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20 abr 2004 - 20h14

A ousadia e a burrice

No temível dia 18 de abril, aos 30 minutos do segundo tempo, eu senti que nós atleticanos estávamos diante de um dos momentos mais tristes de nossos 80 anos de história. O jogo estava 3×2, e a minha certeza no título era plena até então – com direito a gestos obscenos e gritos de é campeão em direção a torcidinha ervilha presente na Arena. Mas não é que nosso querido técnico Mário Sérgio resolveu fazer um agrado – com o chapéu alheio, que isso fique bem claro – ao Coritiba e sua torcida, com mais uma de suas “ousadias”? A placa se levantou e o número oito ficou bem diante dos meus olhos: era um prenúncio do fim. Nada mais restava, a não ser me levantar de minha cadeira e voltar para casa – e torcer para que todos os meus amigos e conhecidos ervilhas não me encontrassem até o outro campeonato. Não deu outra: o mediano Tuta cabeceia uma bola certeira no gol de Diego, em uma jogada bem executada, e garante o título do Coxa. Fiquei na Baixada por puro respeito aos nossos jogadores, que quase nada podem fazer quanto as “ousadas” alterações táticas de MS.

Esse acontecimento respondeu uma pergunta inquietante, que me perturbava desde que o sujeito voltou para a Baixada, no início do ano passado: afinal, Mário Sérgio é ousado ou é apenas burro? Simples, os dois. Ele é um burro ousado. E teimoso, diga-se de passagem.

Em primeiro lugar, vamos aos fatos: a ousadia sempre foi indispensável para o futebol, afinal, quem joga no feijão com arroz entra sempre em desvantagem, pois qualquer técnico em sãs condições mentais sabe que táticas empregar nesse caso, tanto para atacar quanto para defender. Essa ousadia levou muitas equipes a grandes resultados: a Holanda, apenas mais um país europeu com um futebol mediano – nada superior a uma Bélgica ou uma Dinamarca – até a década de 70, quando entrou para a história com o carrossel holandês, formação tática que surpreendeu o mundo todo e levou o time a dois vice-campeonatos seguidos em Copas do Mundo. Parreira ignorou todos os corneteiros de plantão, montou um time totalmente defensivo com Dunga e Mauro Silva de cabeças-de-área e deu ao Brasil o título pelo qual nós esperamos por 24 anos, o tetracampeonato mundial. Mais perto de nós, aqui na Baixada mesmo, temos exemplos claros: o agressivo time de Geninho que ganhou nosso título mais importante, por exemplo. São esses times que fazem um amante de futebol feliz.

Mas todo técnico ousado precisa saber de algumas regras não-escritas sobre o jogo de futebol. Devia existir um manual sobre isso, para pessoas como o Mário Sérgio por exemplo, e aqui fica a idéia para alguém que queira ganhar um dinheiro fácil – afinal, é só escrever o óbvio. Uma dessas leis imaginárias diz: a retranca é aceitável, mas nunca acabe com a força de ataque do seu time sem um ótimo motivo (o jogo está 7×0 e o seu craque está pendurado, ele acabou de ter a perna quebrada por um volante grosso, etc.). Outra diz que, para se ter um ataque forte, é imprescindível ter um bom armador. Juntando uma frase com a outra, a única forma de se jogar na defesa e fazer um gol sem precisar de um pênalti bobo ou de um adversário estilo Íbis é tendo um armador de qualidade. E, qualquer que seja o placar, mais um gol sempre é muito importante. Até uma criança que já tenha ouvido falar em futebol sabe disso.

E quem é esse jogador no Atlético? Jádson, e apenas ele. Fernandinho tem talento, mas não consegue levar o time nas costas, como o seu companheiro de equipe leva. Seguindo o raciocínio lógico, Jádson era o único, sim, o único no time inteiro que não poderia sair quando o time vencia por uma vantagem de um gol. Até porque um gol do adversário pode acontecer sobre qualquer esquema defensivo, por mais forte que ele seja.

Outro detalhe: o jogador que entrou no lugar de Jádson – André Luiz, que é, de fato, um jogador de qualidade – era um lateral-direito. Ora, o Fernandinho não estava fazendo a função de lateral-direito muito bem nesse jogo? Faz todo o sentido dizer que, contra uma equipe como o Coritiba, que gira em torno de um lateral-esquerdo, o ideal é se ter alguém com características fundamentalmente defensivas nessa posição. Mas porque então o André Luiz não começou jogando? E, uma pergunta mais pertinente: o Mário Sérgio estava fazendo o quê quando o tal lateral-esquerdo, Adriano – me perdoem irmãos rubro-negros, mas esse sujeito joga muita bola, com certeza merecia estar em um time infinitamente superior -, saiu de campo machucado? Estava tomando uma cerveja no saguão do estádio? Simplesmente a substituição mais inexplicável que eu já vi.

O resultado está aí: 3×3, troféu na mão dos ervilhas, buzinas tocando “ó glorioso” pela cidade inteira, um tabu de 26 e outro de 80 anos quebrados, vandalismo na Baixada, e tudo mais que nós não esperávamos quando estávamos na fila da entrada tomando chuva esperando algumas horas para gritar “é campeão”. O gol sairia com ou sem Jádson, e, mesmo com sua presença em campo, nada estava garantido. Mas pelo menos nós poderíamos ter reagido, mostrado quem somos, o Furacão, um dos maiores clubes do país e, sem sombra de dúvidas, o clube mais representativo do Paraná. Morrer na praia como uma baleia encalhada, sem forças para lutar, chega a ser ainda pior do que perder o título. Um sarcástico “obrigado” ao Mário Sérgio, o burro ousado, que agora é o mais novo herói do Couto Pereira. E o mais novo número nas estatísticas de desempregados do futebol brasileiro.

Não vi as cenas de violência e vandalismo que ocorreram no Caldeirão, estava no segundo anel e fiz questão de sair no exato momento em que o juiz decretou o término da partida. Mas posso dizer uma coisa: elas não foram gratuitas. Foram, sim, o resultado de uma gestão preconceituosa e incompetente da atual diretoria do clube, que chama seus financiadores – a Claro? A Try On? Não, os atleticanos… vocês se lembram que existe no futebol uma coisa chamada “torcida”? – de marginais, que impede de entrar na Arena qualquer um que não tenha 30 contos no bolso disponíveis todo domingo do ano, que investe o dinheirinho suado do atleticano em bobagens como uma equipe de fórmula Renault e não contrata os reforços que a equipe de futebol tanto precisa. Não adianta nada chamar os torcedores de “animais” e não ouvir nenhuma de suas reclamações. É óbvio que eu não concordo com a depredação de um de nossos maiores bens, mas a forma de lidar com esse problema não é simplesmente atacar a torcida e ignorar seu grito, e sim fazer o possível para evitar que isso ocorra novamente: ou seja, fazer com que o Atlético seja um reflexo dos anseios da torcida, e não da vontade de alguns poucos engravatados que vêem no maior clube do Sul um próspero negócio.

E, sinceramente, o sujeito que inventou o estatuto do torcedor deve ter se inspirado em algum manual para a organização de campeonatos de tênis. Qual torcedor brasileiro deseja ter seu estádio sem uma arquibancada vibrante para levantar sua equipe? Nenhum, simplesmente nenhum.



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