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19 abr 2004 - 17h04

Um desagravo à imprensa (e ao torcedor)

Após todas as inovações e improvisações que fez no Atlético ao longo da temporada, o ex-técnico Mário Sérgio deixou a Baixada atirando farpas contra a imprensa local, com quem, segundo ele, não vinha tendo um bom relacionamento.

Pois vamos aos fatos. Primeiro falemos de futebol e de Mário Sérgio Pontes de Paiva. Depois falemos um pouco da imprensa local.

Futebol é uma coisa simples. Feijão com arroz. Não há mais nada para inventar. Joga-se com os pés, sob a supervisão do cérebro. E estimula-se o atleta a cada dia, para que ele tenha garra e vontade de vencer. E sustenta-se o psicológico, para que a rapaziada não amarele em face de dificuldades muitas vezes inexistentes. Vejam o Ricardo Gomes. É bom treinador. Fez tudo simples no Pré-Olímpico. Levou uma turma promissora. Mas não estimulou seus comandados. Eles jogavam sem saber pelo quê. E não sustentou o psicológico da moçada: amarelaram frente ao Paraguai, que não é e jamais será o supra-sumo do futebol sul-americano. É apenas uma equipe aguerrida, que entrou sem medo de jogar contra um Brasil cheio de pipoqueiros. Pipocaram, sim. E a culpa, em um caso desses, é sempre do comando, que não foi capaz de trabalhar a cabeça da garotada.

Falei em medo. Importante dizer que há dois limites estabelecidos para o psicológico dentro do futebol: o temor e o excesso de confiança. O meio termo é o ideal para jogar. O já ganhou conseguiu tirar a Seleção Brasileira da final da Copa de 82 naquela triste tarde em Sarriá, quando a Seleção Italiana, praticamente morta, fulminou os Canarinhos com três gols de Paolo Rossi. O time simplesmente tinha Oscar, Luizinho, Cerezo, Falcão, Zico, Sócrates e Éder… Telê simplificou tudo; seus comandados jogavam por música. Apenas esqueceu de dizer que nada estava ganho e que a Itália poderia ser perigosa…Vamos ainda mais longe: o mesmo excesso de confiança, o mesmo já ganhou de 1982 ocorreu no Maracanã, na final de 1950, quando o Brasil perdeu o título para o Uruguai porque jogou de salto alto. Importante vislumbrar o outro lado: Uruguai, em 50, e Itália, em 82, vieram sem medo. Foram aguerridos, aplicados e se superaram. A garra transformou-se em uma determinação cada vez maior, fator que levou aquelas duas maravilhosas seleções ao título máximo.

Exemplo ainda mais clássico é aquele do Atlético de 1993, cujo elenco, totalmente alquebrado por uma epidemia de gripe, foi ao Belfort Duarte, atual Couto Pereira, e ali infligiu humilhante derrota ao Coritiba. A garra, o espírito de luta, a tradição do sangue forte, de quem não teme a própria morte, falou mais alto que o vírus influenza e ainda mais alto do que os donos da casa, que estavam certos da vitória contra um esquadrão de piréticos. Por outro lado, o temor, que podemos chamar de já perdeu, também traz a derrota. O exemplo foi o fatídico dois a um para o Coritiba na primeira partida da final. Uma derrota do medo.

Se essas situações acontecem quando o comando técnico não inova e nem improvisa, o que dizer dos muitos aventureiros que perambulam pelo futebol brasileiro envergando o importante status de técnico apenas e tão-somente porque foram jogadores? Ora, Pelé foi o maior do mundo e nem por isso aventurou-se a ser técnico. Mário Sérgio, é justo que se diga, foi craque, foi fera, foi Campeão do Mundo, foi mágico com a bola nos pés. Contudo, também é justo que se diga, nunca foi exemplo de conduta extra-campo. Estava mais para Serginho Chulapa, Edmundo e Romário do que para Pelé, Sócrates, Zico ou Toninho Cerezo. Após pendurar as chuteiras, optou por uma breve carreira de comentarista esportivo, na qual encontrou um certo êxito. Tempos depois, estreou como técnico. Na época, teve o apoio incondicional da equipe da Bandeirantes. Luciano do Valle, Rivelino e outros integrantes daquela emissora fizeram muito para promover e estimular o trabalho do Mário Sérgio.

Com fama de durão, teve uma passagem pelo Corinthians e, mais atualmente, pelo São Caetano. Nunca ganhou nada. Nem Taça Cidade de São Paulo. O motivo de não ganhar nada não é místico e tampouco simplista: não é azarado e nem incompetente. Acho até que ele conhece bastante. O problema é que o Mário Sérgio é extremamente defensivo e sempre quer inovar. Quer, com seu ego descomunal, ser a estrela, ser diferente. Entretanto, a única diferença que cria é conduzir os times que treina ao caminho da derrota.

Como disse no início, futebol é simples, é feijão com arroz, com estímulo ao espírito de luta e ao lado psicológico dos jogadores. E, também, aplicação tática. Forma-se uma equipe, treina-se a equipe, adquire-se conjunto e entrosamento. Cada um acaba sabendo como se posicionar e o que deve fazer a cada lance do jogo. Caso o técnico comece a demonstrar um cuidado excessivo com a defesa, com a marcação, e escale muitos volantes e zagueiros, é evidente que passará aos jogadores uma impressão de insegurança. E caso use uma equipe base durante toda a semana, para escalar outra diferente ao chegar ao jogo, certamente está fadado ao fracasso. Foi o que aconteceu no primeiro Atle-Tiba da decisão. A equipe considerada titular durante toda a semana não entrou em campo. E veio o fracasso, pois o treinador demonstrou a seus comandados que tinha medo do Coritiba e do Couto Pereira. E isso, inevitavelmente, passou ao psicológico da equipe. Basta analisar o descontrole do Vânderson quando aplicou uma cotovelada desnecessária no Rodrigo Batatinha. Tinha a bola dominada, estava saindo para o jogo! Um absurdo! O Atlético, com cara de Arranca Toco de Covil das Pedras, foi ao Alto da Glória como um timeco que chega a Londres para enfrentar o Arsenal. O Coritiba – e parabéns pelo título que o Mário Sérgio lhe entregou – não é tudo isso, não. Não conseguiu chegar à segunda fase da Libertadores em um grupo de questionável qualidade técnica. De equipes tradicionais, algumas até campeoníssimas, é certo, mas que atualmente não praticam o melhor de seu futebol.

Veio a partida final. O Coritiba não entrou em campo com medo da Baixada. E o Mário Sérgio, jogando em casa, nem assim resolveu ousar. Era jogo para Jadson, Fernandinho, Adriano Gabiru, Ilan, Washington e Dagoberto. Era jogo para usar a velocidade do Rena. Para entrar com o André Luiz na lateral-direita. Era jogo para mexer com o emocional da moçada. Era jogo para arrebentar, com o lema: em nossa casa, mandamos nós. Era jogo para golear a mediana equipe do Coritiba, a exemplo do que fez o Sporting Cristal há semanas atrás. Era, enfim, a oportunidade de realizar uma exibição de vencedor, de buscar o ataque e a glória maior do futebol, que é o gol.
Infelizmente não foi assim. E depois de todo esse trabalho mal elaborado, durante o qual recebeu inúmeras e acertadas críticas da imprensa, Mário Sérgio deixa o Atlético declarando que o clima entre ele e os jornalistas estava insustentável…
Pois falemos da imprensa local. Excluindo alguns fanáticos, temos excelentes locutores e comentaristas. Carneiro Neto, por exemplo, é um ícone do jornalismo esportivo. No programa Camisa 12, uma semana antes do primeiro Atle-Tiba, declarou que Antonio Lopes dera um padrão de jogo ao Coritiba, o que, não obstante ser triste, é verdadeiro. Apesar de profissional, Carneiro Neto nunca negou sua paixão pelo Rubro-Negro. Criticou o estilo de Mário Sérgio por mostrar-se preocupado com os destinos do Atlético. Estava no seu direito de falar, tanto na condição de comunicador quanto na de torcedor.

Eu poderia ainda citar outros jornalistas de reconhecida competência. Paulo Mossemann, o Foguetinho, meu particular amigo, não obstante seja torcedor Coxa, pois a paixão clubística deve ficar de lado no momento em que deparamos com o ser humano, não importa a cor da camisa que ele veste; Sidnei Campos, de quem tive a honra de ser aluno; Fernando Gomes, Sicupira, o nosso eterno camisa 8, Walmir Gomes e todo o pessoal da Mesa Redonda…e muitos outros que fazem do futebol a razão de suas vidas. Posso garantir que ninguém, tenha sido aqui mencionado ou não, jamais veicularia uma notícia com o fim de prejudicar o ex-técnico do Atlético Paranaense. Se a imprensa de modo geral ou algum comentarista em particular algum dia lançou declarações que ofenderam ou melindraram o senhor Mário Sérgio, certamente assim foi feito para que se divulgasse a verdade.

Mário Sérgio deve lembar que no início de sua carreira como técnico, a imprensa paulista, especialmente a Bandeirantes, foi a sua grande parceira, a sua mais leal patrocinadora. Como, então, volta-se agora contra a imprensa, declarando que não foi demitido, que saiu do Atlético porque quis, pois seu relacionamento com repórteres e jornalistas está desgastado? A mídia é a grande vilã do trabalho medíocre que realizou no Rubro-Negro? Sou do tempo em que um homem de brio assumia integralmente suas culpas. Até mesmo porque assim fazendo acabava angariando o respeito de todos, torcida, amigos, inimigos, parentes e vizinhos, e não apenas da imprensa. Encontre o caminho, Mário Sérgio, pois o Atlético, graças aos céus, está livre de você. Em primeiro lugar, realize um trabalho um pouco mais simples, sem inovações e sem improvisações, com uma postura que transmita vontade de vencer e coragem aos seus comandados, com menos retranca e mais ofensividade. Em resumo: que o zagueiro jogue de zagueiro, o atacante de atacante e o ala, de ala, e todos sempre buscando o objetivo maior do futebol, que é o momento mágico do gol. Em segundo lugar, uma vez que ninguém é o dono da verdade, deve absorver melhor as críticas. Em terceiro e mais importante, deve respeitar os profissionais da imprensa, pois, como diz o Professor Sidnei Campos, respeito é mercadoria de troca.

Finalizando, esse mesmo respeito foi o que faltou para com o torcedor, sem o qual – e é bom que a Diretoria do Atlético também o saiba – time algum consegue sobreviver.

Deixando, como fechamento, uma declaração tão simples quanto o próprio futebol, registro aos senhores Petráglia e Fleury que a torcida está pedindo Luxemburgo. Por favor, não inovem e não improvisem. Façam o feijão com arroz e tragam o homem, pois com o ingresso no patamar atual é possível trazer até mesmo o Menotti. Vocês estão tratando das coisas do Atlético. O Atlético, como fenômeno de massa e como pura paixão que é, pertence aos torcedores, mesmo que estes tenham de pagar R$ 30,00 para vê-lo jogar. É perigoso improvisar e inovar com coisas assim grandiosas. Todos criticam e apontam os erros, doa a quem doer. Que o diga o senhor Mário Sérgio Pontes de Paiva.



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