18 mar 2004 - 18h11

Opinião: “Calma lá!”

Já era esperada a decisão da diretoria. Todos pressentíamos o que vinha pela frente. Mas quando decretou-se a tabela de preços e divulgou-se os planos de uso da Arena, foi como que uma bomba atômica caísse em meio a maior torcida do estado. Nas conversas e nos sites, sente-se a radiação.

Na maioria, indignação. Em outras, emoção. Em algumas, desespero. Um site que também cobre o CAP, chegou a colocar tarjas pretas sobre nosso escudo, o que para mim é uma amostra de irracionalidade e falta de respeito com o nosso símbolo. Mas é uma forma de expressão e deve ser respeitada. Muitos dizem que não irão mais a jogos. Outros, que acabou a paixão. Que a torcida morreu. Não é bem assim. Acho que o amor ao Atlético supera valores monetários. E que, passado o susto, tudo irá se encaminhar para a normalidade.

Sentiremos a realidade no Campeonato Brasileiro que logo se iniciará. E não imagino que seja muito diferente do que foi nos anos passados: estádio com menos de um quarto, às vezes um quinto de ocupação. Em jogos contra Coxas, Corinthians, quase 20.000 pessoas. E jogos contra Ponte, Criciúma, Juventude, Pouco mais de 4.000. No final, somando tudo e dividindo-se pelo número de jogos, umas 9.000 pessoas de média. Boa nos estado, pequena nacionalmente. Não ficamos nem entre os dez com maior público. Isso significa que poucos vão ao estádio sempre. E entre esses freqüentes, a minoria é o chamado “povão”(denominação discriminatória, preconceituosa e racista na minha opinião). O “povão”, se fosse aos 23 jogos em casa do Brasileirão, gastaria R$ 345,00 a 15 reais. Quem do povão tem o poder de gastar tanto com seus 1, 2, 3 salários mínimos? Mais o ônibus? Mais um “dogue”? Mais a pinga e o refri pra fazer o “tubão”? Acho que a maioria das pessoas freqüente na Arena é o pessoal da classe média, injustamente chamadade “elite”. Gente trabalhadora e que dá valor ao dinheiro, também. Que sua para ganhar o pão.

A discussão não é “povão” fora ou “povão” dentro. O povão no Brasil sempre esteve para fora de tudo. Não tem grana para freqüentar todos os jogos de um campeonato. E não é culpa do Atlético. Até a torcida do Flamengo, considerada a maior do país, do “povão”, tem borderôs ridículos. Só dá saltos nos clássicos, quando uns 60.000 vão a campo. E não dá para fazer futebol neste país dependendo de ocasiões esporádicas, como a renda dos grandes jogos. Está caro o futebol, gente. Vinte mil reais é salário baixo em clube grande. Um sujeito como o Alan Bahia, de uns 20 anos, anda de Audi. Ou se toma uma medida para se ganhar dinheiro e aplicar dinheiro no futebol ou se terá grandes elencos e um mar de dívidas ou elencos médios para baixo e contas razoavelmente equilibradas. Mas elenco médio, técnico médio, estrutura média, estádio médio, médico, fisioterapeuta, preparador fisico, nutricionista médios não ganham títulos. Ou raramente. E títulos é que aumentam torcida. Dentro e fora do estado.

Se tivermos que fazer protesto, que seja antes de um Atletiba no chiqueiro verde. Pagar 15 ou 20 reais para entrar naquela espelunca fétida? Isso é roubar dinheiro. No Atlético temos o melhor que o futebol brasileiro tem a oferecer em matéria de conforto, praticidade e respeito ao torcedor. Um pioneirismo que rompeu todas as barreiras da inércia que é marca registrada do futebol brasileiro.

Acho que com calma poderemos ver essa situação se regularizar. Tem muita gente reclamando e não tiro a razão. Foi um baque. Foi um grande aumento, de um preço defasado. Mas foi para o bem, tenho certeza. Com receita, mais à frente, poderemos fazer grandes times, vencedores. Papar muitos títulos. E a torcida estará lá, como sempre fez, lotando a Arena nos grandes jogos, contra os times de São Paulo, contra o Flamengo e nas Finais. A maioria, escolhendo, como sempre fez, quais jogos assistir. A metade, pagando meia. E o Atlético oferecerá a todos o melhor serviço e grandes times. Isso, daqui para diante, a torcida deverá cobrar: grandes times e títulos. É uma cobranca justa, nos padrões do mercantilismo. Paga-se e recebe-se.

Quem disse que nunca mais irá a Arena, tem tudo para morder a língua. Não prometam aquilo que não vão fazer. Calma lá! Chega de esquizofrenia. O Atlético está no coração e cedo ou tarde todos que puderem estarão dispostos a ajudar o Rubro-Negro. O Atlético foi, é, e sempre será de sua torcida. Mais uma vez, o tempo mostrará.

Juliano Ribas
Colunista da Furacao.com

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