos jogadores por essas expulsões bobas?
Eles cobram sim. Acho que você tem que saber como reclamar. Se toda hora você ficar xingnado o juiz, com certeza você vai ser expulso. Então a comissão técnica pede para a gente reclamar, mas não ficar gesticulando porque isso vai acabar prejudicando a gente. Até na Libertadores nosso time estava sendo expulso por muita bobeira, por reclamações que não iam resolver.

Como foi esse começo de temporada em 2002, em que o Atlético não rendeu o esperado?
Eu acho que o ano passado foi bastante desgastante. Com certeza a gente sentiu bastante nesse começo de ano por causa do ano passado. Todos os jogadores jogaram a maioria dos jogos do Brasileiro, acho que 15 a 20 jogos. A gente não teve férias como tinha antes. Antes, você ficava na sua casa sossegado, ninguém te incomodava, não tinha a imprensa em cima. A gente tinha um descanso legal. Agora foi diferente. A gente andava no meio da rua, ficava todo mundo em cima, os jornalistas ligando para entrevista. A gente voltou ainda pensando no título brasileiro. Aos poucos fomos se adaptando para esse ano. Estamos começando a melhorar, principalmente na pegada.

A imprensa reputou que uma das justificativas para a má campanha do time neste começo de ano foi o fato de existir uma indefinição na diretoria. Mário Celso Petraglia renunciou e depois voltou, mas vocês ficaram um período sem diretor de futebol. Isso atrapalha mesmo?
Para nós jogadores nem interessava. Mas para a comissão técnica e para as pessoas que trabalham no CT, isso com certeza atrapalhou. E se atrapalha eles, acaba atrapalhando a gente também. Você vê no olhar que está acontecendo alguma coisa de errado, por mais que eles tentem não passar isso pra gente. Mas quando entramos em campo, a gente esquece tudo isso e procura dar o máximo para que possamos ganhar o jogo.

Vamos falar um pouco de Seleção Brasileira. Quando você foi convocado pela primeira vez, o Felipão chegou a ter uma conversa em particular com você?
Conversou sim. Foi até antes de ser convocado, um pouco antes do jogo do Atlético contra o Figueirense. Ele falou para eu ficar tranqüilo e jogar sossegado. Ele disse pra mim: “Olha, eu sei do teu potencial e você não tem que fazer nada diferente do que faz no Atlético Paranaense. Se você fizer o que está fazendo, está bom pra mim já”. Então eu procurei fazer aquilo que ele falou.

Quando você chegou na Seleção teve algum jogador que conversou mais com você e te explicou como era jogar pelo Brasil?
Acho que não teve um jogador só, foi mais o grupo em geral. Quando eu fui tinha vários jogadores que também não tinham ido, então ficou mais fácil para mim. Estava todo mundo correndo atrás do mesmo objetivo.

Com quem você dividiu o quarto na concentração da Seleção?
Na primeira vez eu fiquei no quarto com o Washington. Depois eu fiquei com o Alex e na última vez, com o Kaká.

Na Seleção você joga na mesma posição que joga no Atlético ou há alguma diferença tática?
Eu jogo na mesma. O professor Luiz Felipe pediu para eu fazer a mesma coisa que eu faço no Atlético Paranaense. Com bola, meia ofensivo. Sem bola, homem de marcação que vem por trás. Eu acho que o trabalho que eu fiz no Atlético Paranaense na parte física foi muito bom porque agora eu estou me sentindo muito bem e tenho essa condição de poder marcar e atacar.

Você que esteve no grupo da Seleção pode falar melhor do que qualquer especialista: Gustavo e Alex Mineiro não teriam chances de jogar pela Seleção Brasileira?
Teriam sim. Quando eu fui convocado pela primeira vez, houve esse comentário de que eles poderiam ser chamados. O Felipão sempre passou que gostava muito do Atlético Paranaense. Inclusive na preleção do jogo contra a Bolívia, em Goiânia, ele falou que o Atlético Paranaense foi campeão pelo que os jogadores fizeram e daí citou o nome do Alex, do Cocito, do Gustavo, do Kléber, do Alessandro, de vários jogadores. Ele disse que esses jogdores faziam uma função que ele gostava. Então se esses jogadores tivessem chances eles iriam brigar de igual para igual com os demais. O próprio Alex Mineiro merecia uma chance, mas infelizmente aconteceu de ele se machucar e foi atrapalhado.

Como é o Felipão na intimidade? A imagem que a imprensa passa é de que ele é técnico muito rígido. Isso é verdade?
Ele é totalmente diferente do que ele passa pela imprensa. Dentro de campo ele é exigente mesmo. Ele cobra, se a gente não fizer o que ele pediu, vai levar bronca. Mas fora de campo ele é muito brincalhão, ele te deixa muito tranqüilo, faz piada. Por isso que o grupo da Seleção é muito fechado: todo mundo gosta do Felipão. Se tiver qualquer problema, os jogadores sempre ficarão do lado dele. Ele ajuda a gente, então a gente sempre procura ajudar ele.

Kleberson: atleticano na Seleção Brasileira

Em algum momento ele conversou com os demais jogadores sobre o Romário?
Não, ele não procurou passar para gente nada sobre o Romário. Acho que ele não quer passar essa preocupação para a gente. É claro que nos treinamentos quando você errava um passe a torcida já começava a gritar o nome do Romário. Daí sim o Felipão vinha pra gente e falava: “Olha, é você que está aqui, não é ele. Então, você tem de aproveitar essa oportunidade”.

Então aquela hipótese de o grupo ter vetado o Romário e pedido para o Felipão não convocar o Baixinho é mentira?
Isso não aconteceu. Acho que isso não é uma atitude de atleta profissional. Todo mundo está ali para batalhar por um espaço, não para prejudicar outro jogador. E quem não gostaria de jogar ao lado do Romário? Eu principalmente queria jogar muito ao lado dele. Ele é um grande goleador. Onde ele vai, marca gols e define jogos. Eu queria poder armar as jogadas para ele fazer os gols para a Seleção. Mas infelizmente é uma opção do professor Luiz Felipe e o Romário dificilmente será convocado, ainda mais que o Ronaldinho está voltando agora.

E a famosa cartilha da Seleção? Você já recebeu um exemplar?
Já, já recebi. Praticamente fala de tudo o que você não pode fazer. Acho que o principal é a proibição de falar no celular. Você não pode ir para um treinamento falando no celular ou então ficar no refeitório com o celular. Eu acho que isso é necessário para atingir os objetivos que o professor está querendo. Ele quer formar uma família para a gente chegar na Copa do Mundo e um jogar pelo outro e pelos brasileiros que ficarem torcendo aqui. Agora, se quando você estiver almoçando e ficar falando no telefone, você não vai ouvir o que o cara tem para falar. Então, se não houver amizade agora, não haverá na Copa do Mundo.

[O professor Luiz Felipe pediu para eu fazer a mesma coisa que eu faço no Atlético Paranaense. Com bola, meia ofensivo. Sem bola, homem de marcação que vem por trás.]

Como é essa amizade entre os jogadores? Vocês falam somente sobre outros assuntos ou conversam sobre os jogos também?
A gente comenta sobre o jogo, sim. Até num treinamento se você vê que não está legal você chama os outros e avisa. O bom da Seleção é isso aí e eu estou aproveitando bastante. Você pode ver que antigamente eu não falava muito e agora eu estou conversando bem mais, orientando meus companheiros. Eu já peguei uma experiência muito grande na Seleção. Lá a gente conversa bastante, fala do jogo, fala da tática. Quando eu vou treinar falta já vem um jogador e me dá uma dica de onde bater.

Quem são os líderes do grupo que vai à Copa do Mundo?
Acho que todo mundo lá tem um pouquinho de liderança. Mas a pessoa que fala mesmo, dentro e fora do campo, é o Emerson, que é o capitão. Ele é quem mais cobra e chama a atenção. Ele e o Roberto Carlos.

Você acha que a imprensa do eixo Rio-São Paulo prejudica os jogadores de outros times, como você? O Tostão comentou na coluna dele que o Vampeta estava jogando bem há três jogos e deveria ser convocado no seu lugar. Acontece que você está jogando bem há um ano e não há três jogos. Você acha que a mídia pode atrapalhar?
Acho que não atrapalha. Eu sei que eu dependo de mim. Se eu mostrar o que eu já joguei pela Seleção, eu tenho uma grande chance de ir para a Copa. Então eu vou dar o máximo de mim para poder receber essa oportunidade. Se o professor achar que eu tenho condições de disputar a Copa do Mundo pela Seleção Brasileira, eu estarei pronto. É claro que a experiência conta e muita gente fica desconfiado se o jogador vai render a mesma coisa nos jogos decisivos. Mas nesses jogos que eu fiz, eu mostrei que posso não ter a mesma experiência de outros jogadores, mas tenho uma força de vontade e uma dedição muito grande.

Você chegou a ser convocado junto com o Vampeta, não?
Sim. O Vampeta é uma excelente pessoa. A gente conversou bastante, brincou muito. Ele é realmente um grande jogador e sem dúvida merece estar na Seleção também. Antes de eu estar no Atlético Paranaense eu torcia muito pra ele no Corinthians (risos).

Nos primeiros jogos pela Seleção você foi titular, jogando ao lado do Gilberto Silva. Na última partida, o Emerson assumiu o lugar do Gilberto e ele ficou como segundo volante. Quem tem mais chances de ser titular?
O meu objetivo é estar entre os 23 que vão à Copa. Estando lá, se eu jogar cinco ou dois minutos, não tem problema. Eu quero entrar e fazer o que o Gilberto está fazendo, o que o Emerson está fazendo. Quero ajudar o grupo.

Qual foi a emoção de ter recebido a camisa 10 da Seleção Brasileira para o amistoso contra a Bolívia, em Goiânia?
A gente estava se preparando para o jogo e eu nem sabia como funcionava a distribuição das camisas. Daí o roupeiro foi falando: “Fulano, camisa tal” e chegou em “Juninho, 8”. Aí eu pensei: “Caramba, ele pegou a 8? Então o 10 deve ser o Luizão, deve ser outra pessoa”. Na hora que ele falou “Kleberson, 10” foi que eu percebi que os caras estavam confiantes em mim e que eu não podia decepcionar.

Você esperava jogar tão bem na sua estréia?
Olha, eu estreei tão bem porque eu me concentrei demais. Eu pensava que seria minha única chance de mostrar meu futebol e não poderia jogar mal. Eu sabia que se eu jogasse mal eu poderia nunca mais ter a chance de voltar a jogar por uma Seleção Brasileira. Então eu fiquei tranqüilo para entrar em campo e jogar o meu futebol. Quando eu arrisquei o primeiro chute de fora da área que eu bati muito bem na bola, ali eu senti uma confiança muito grande e pensei: “Opa, eu tô no jogo”.

As atenções da mídia para o Kaká e outros jogadores facilitaram sua atuação?
Com certeza. Inclusive quando os jornais falaram que eu seria titular eu senti que todo mundo ficava meio assim, eles queriam o Kaká como titular. Isso serviu de motivação para mim, porque eu sabia que o pessoal não me conhecia, mas que eu seria comentado se fizesse uma boa partida.

Muitas vezes um jogador faz uma grande partida, mas não é tão elogiado quanto outro que não jogou tão bem e fez um gol. Você entrou no jogo contra a Bolívia pensando em marcar um gol ou isso não pasou pela tua cabeça?
Não, não estava com a idéia de fazer gol. Estava com a idéia de jogar bem. Você pode ver que no jogo contra a Bolívia eu não estava lá dentro da área desesperado para fazer gol. Eu estava sempre atrás, esperando a oportunidade certa porque eu sabia que ao meu lado havia excelentes jogadores que poderiam marcar. Mas uma hora a bola acabou vindo para mim em um rebote do Edilson e eu tive tranqüilidade para fazer o gol.

A que você atribui as críticas da torcida para a Seleção Brasileira?
Acho que foi pelas Eliminatórias que nós fizemos, que não foi de encher os olhos. Mas eu acho que em 94 nós também fomos para a Copa do Mundo assim, não estávamos num momento muito bom. O grupo se uniu, chegou nos Estados Unidos e jogou um campeonato excelente. Eu estou muito confiante para este ano. Tudo depende da gente. Se a gente tiver aquela alegria para jogar, com certeza nós teremos grandes chances.

O Felipão sabe dessa tua versatilidade de poder jogar também de lateral-direita e lateral-esquerda?
Olha, eu não sei se ele sabe, mas se ele souber com certeza vai me ajudar. Se eu estiver no grupo e na preparação para a Copa do Mundo, eu poderei até treinar como lateral, se o professor precisar.

Como foi aquele lance em que você marcou um gol de antes do meio-de-campo num jogo contra o Fluminense, pela Copa São Paulo de Juniores?
Esse lance foi engraçado porque eu estava quase saindo do jogo. Eu estava com cãibras e ia sair do jogo. Só que um pouco antes teve um escanteio e eu fiquei pensando: “Pô, se essa bola sobrar aqui, eu vou meter pro gol”. Daí bateram o escanteio e a zaga deles tirou. Outro escanteio. Aí foi coisa de Deus mesmo. A bola veio, bateu na perna de outro jogador do Atlético e parou certinha no meu pé. Eu dei um tapa, olhei e ‘tum’. Mas eu peguei muito certo na bola.

Você já tinha tentado antes?
Já tinha arriscado uma vez no treinamento, mas peguei mal pra caramba e joguei lá em cima. Depois do gol, eu tentei de novo, mas não deu certo (risos).

E esse negócio de ser cobrador de falta, como começou?
Eu batia falta desde a categoria de base. Mais até no PSTC, no Atlético eu não batia tanto porque aqui havia excelentes cobradores. Eu peguei muitas dicas com o pessoal aqui, o Luizinho Vieira, o próprio Luisinho Netto. De vez em quando eu ainda treino, só que agora eu mudei minha característica. Antes eu batia mais de perto, mais colocado. Agora estou procurando bater mais de longe, mais forte.

Atualmente, muitos jogadores têm empresário, procurador, assessor de imprensa. Você tem uma equipe que cuida da sua carreira?
Eu tenho só um procurador que cuida da minha carreira. É o Mário, que está comigo desde o PSTC. Já vieram várias pessoas perguntar se eu tinnha empresário, mas eu nunca procurei entrar em contato. Essa pessoa é muito boa para mim. Ele resolve tudo que eu preciso para poder entrar em campo e jogar tranqüilo. O pessoal chega e pergunta se eu preciso de empresário, eu passo o número do Mário e falo para resolver com ele.

Quais são suas diversões? O que você faz quando não está jogando futebol?
Eu gosto bastante de jogar videogame, de ir pra minha cidade ver meus amigos, de ir a restaurantes. Gosto também de estar com minha noiva.

Você costuma assistir a jogos de futebol na televisão?
Eu assisto, mas não como antes. Antes eu ficava assistindo a tudo, não importando o jogo que fosse. Agora eu assisto jogo, mas não sou vidrado como antes.

Qual sua opinião sobre a Lei Pelé?
Os jogadores mais famosos estão tirando um bom proveito dessa Lei. Os clubes estão fazendo contratos muito longos, até 2005, para o jogador não poder pegar o passe e sair. Eu acho que a Lei Pelé vai ajudar alguns jogadores, mas vai prejudicar outros.

O que você acha do preço do ingresso para os jogos na Arena da Baixada custarem R$ 15,00?
Eu acho que o estádio é muito moderno e é totalmente diferente dos outros. O pessoal cobra porque o estádio é muito desenvolvido. Agora, se você me perguntar em relação ao preço do ingresso, eu vou dizer que por mim vai ser o mais barato possível. Por mim, eu deixaria a entrada ser de graça porque quanto mais torcedores ajudando a gente, melhor.

Então vamos reformular: você pagaria R$ 15,00 para ver um jogo do Atlético?
Pelo que o Atlético Paranaense fez no ano passado, eu pagaria. Agora não está num momento bom, mas acho que quando o Atlético Paranaense está bem, com certeza eu pagaria. Agora todo mundo quer ver jogo do Atlético. É difícil você ver o time jogar de forma retrancada. A gente sempre joga de forma bonita, pra frente.

Antes do primeiro jogo da final do Brasileiro, contra o São Caetano, muitos torcedores dormiram na fila para comprar ingresso. Isso repercutiu entre os jogadores?
A gente ficou concentrado no CT desde o jogo contra o São Paulo e víamos nas reportagens os torcedores gritando no meio da rua, fazendo festa. Vendo aquilo ali a gente sentia que a torcida estava motivada e isso era muito bom pra gente. A gente sabia que se a gente fosse campeão, a festa não seria só nossa: metade de Curitiba estaria vibrando com a gente.

Você tem sonho de jogar fora do Brasil?
Eu tenho um sonho de jogar na Europa. Para jogador, a Europa está sendo muito bom, principalmente na parte salarial. Antigamente, você jogava muito bem no Brasil e ganhava muito bem. Hoje em dia, há uma diferença muito grande entre o que se paga no Brasil para o que se paga na Europa.

Como você investe o seu dinheiro?
O meu dinheiro eu procuro sempre investir na minha família. O que a minha família pede eu estou comprando. Inclusive agora eu estou comprando uma casa para os meus pais lá na minha cidade. Por incrível que pareça, eu não tenho aquele salário alto mesmo. Eu tenho consciência de que se eu sair do Atlético Paranaense eu vou ganhar muito mais. Por isso eu tenho de jogar bem aqui, fazer o meu pé-de-meia para quando sair daqui estar com moral para jogar bem em outro time.

A carreira de jogador de futebol é muito curta. Apesar de ser muito jovem, você já pensa no que vai fazer quando parar de jogar?
Esses dias eu estava pensando nisso. Eu sei que a carreira é muito curta e vai chegar uma hora que vou parar de receber e o dinheiro vai acabar saindo. Eu estava vendo isso, acho que vou procurar fazer algum curso, voltar a estudar para poder trabalhar em outra profissão. Eu tenho a consciência de que quando eu parar eu não vou querer continuar no futebol. Pra mim não vai ser bom ser técnico, nem dirigente. Eu quero ficar sossegado, poder descansar. Pelo pouco tempo que eu estou no futebol eu já senti que essa carreira é muito desgastante e que você se envolve realmente. É só bola, bola, bola, não sobra tempo pra nada.

[O meu dinheiro eu procuro sempre investir na minha família. O que a minha família pede eu estou comprando.]

Esses dias o Leonardo deu uma entrevista dizendo que ele nunca foi craque quando garoto. E você, já impressionava desde moleque?
Eu era mais ou menos na média, mas o pessoal falava que eu teria grandes chances de poder ser jogador de futebol se eu me dedicasse. Mas nunca falaram que eu seria jogador com certeza, só pelo meu talento. Eu sempre soube que precisava me aplicar, me dedicar e obedecer quem pudesse passar uma experiência para mim.

O jogador de futebol tem um papel social muito importante, especialmente no Brasil. Você não acha que os jogadores deveriam levar mais a sério essa função de servir de exemplo para os mais jovens e fazer um pouco mais para o social?
Eu sei que todos os meninos hoje se espelham num jogador de futebol. Então tem que dar exemplo, passar o que é de bom. Por exemplo, eu não tive muito estudo, mas eu também não posso chegar para um garoto e falar para ele largar os estudos e se dedicar só ao futebol porque isso vai dar uma carreira para ele.

Você estudou até que série?
Eu fui até o 2° ano do 2° grau. Mas eu senti as portas do colégio se fechando para mim em função do futebol. Eu não tinha mais tempo para ir ao colégio. Era só viagem, concentração, jogo. Hoje eu penso que seria bom se eu pudesse ter estudado mais naquela época.

Mas no Atlético isso é diferente. O clube dá todo suporte para os jogadores das categorias de base.
Realmente, no Atlético é muito bom. Inclusive eu vim pra cá na oitava série. Eu fiz o segundo grau enquanto jogava pelo Atlético.

Você gosta de morar em Curitiba?
Gosto. Vai ser difícil para eu sair daqui (risos). Se eu sair daqui, vou ter muita saudade. Eu me adaptei muito a Curitiba e meus pais gostam muito daqui também. Eu penso em um dia vir morar aqui, apesar de que eu gosto muito da minha cidade também. Lá é o meu cantinho, onde eu fico muito tranqüilo.

Como você avalia a briga entre as Ligas e a CBF? Como jogador, você prefere disputar uma Liga Regional ou um Estadual?
É difícil falar. Como jogador, você pensa no Brasileiro. Você quer que tenha o Brasileiro para poder jogar e aparecer. Agora, esse negócio da Liga a gente não sabe se vai dar certo. O problema é que atrapalha todo o calendário. Atrapalhou até o nosso começo de temporada neste ano.

Você tem o costume de guardar recortes de jornais e fitas de jogos em que você tenha participado?
Guardo sim. A minha noiva faz um álbum com tudo para mim, reportagens do Atlético, da Seleção. Até minha irmã guarda muita coisa, desde que eu comecei.

Você tem alguma dificuldade para manter o peso?
Não, pelo contrário (risos). O pessoal até pega no meu pé porque eu como bastante e todo mundo queria comer o tanto que eu como. O pessoal fica de férias e volta acima do peso. Comigo é o contrário. Eu volto muito abaixo do peso. Daí tem de fazer aquele trabalho para recuperar o peso.

Você costuma ler notícias sobre suas atuações em jornais esportivos?
Eu procuro não ler, nem quando eu estou bem, nem quando estou mal. Porque quando você está bem, é bom ligar a televisão e ver um comentarista falando bem de você ou ler um elogio no jornal. Mas quando você está mal, aparece alguém xingando, então eu procuro nem ver. Minha irmã até vem me mostrar alguns recortes de jornais, mas eu nem leio direito. Só vejo o título, dou uma olhadinha e beleza. Não vou ficar na euforia só porque estão falando bem de mim. Não adianta nada você ler uma matéria falando bem de você e entrar em campo pensando naquilo porque você vai acabar se influenciando e jogando mal.

Como você avalia a questão do Nem, que decretou uma greve de entrevistas para a imprensa?
Aí é problema dele. O Nem é um grande jogador. A confiança que ele me deu no ano passado para eu jogar ali no meio-campo foi muito boa. Ele orientava muito a gente. Ele é o maior líder do elenco. Se ele falar alguma coisa para qualquer um ali, o cara vai procurar fazer o que ele pediu. Então eu respeito muito ele nessa decisão. Eu sei que quando ele estiver bem, com certeza ele é o melhor homem de sobra do Brasil.

[No começo eu fiquei meio assim, fiquei dizendo que não tinha nada a ver. Agora eu até gosto que me chamem de Xaropinho.]

Como surgiu esse apelido Xaropinho?
Saiu uma foto minha na capa do Lance! e eu estava sorrindo. Aí o Bolinha e o Lobinho, que têm mania de ficar zoando, pegaram e desenharam um bigode, afinaram minha orelha, colocaram um microfone na minha mão e escreveram: “Rapaz!”. Isso ficou na porta do vestiário e todo mundo que ia chegando ia falando: “Olha o Xaropinho”. No começo eu fiquei meio assim, fiquei dizendo que não tinha nada a ver. Agora eu até gosto que me chamem de Xaropinho, até a torcida me chama assim, já virou até Xarope.

Qual é o seu principal defeito?
Dentro de campo, meu principal defeito é o cabeceio. Sou muito ruim no cabeceio.

Você treina para melhorar isso?
Treino, mas não adianta, não é muito a minha área. Até porque eu não sou aquele jogador que está ali na frente toda hora. Então eu não tive essa preparação quando era pequeno.

Mas recentemente você deu cabeçada com perigo num jogo do Atlético, não?
Isso, foi no jogo contra o Tubarão. O Fabiano cruzou e eu cabeceei. Mas eu nunca fiz um gol de cabeça, desde quando era Júnior.

E a sua melhor qualidade, qual é?
Acho que é o passe. Eu procuro errar o menos possível.

Perfil

Nome: José Kleberson Pereira
Data de nascimento: 19/06/79
Local: Uraí (Paraná)
Estado civil: solteiro
Hobby: videogame
Prato preferido: quiabo
Carro: Cherokee
Gênero Musical: pagode
Filme: Homens de Honra
Ídolo fora do futebol: Guga
Ídolo no futebol: Pelé
Mulher bonita: Priscila, minha noiva
Momento de tristeza: preconceito
Momento de alegria: quando eu faço um gol
Melhor jogador de todos os tempos: Pelé
Melhor jogador da atualidade: Figo
Vitória inesquecivel: Atlético 4 x 0 Flamengo (Brasileiro de 2001)
Virtude: gosto de zoar muito os outros
Defeito: zoar muito os outros
Sonho: ser pentacampeão
Atlético em uma palavra: amor
Seleção Brasileira em uma palavra: paixão



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