6 maio 2004 - 12h08

O crítico rubro-negro apaixonado

O advogado e colunista Augusto Mafuz conversou com a equipe Furacao.com poucas semanas antes do Atlético completar 80 anos de idade. Um dos maiores críticos de Mário Celso Petraglia, Mafuz acha que o grande problema do dirigente é a falta de gratidão com outras pessoas que ajudaram a reconstruir a história do clube. Mafuz também conta algumas casos do rádio paranaense, do receio que teve de viajar a São Caetano, do esfriamento da torcida, e de um crédito que o Atlético tem com a Federação Paranaense de Futebol por causa da briga envolvendo o Pinheirão. Confira a entrevista exclusiva:

MAFUZ TORCEDOR

Quando é que você começou a torcer pelo Atlético?
O sentimento você não sabe qual é a origem, do que nasce. Apenas vem à tona e isso foi quando vim de Guarapuava em 67. Não me lembro a razão pela qual me aproximei do Atlético. Talvez por influência do meu pai que era flamenguista e no interior estimulavam muito mais a torcida por grandes clubes. A verdade é que já em 68, na decisão com o Coritiba, quando fui com um primo meu, na Vila Capanema, e quando o Coritiba empatou e ganhou o título nós viemos em silêncio até a Princesa Izabel. A partir dali eu realmente tenho uma relação muito forte com o Atlético, que se acentuou no título de 70, quando já trabalhava em rádio na rádio Guairacá e para Tribuna do Paraná.

Esse título de 68 que o Atlético perdeu com um gol do Paulo Vecchio (o Atlético ficou 12 anos sem título, de 58 até 70). Mesmo com o Rubro-negro passando por períodos de dificuldades e não ganhando nada, o sentimento de amor foi grande?
Exatamente. Muitas vezes o amor por um clube independe da relação de títulos. É uma circunstância que no momento lhe desperta. Interessante que a perda do título de 68 me incentivou ainda mais a torcer pelo Atlético.

O Atlético ganhou o título em 58, em 70 e depois em 82, foram 24 anos em que ganhou apenas três títulos…
Coincidência ou não, o Atlético nos anos 80, em que ganhou em 82, 83, 85, 88 e 90, o clube começou a ter títulos em seqüência depois que essa turma da retaguarda assumiu, o Moura, o Valmor, o Mário também participava, não da retaguarda, mas tinha uma relação com eles, e depois quebrou a hegemonia principalmente depois que o Atlético saiu do Couto Pereira e foi pro Pinheirão. Isso influenciou muito nas conquistas e no fim das conquistas dos coxas.

Como começou esse grupo da Retaguarda?
Eu não me recordo o ano, mas começou com o Valmor, que estava vindo para Curitiba quando ouviu no rádio que o Atlético não tinha meia para treinar. Ele ficou aborrecido com aquilo e reuniu uma turma e passou a ser a retaguarda atleticana e quem os levou para dentro do clube foi o Aníbal Khury. Essa turma foi oposição ao Aníbal. Na época eles apoiaram o Pedroso de Moraes para presidente do Atlético contra o Aníbal. O Aníbal ganhou a eleição, mas levou essa turma pra dentro do Atlético e nunca mais saiu de lá.

Você sofreu muito pelo Atlético?
Sofri.

Quais foram os momentos de maior sofrimento pessoal e pela fase do time?
Pela fase do time, não tive muito sofrimento pessoal porque passou a ser uma coisa normal diante da vida do Atlético. É verdade. Por exemplo, o título de 1972. O Atlético tinha um time excepcional, fez uma campanha maravilhosa, não podia perder. Tanto que até hoje é um time que sei de cor. Não ganhou nada, mas sei de cor, que era o Picasso, Cláudio Deodato, Di, Alfredo e Júlio, no meio-campo era o Sérgio Lopes, Valtinho e Sicupira e no ataque era o Buião, o Ademir Rodrigues, que fraturou a perna em Ponta Grossa, o Kelé e o Nilson Borges. E aquele título foi uma injustiça o Atlético ter perdido para o Coritiba…

Houve influência da arbitragem?
Não, nessa decisão não, porque foram três jogos que terminaram 0 a 0. Teve influência da sorte, do azar, embora não acredite nisso, mas o Atlético dominou os três jogos. Dominou o primeiro jogo…não, aí está o meu equívoco, foi 1 a 0, gol de Kruguer no primeiro jogo, logo depois o Valtinho perdeu um gol na cara. E nos segundo jogo o Atlético massacrou o Coritiba e nos minutos finais da prorrogação o Jairo tirou uma bola em cima da linha. Aquilo ali eu chorei e estava trabalhando em rádio. Foram várias situações de sofrimento porque o Atlético passou um período em que na ganhava nada. Depois veio o jogo contra o Flamengo em 83, que não se acreditava que o Atlético fosse reverter à situação. Quando Washington fez o primeiro e quando fez o segundo, ainda no começo do jogo, criou-se a expectativa de fazer o terceiro. Daí foi o resto do jogo aquele sofrimento, nós nem chegamos perto da área do Flamengo.

Tem uma história que corre de que o Hélio Alves pediu para o time segurar no intervalo. É verdade isso?
O Hélio pediu para segurar porque ele imaginou que o Flamengo fosse pra cima do Atlético. Só que o Flamengo não foi. É evidente que ficou aquele jogo no meio de campo.

Você falou que sua maior decepção foi em 72 e 83. Qual foi sua maior alegria?
Maior alegria no Atlético é quando as coisas estão perdidas e você ganha, a alegria é maior, porque você não tem esperança na vitória. Foi em 90, o título de 90. Primeiro na quarta-feira quando o Atlético ia perdendo de 1 a 0 e o Gilberto fez um sinal pro Dirceu e ele foi lá e empatou o jogo. Veio o segundo jogo, aquela linha de passes no gol do Berg. Pra mim aquele foi o grande título estadual do Atlético. Pela surpresa, ninguém esperava.

O Atlético de antigamente era mais apaixonante do que esse Atlético? Ou é o mesmo Atlético?
Era mais apaixonante, o tempo era outro. Hoje a torcida do Atlético praticamente vive no embalo dos Fanáticos dentro do estádio. Você imagine a Arena sem os Fanáticos. Torcedor do Atlético passa a ser uma torcida comum. Era mais apaixonante antigamente.

Qual o motivo desse esfriamento?
O futebol como paixão esfriou um pouco e aí não é só Atlético. De forma geral o futebol esfriou um pouco em razão de que o torcedor sabe que o esporte virou muito mercantilista. Passou do nível profissional para virar mercado.

Quem foi o técnico mais espetacular do Atlético?
O Atlético nunca teve grandes treinadores, nunca teve tradição de grandes treinadores. Por isso que a história vai contar que chega no Geninho e finaliza a história do treinador. Ele foi o melhor.

Como você assistiu a final de 2001?
Eu fui no primeiro jogo, tenho o ingresso guardado até hoje. Fui nos 4 a 2 e iria a São Caetano, tinha reserva, mas teve alguma coisa que mandou ficar. Eu fiquei com medo e ir para São Caetano.

Medo de sofrer?
Exato, a gente sabia que não iria acontecer, mas tinha aquele receio.

Qual foi o maior jogador que o senhor viu jogar no Atlético?
O maior eu não sei, não me lembro. Agora o mais importante eu posso dizer: Alex Mineiro. Ele foi o grande herói do título. Pode fazer seleção de todos os tempos. É ele e mais dez. Qualquer jogador dá para discutir, questionar, ter sua opinião. Mas ninguém pode discutir a importância do Alex Mineiro.

O que falta para o Atlético de hoje voltar a ser a mesma paixão que tinha antigamente?
Vou dizer uma coisa: o Petraglia esfriou o Atlético. Não quero entrar nas razões dele, mas ele esfriou o Atlético. A partir do momento em que optou pelo futebol-empresa, ele visou apenas lucro para o clube e aquele que visa apenas o lucro não atinge necessariamente o objeto do clube, que são conquistas e vitórias. Isso esfriou o Atlético e falta paixão ao clube. Falta o espírito.

Alex Mineiro é ídolo

Falta um diretor de futebol apaixonado pelo clube?
Exatamente, falta isso para o Atlético.

MAFUZ NO RÁDIO

Em 70 que você começou a trabalhar em rádio?
Não, eu comecei em Guarapuava em 67. Na Guairacá, em 69, fui lançado pelo Machado Neto, que na época era o grande narrador. Ele quem me deu a primeira chance.

Apesar de ser atleticano declarado, você cobriu por muitos anos o Coritiba profissionalmente. Como é que foi essa relação dentro do Coritiba sendo apaixonado pelo Atlético?
É que eles não sabiam que eu era atleticano. Esse foi o detalhe. Eu fazia cobertura do Coritiba e teve um Atletiba em que o centroavante do Atlético era um rapaz de nome Paulo Roberto, que fazia dupla com o Sicupira. Ele chutou a bola e entrou por fora do gol, pela rede do lado de fora. E o bandeirinha deu o gol. Aí ficou aquela confusão e quando confirmou o gol eu pulei e um fotógrafo da Tribuna flagrou e foi a foto da capa do dia seguinte. Aí o Coritiba tinha um lateral de nome Hermes, que era muito meu amigo, e recortou aquela capa da Tribuna e colocou na entrada do vestiário. No dia seguinte os jogadores foram brincar comigo, gozar de mim e tal e não deu mais pra esconder. E qualquer coisa que divulgava, mesmo sendo verdade, já diziam que fazia isso porque era atleticano. Isso foi uns três, quatro anos, mas eu tinha uma convivência boa.

Com o próprio Evangelino?
Com Evangelino já foi diferente. O Carneiro que sempre conta essa história. Numa véspera de Atletiba, teve uma reunião com o conselho deliberativo do Coritiba, e na época fizeram uma crítica ao Munir Caluf. Eu fui entrevistá-lo e não sei o que ele falou, fez uma crítica violenta ao Evangelino, deu aquela confusão, e o Evangelino foi querer saber o que havia acontecido. Disse que não devia satisfação e ele correu atrás de mim. Eu corri para as sociais do Coritiba e ele foi atrás. Aí que o Carneiro conta que eu disse “presidente, não vai ter um troço senão vão me culpar”.

Depois do Coritiba, você trabalhou na rádio como profissional do Atlético?
Não, passei a minha vida dentro do Atlético. Quando comecei, o primeiro clube que fui cobrir era o Pinheiros, e nesse aspecto eu agradeço muito o Durval Monteiro. Ele me ajudou no início de carreira. Quando o Durval Monteiro saiu da cobertura do Atlético, eu comecei a ter chance, mas não era titular da cobertura do Atlético, até que o Airton Cordeiro foi pra rádio Universo…

Com o Lombardi?
Não, o Lombardi não tinha vindo ainda. Era o Airton, o Carneiro, o Luiz Augusto, o Raul Mazza do Nascimento, e ele me levou para lá pra cobrir o Atlético. Foi em 71 isso. Recordo-me que em 72 que teve aquela série de sete jogos que o Atlético não podia perder, eu fiz todos os sete jogos, o Carneiro narrou, e o último jogo, em Bandeirantes, foi o José Luiz Datena, que o Carneiro tinha trazido pra cá. Na época ele era um gurizão e era narrador. Daí nunca mais saí e só deixei de cobrir o Atlético em 1990, quando passei a ser comentarista. Era uma cobertura diária, vivi o Atlético de manhã, à tarde, tive uma relação boa com todos os presidentes, briguei com todos eles mas nunca foi assim como acontece com o Mário Celso.

Por que você abandonou o rádio?
Porque eu não estava conciliando o rádio com a advocacia, não só questão de tempo, mas no meu jeito de ser, da minha forma de trabalhar, criava muito atrito no rádio e lá você tem que discutir um assunto e não dá pra pensar igual a uma coluna de jornal, em que você tem um computador, pode pensar, pode apagar, pode acrescentar. Então eu preferi sair da rádio.

O senhor acha que falta profissionalizar o rádio aqui no Paraná?
Ah, sim, o rádio no Paraná é o pior que tem no Brasil. Não existe nada pior no rádio.

Existe muito “rabo preso” entre os radialistas?
Eu nem diria o “rabo preso”, eu não iria ainda por esse campo. Mas eu diria que existe medo de assumir posição, por exemplo, quem vai comentar jogo no campo do Coritiba, não pode dizer que existe pênalti contra o Coritiba que corre o risco de apanhar, porque a cabine fica exposta e influi na opinião. Lá no Atlético é a mesma coisa. Você não pode criticar a diretoria ou especificamente o Mário Celso porque, como aconteceu com o Valmir Gomes, ele pode proibir de entrar. Não existe independência no rádio hoje por causa disso. Outra coisa: falta qualidade no nosso rádio.Eu sempre falo que respeito todos, mas, vou ser bem claro, que nos tempos antigos, até o Lombardi Jr., que foi o último grande narrador de ponta que nós tivemos, nenhum deles seria titular. Ninguém seria titular nas equipes que nós tivemos no passado.

Para Mafuz, o problema de Petraglia é a ingratidão

MAFUZ JORNALISTA

Você é um formador de opinião, tem uma coluna no maior jornal esportivo do Paraná. Como é que você recebe críticas de torcedores de outros clubes e até do Atlético, sendo que você é reconhecido como atleticano dentro de seu veículo?
Isso faz parte da vida de um jornalista. Se você tiver medo de críticas, você vira um jornalista comum. Tem que dar opinião independente. Porque a crítica que você faz, a análise que você já dá pra prever qual vai ser a reação.

Mas isso não te magoa de uma certa maneira?
Não, antigamente eu não absorvia muito, mas acho que o torcedor, desde que seja um limite de crítica, ele tem o direito de exercê-la, embora às vezes a gente receba alguns absurdos, mas de qualquer maneira é um direito que tem o torcedor.

Hoje você é conhecido como um dos maiores críticos da administração do Atlético. Por que ninguém o escuta?
Na verdade o Mário não escuta ninguém. Muita gente pensa que sou contra o Mário Celso e ele acha que tudo o que faço é de propósito por uma questão pessoal. O Mário nunca fez nada contra mim, não tenho nada pessoal contra ele. O problema dele é que nunca tive uma relação boa com ele, muito mais pela forma como ele observa as coisas do que por posições que adotava e que achava que ele estava errado. Isso há anos, tanto que fiquei cinco, seis anos sem falar com ele e fui fazer as pazes em razão da proximidade, do apelo que recebi do Ênio e do Valmor Zimermann na ocasião em que o Atlético estava fazendo aquela revolução em 95. O que não concordo com o Mário é a ingratidão que ele trata da história das pessoas dentro do Atlético, como se a história fosse possível apagar. Isso que magoa e me levou a ver o Mário como um dirigente qualquer, apesar de ser excepcional. Por que ingratidão? Porque ele sabe mais do que ninguém que ele sozinho, sem o apoio do primeiro conselho gestor que o Atlético teve, não vou dizer nomes para não ser injusto, mas de todo aquele conselho gestor, era impossível de se administrar o Atlético, sob todos os pontos de vistas, sob o ponto de vista patrimonial, técnico, jurídico, financeiro. Aí vem a construção da Arena. Ele jogou as chaves da obra para o Ênio terminar. Eu fui testemunha, porque ele tinha que se afastar por conta dos problemas da empresa dele, que exigiam que ele não cuidasse da conclusão da obra. E o Ênio trabalhou diariamente, das cinco da manhã à meia-noite pra terminar a obra e apoiado por Valmor Zimermman, Ademir Adur e todos aqueles que avalizaram empréstimo no banco, porque essa história de que fulano bancou, que siclano bancou, se bancou, recebeu tudo de volta. Todos. Independente, não foi só o Mário. O Atlético não deve um centavo para qualquer dirigente e o dinheiro da construção foi feito com empréstimo no banco. Todos avalizaram. O que aconteceu? No dia da inauguração da Arena, ele foi incapaz, durante o discurso, de agradecer os torcedores, ele não citou essas pessoas, foi uma injustiça. Vocês podem ver na placa que tem na frente da Arena, não faz menção ao nome de ninguém, só o dele. No CT do Caju a mesma coisa. É isso que me deixou magoado em relação ao Mário Celso, a ingratidão. Ele foi ingrato com essas pessoas. Ele afastou essas pessoas porque não se sentia confortável de ver o nome dele na história do Atlético acompanhado de alguém. Ele quis se isolar na história. Foi um crime o que fizeram com Marcos Coelho, que foi o comandante do título. Quer queiram ou não, o Marcos foi um presidente que atuou. Foi um ano terrível e pouca gente sabe o drama que viveu o Atlético em 2001 por causa da CPI do futebol. O Atlético foi o clube mais investigado, o Marcos Coelho sofreu, batendo de frente com político, se desgastando como advogado, com reflexos dentro de seu escritório. Ele foi atuante, ele que fez o Souza ficar e o Souza foi decisivo para nós. E o que aconteceu? Na fotografia do título, exclui o Marcos Coelho e fica só o Mário Celso. Isso que é ingratidão e isso é o que não aceito dentro do Atlético. Não discuto os objetivos do Mário ficar sozinho, ele deve ter seus conceitos de ética, de idealismo, de empresário, não discuto. Só discuto que a história não pode apagar. O Atlético viveu e sobreviveu do idealismo dessas pessoas nesses 80 anos. Eu comprei uma briga pelo ideal. Não é pessoal. Ninguém teve coragem de me dizer “Mafuz defenda isto, defenda aquilo” porque não aceito, nunca aceitei pedidos. Minha relação, meu interesse é o Atlético.

Mesmo assim ele foi o maior presidente do Atlético?
Não vou mexer com o passado. O Atlético tem 80 anos. Eu diria que ele foi o que dividiu a história. Ele exerceu o poder político. O que ele queria na frente eu não sei, mas que ele dividiu a história, dividiu. Dizer que é o maior vai ofender pessoas que num momento crítico na vida do clube socorreram. Olha o Valmor Zimermann. O Atlético viveu 25, 30 anos garantido no talão de cheques do Valmor. Para retomar os ideais, acho que não se deve mexer. O Mário quer terminar o estádio e não quer ninguém ao seu lado. Ele quer terminar sozinho e mesmo porque ele não aceita ninguém. Não adiante discutir o assunto, buscar a solução numa união entre todos. Hoje é impossível, entendo que ele vai ficar porque tem a obrigação de terminar a Arena o mais rápido possível, pois quanto mais tempo levar, mais difícil será concluir. O velho ideal não volta mais, esqueça.

O futuro do Atlético é a parceria?
Não adianta condicionar o futuro do Atlético na parceria que estou ouvindo falar em parceria desde 95. Quantas e quantas vezes o Mário Celso pediu pra se afastar porque ia buscar uma parceria. Não dá pra condicionar isso, embora entenda que deva ser a parceria, porque o futebol está muito caro. Senão nunca teremos mais um grande time de futebol. Vai ter que vender. Logo acaba o dinheiro do Kleberson e tem que vender alguém.

Você é a favor de uma multinacional tocar a Baixada?
Não vamos confundir as coisas. Uma é terminar a Arena, sem alienar a Arena. O Atlético tem que terminar a Arena sem participação. Para administrar a Arena eu concordo porque aí sim o Atlético não precisa gastar o que não tem.

CASO PINHEIRÃO

Como é que está a ação do Pinheirão?
Antes de contar como está, vou falar da origem da ação. O Atlético tinha um contrato de comodato com a Federação de 55 anos. E tinha uma cláusula de exclusividade que não permitia ao Atlético jogar em outro lugar, muito menos voltar para Baixada. Isso foi histórico. Existia outra cláusula da Federação que dizia que eles deveriam repassar 10% de toda a venda de camarotes, cadeiras, estacionamento, publicidade, pro Atlético. A Federação não repassou como devia. Prestava contas e não repassava todo o valor faturado. Quem construiu o Pinheirão foi a torcida do Atlético, comprando cadeiras. Só atleticano tem cadeiras, box de estacionamento, tudo no Pinheirão. O time do Atlético estava mal, estádio vazio, e em 92, o Farinhaque não tinha mais como se sustentar e a torcida foi protestar num jogo contra a Portuguesa, quando o Atlético perdeu por 1 a 0. O Farinhaque falou com o falecido governador Ney Braga. Ele disse que ajudava, mas tinha o problema do contrato. Na ocasião eu não me dava com o Farinhaque, tínhamos brigado. Mas ele chegou e disse “o único que enfrenta o Moura é o Mafuz”. Daí o ele mandou o Fleury no meu escritório e o meu sócio Gilson Amaro Fernandes, analisamos o contrato. Era só pra entrar com uma ação de medida cautelar. Mas eu e meu sócio entramos com uma ação de rescisão de contrato com perdas e danos. Conseguimos numa cautelar tirar o Atlético de lá, num jogo contra o Palmeiras, e jogamos algumas partidas no Couto Pereira, e a ação foi correndo. O Gilson se ausentou, fui tocando sozinho. Acharam que eu era louco, que fazia isso porque era contra o Moura e foi tocando o processo. Veio a prova pericial em que ficou apurado que a Federação, em 93, deixou de repassar ao Atlético o equivalente a US$ 200 mil, foi indo até que veio a sentença que rescindiu o contrato e condenou a Federação a pagar os US$ 200 mil e mais uma multa violenta. O crédito do Atlético hoje, consolidado, dá R$ 7.700.000,00, sem por nem tirar. Esse é o crédito que o Atlético tem com a Federação. Foi penhorado o Pinheirão e as duas matrículas do estádio. O Pinheirão é construído sob duas matrículas que não foram unificadas. O Tribunal de Justiça afastou uma penhora porque foi uma doação do município que tinha cláusula de impenhorabilidade, mas consolidou a penhora da outra matrícula. Então 50% do Pinheirão estão penhorados. Quando o Tribunal manteve apenas a penhora de uma matrícula, coincidência ou não, estava perto de um jogo entre Brasil e Uruguai, no Pinheirão, agora, nesse ano. Eu sabia que boa parte era da Federação. Eu disse “vou penhorar esse dinheiro da parte da federação”. Liguei pro Mauro Holzmann e disse para eles não serem surpreendidos e para avisar o Petraglia que iria penhorar a parte da Federação. O Petraglia poderia mandar ligar pra mim e dizer “olha, não é interesse político do Atlético penhorar esse dinheiro”. O que ele fez. Três dias depois, quando já tinha preparado a petição, recebo a visita do oficial de justiça devolvendo a minha procuração, revogando minha procuração. E deixei de advogar. A única coisa que me liga nessa ação é profissional, do contrato de honorários que o Atlético não pagou apesar da revogação e não me atinge tanto. Atinge meu sócio, o Gilson, que prestou um favor ao clube em 90, porque quando o Atlético foi campeão o Coritiba recorreu no tapetão e ia ganhar no Rio de Janeiro. O Fleury levou o Gilson de casa e levou-o para lá. É a ingratidão que digo, nem tanto por mim, mas as outras pessoas que não tinham nada a ver com a minha relação pessoal com o clube, mas de qualquer maneira o Atlético tem esse crédito. A história não pode apagar. O meu escritório se sente responsável pelo criação desse crédito que o Petraglia não pode perdoar, não pode abrir mão, tem que levar o Pinheirão para leilão, não pode recuar. Não tem como justificar jogar fora R$ 7.700.000,00 hoje e é exatamente esse valor que falta para concluir a Arena. O que não pode é alguma conveniência política do Petraglia com o Moura ou a CBF e fazer com que o Atlético perca esse dinheiro.



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