Nos idos (nem tão idos assim) da era Pinheirão tudo era diferente. Meu único sapato me conduzia, aos domingos ou quartas-feiras, aos gélidos e inóspitos degraus daquela arquibancada. Ou ônibus, ou cerveja e eu sempre escolhia uns goles, até porque andar ou pegar carona com algum fanático era sempre mais emocionante.

Volta e meia o pau da bandeira encontrava o olho atento ao jogo. Levava dois dias pra voltar a enxergar mas sempre conseguia ver o espetáculo que os rubro-negros, dentro e fora de campo, eram capazes de protagonizar.

Ah! Hoje não. Hoje eu tenho carro do ano, trabalho em uma grande empresa e sento nas cadeiras (bem, agora todos sentamos). Hoje, posso pagar trinta reais no ingresso, posso pegar um avião em Maringá só pra levar meus moleques ao campo. Hoje, assisto ao jogo no melhor estádio do Brasil sem me preocupar com os “miados” do churrasquinho.

Quer saber!? Que saudade do Pinheirão! Porque quando eu era pobre eu era feliz, pois tinha quinze, trinta mil atleticanos comigo, sempre. Hoje, sou rico! Eu e mais duas mil almas que, infelizmente, fazemos parte de uma realidade infinitamente distante da que vive 95% da população do nosso país.

Pelo menos me resta um consolo. Não preciso mais me mudar pra Espanha pra torcer pra um time de “elite”. Hoje o meu rubro-negro faz o trabalho sujo, e deixa de fora da Arena todas as mazelas do nosso páis.

A culpa, afinal, é minha! Se eu não tivesse dinheiro pra comprar camisas oficiais, seu eu não pudesse jantar numa bela churrascaria e não pudesse gastar até cento e vinte, cento e cinquenta reais por mês em ingressos nada disso teria acontecido.