9 maio 2004 - 13h57

Super-mães atleticanas

Ter um filho jogador requer muita paciência. Dias de concentração e mudanças para outra cidade deixam a saudade apertar no peito. O jogador inicia a carreira muito cedo e deixa a casa da família prematuramente. Poucas são as mães que largam tudo para se mudarem com os filhos, mas são poucas também as que não acompanham suas carreiras.

“Uma vez quando ele jogava nos juvenis do Cruzeiro eu não pude ir e chorei o dia inteiro. Era uma final e o jogo seria preliminar do profissional. Quando liguei a TV, estavam mostrando o estádio e a torcida e o Luciano do Valle (narrador) falou que os torcedores estavam comemorando pois seus juvenis tinham acabado de ser campeões. Chorei mais ainda porque não estava lá vendo”, conta Emília, mãe do volante Bruno Lança. Estar nos jogos ou acompanhá-lo, ainda que seja pela internet, televisão ou radinho, faz com que ela se sinta mais próxima do filho, que saiu da casa, em Ribeirão Preto, para se juntar às categorias de base do Atlético, no CT do Caju.


Fernandinho e a mãe, Cristiane: sorte por telefone

Telefonar antes e depois de todas as partidas já é rotina. “Essa semana ele ligou dizendo que não ia viajar, que estava treinando separado do grupo. Eu falei que para Deus nada é impossível, que ele deveria continuar treinando. Na sexta ele ligou novamente para contar que viajaria e, melhor ainda, ia entrar jogando”, diz Dona Emília. Não deu outra, no jogo de ontem, contra o Guarani, ela acompanhou o filho de pertinho, ganhando do técnico Levir Culpi o presente do Dia das Mães antecipado.

Outro que utiliza o telefone como aliado é o meia Fernandinho. Apesar de a mãe morar com ele em Curitiba, acredita que esse ritual lhe traz sorte antes das partidas. “Antes de entrar em campo, no vestiário, ele sempre me liga, acredita que eu dou sorte. Daí eu sempre digo para ele: ‘filho, vai com calma, com paciência. Você tem é que jogar bem, estar tranqüilo para jogar o seu melhor. Ganhar ou perder é conseqüência, o que você tem é que jogar. E eu tenho certeza: hoje você vai ser brilhante'”, diz a mãe do jogador, Cristiane.

Tem que participar

Mas se engana quem pensa que a função de mãe de jogador é apenas torcer. Por obrigação do ofício, elas até aprendem futebol e se arriscam a dar conselhos táticos. “Comecei a me interessar por futebol de um ano para cá. Mas, por causa do Fernando, passei até a ver jogos de outros times, para entender melhor”, confessa Cristiane.

Outra que se arrisca a assumir a função de técnica é Dona Odete, mãe do lateral-esquerda Marcão. “O pouco que eu entendo, dou conselho. Porque, às vezes, quem está dentro de campo não vê as coisas. Então, procuro sempre mostrar para ele os erros e as qualidades. O Marcão é muito determinado em tudo o que ele faz. Não gosta de perder. E quando, por acaso, o Atlético perde, ele fica muito chateado. Daí procuro mostrar que isso faz parte e que às vezes é melhor perder para se dar mais valor na hora que ganha”, conta.


Dona Odete, mãe de Marcão, e as sobrinhas do lateral

No entanto, a função de mãe participativa também pode pregar alguns sustos, como o que aconteceu com Dona Janete, mãe do meia Jadson: “Quando ele estava jogando em Londrina, com 10, 12 anos, a gente estava na arquibancada assistindo e dentro do gramado tinha um senhor com um cachorrão. Quando o Jadson recebeu a bola, o cachorro foi em cima. O Jadson caiu no chão e começou a gritar. Foi engraçado, mas também fiquei preocupada, o cachorro era grande”, lembra ela.



Jadson ao lado dos pais, presentes nos momentos mais importantes

E, às vezes, o dom de jogador vem desde pequenininho. Foi assim com o atacante Dagoberto, que praticamente já nasceu de chuteiras, como revela Dona Adelir, sua mãe. Ainda recém-nascido, o atacante ganhou do irmão, o ex-jogador Douglas, um par delas, usadas na inauguração dos uniformes do time de Dois Vizinhos.

“Quando fiquei grávida do Dagoberto, o Douglas disse que se nascesse um menino ele daria as chuteiras. Aí nasceu o Dagoberto e o Douglas me fez até desenrolar o cobertor para ver se era menino mesmo. O Dagoberto ganhou sua primeira chuteira do irmão, quando tinha 40 minutos de vida”, lembra a mamãe-coruja.



Dagoberto posa para foto ao lado da mãe Adelir e dos irmãos

E o orgulho da mãe-tiete existe quando o filho veste a camisa do Atlético e também da seleção. “É muito gratificante ver um filho seu defendendo a Seleção Brasileira. O Dagoberto além de bom jogador é um bom filho, carinhoso, gosta de ficar em casa com a gente. Ele fica concentrado e liga, não interessa onde esteja, até nas concentrações com a Seleção Brasileira, em outros países”, revela.

Força dupla

Se ter o carinho e a torcida de uma mãe já é bom, o goleiro Diego pode-se considerar privilegiado por ter sua torcida organizada um pouco maior. De Porto Alegre, as vibrações são de dona Tânia, a mãe do goleiro. E de Curitiba, a torcida fica por conta de Miriam, a madrasta.

“Eu sempre incentivei muito a carreira do Diego. Mesmo de longe, procuro saber como ele está, torço em silêncio, mas com muito amor no coração. Sou a maior torcedora dele. Nos jogos, faço muitas orações, me apego a todos os santos”, conta Tânia, que apesar da distância não deixa de acompanhar o desempenho do filho, pela TV ou pelos jornais.

E se hoje Diego usa a camisa número 1 do Furacão, a mãe sente-se um pouquinho responsável. “Quando ele era pequeno, gostava de jogar na linha, mas era muito lento. Daí eu falava: ‘Diego, o seu futuro é no gol, você não consegue correr como os outros. Vai para o gol, filho’. Aos poucos ele foi se convencendo que o melhor mesmo era ser goleiro. E ele me prometeu que seria um grande jogador e faria de tudo para ser o melhor goleiro”, conta com orgulho.



Miriam, a “mãe filial” do goleiro Diego

Mesmo orgulho que carrega Miriam. Ela diz que desde que assumiu o papel de “mãe filial” (como o próprio Diego a chama), raramente deixa de ir aos jogos ou mesmo acompanhar pela TV ou rádio. “Apesar de eu não ter participação na obra, sempre senti uma ligação muito forte, um carinho de mãe mesmo. Independente de eu ser ou não a mãe, ele pode contar comigo para o que der e vier. Se for preciso, viro uma leoa para defendê-lo”, diz dando um conselho de mãe ao jogador: “Diego, que você sempre use essa sua força, que jamais abandone seus ideais. Você tem um brilho interior muito grande e espero que nada faça com que isso se apague”.

“A Tia”

Muitos jogadores deixam o interior para tentar a sorte em um clube da capital. Geralmente a família não tem recursos para se mudar junto e o atleta acaba tendo que se virar sozinho. Para os jogadores do Atlético, morar sozinho ou no CT não é mais problema. Neusa, sogra do zagueiro Igor, tornou-se a ‘tia’ da rapaziada.

“Há quatro anos que a casa vive cheia. A maioria das famílias mora longe e aqui em casa eles têm a oportunidade de comer uma comida caseira. Eles pedem para eu fazer o que eles gostam. Quando o Fabiano e o Adauto jogavam aqui, os dois brigavam porque tinham ciúme se eu fazia o bolo preferido de um e não fazia o do outro. Quando o Fabiano chegava aqui em casa e via o Adauto comendo, ele ia embora e voltava no dia seguinte para me dar bronca, e assim era com o Adauto também. Cada um gostava de um bolo diferente e eu tinha que fazer bolo de morango e prestígio para não dar briga”, diz ela, lembrando-se de ex-jogadores do clube.



Neusa é mãe da esposa de Igor, mas “adotou” os jogadores atleticanos

Mas não é só a comida que agrada nas visitas. “O Lobatón vinha aqui e já tinha lugar marcado no sofá. Ele chegava, já pegava o edredom e ia para o sofá”, revela Dona Neusa, com saudades do atacante peruano.

Histórias engraçadas como essas não faltam. “Eu poderia até escrever um livro”, brinca Neusa. “O Igor é o Pânico”, referindo-se à famosa trilogia adolescente. “Ele não é zagueiro, a profissão dele é dar susto. Quando chega alguém aqui, ele pega um chinelo e vai para baixo da escada, bater no chão e dar sustos, cada dia pega um diferente”, diz ela, dando risadas. As reuniões na casa são constantes e não seria diferente logo no Dia das Mães. “No Dia das Mães todos vêm almoçar aqui”, avisa, já preparando o almoço.

O que eles dizem

No Dia das Mães, os jogadores aproveitaram para mandar um recado. “Eu agradeço a mãe que você é e o apoio que me deu. Se hoje eu estou bem aqui no Atlético, você tem 80% de colaboração”, diz Bruno, que adora o apoio e carinho que recebe da família, mesmo estando longe. Diego também manda um recado para a mãe que mora longe. “Parabéns, mesmo estando longe você significa bastante para mim e para meus irmãos”, fala o goleiro.

O lateral Marcão também expressa sua alegria com um recadinho. “Ela é a melhor mãe do mundo, devo a ela tudo o que sou. Um feliz Dia das Mães”, deseja ele. Para Dagoberto, a mudança da família para Curitiba traz tranqüilidade, “é muito bom ter a mãe por perto, eu trabalho tranqüilo. O carinho de mãe é muito bom”. Um dos principais jogadores do elenco atleticano, Jadson agradece o carinho e os cuidados da mãe e das irmãs. “Eu agradeço por tudo o que ela fez por mim junto com as minhas irmãs. Eu amo muito elas”, declara o meia.

A Furacao.com deseja a todas as mães um ótimo dia de muita felicidade e amor!

Reportagem e fotos: Julia Abdul-Hak e Patricia Bahr, do Conteúdo da Furacao.com



Últimas Notícias

Brasileirão A1|Opinião

NEM 8, E NEM 80

O título do que será relatado abaixo, resume muito o sentimento desse ilustre torcedor quem vos escreve.   Na noite de ontem o Furacão entrou…