22 maio 2004 - 20h01

Opinião de Juliano Ribas

Leia abaixo a opinião de Juliano Ribas:

Causas

Nos últimos tempos não têm faltado causas para os torcedores atleticanos abraçarem. É o imbróglio do ingresso, é o “fora Fleury”, é o “fora Petraglia”, é a causa do bumbo, a do repique, a dos sinalizadores, a das faixas. E mais recentemente, a causa “não aos lugares marcados”. Sinto que a causa mais importante, ou a única que devemos ter, a do Clube Atlético dos Paranaenses, foi deixada em segundo plano.

Não que os que abraçam essas causas, cada uma com as suas justificativas, procedentes ou não, queiram o mal do Atlético. Basta ser atleticano para querer o bem do clube que se ama. Mas a “causa atleticana”, única e verdadeira, é aquela que, efetivamente, luta pelo CAP. Não é aquela que dá murro em ponta de faca querendo que não hajam lugares marcados no estádio, já que o Estatuto do Torcedor e as normas da Fifa nos obrigam. Não é aquela que protesta contra a perda de um título e contra preços destruindo nosso patrimônio. Não é aquela que busca manter os ingressos a quinze Reais e que é contra o “trintão” simplesmente, ao invés de pedir pacotes mais baratos. E que é contra a liberdade de ir e vir daqueles que optaram por adquirir os “season tickets”.

Não é aquela que xinga seus dirigentes, atleticanos também, com palavras impronunciáveis, abaixo até do limite dos mais tolerantes. Os mesmos dirigentes que tanto fizeram pelo clube.

Um dos assuntos em voga nesta fase de discussão e debates intermináveis (o Atlético está parecendo o PT), é a questão da torcida organizada. Mais precisamente a “Os Fanáticos”, a maior do Atlético e do Sul do Brasil. Por mais que gostemos de sua cantoria, empolgação e pirotecnia, é inegável que “Os Fanáticos” erraram a mão. Exageraram na dose. E não é de agora. E situações como essas, de equívocos, servem para uma boa auto-crítica. O pessoal da organizada, inclusive da outra torcida, a “Ultras”, deveria pensar em suas atitudes. E acima de tudo, estar consciente de seu papel social.

As torcidas organizadas, de todo o país, reúnem, cada uma, milhares de jovens, muitos adolescentes e até crianças. Atraídos pela imagem de união, proteção de grupo, agressividade e diversão, unem-se a essas agremiações e exibem com orgulho, seus nomes, símbolos e decoram seus cantos de guerra. Onde quer que estejam, sentem-se protegidos e auto-confiantes por fazer parte de uma turma, enorme, numerosa.

O futebol evoluiu, o Atlético mais ainda, e por isso é muito importante que as torcidas organizadas façam o mesmo. Precisam ter a consciência de sua responsabilidade e do alcance de suas atitudes. Da influência e do fascínio que exercem em muitos jovens, ainda em formação, das mais variadas classes sociais. Consciência da dimensão que atitudes baseadas no ódio, como confrontos com outras torcidas, ou protestos violentos como os ocorridos recentemente, podem tomar. São coisas que podem trazer conseqüências que mancham a imagem do clube. Ou prejuízos, como a ridícula invasão de campo contra o Santos, que poderia ter causado a perda de mandos de campo.

A torcida pode não se responsabilizar pelos que destruiram as cadeiras da Baixada, mas sua agressividade na maneira de agir, como uma tropa militar, pode ter contagiado algumas pessoas. Por isso, uma mudança na atitude, para o bem, pode ajudar as torcidas. Pode ajudar os clubes. Pode ajudar no diálogo com os homens de terno e gravata que comandam as instituições. Ninguém respeita quem é agressivo. A não ser pelo temor.

Nossas organizadas são reconhecidas como as mais vibrantes. São mesmo. Já proporcionaram espetáculos de encher os olhos. Principalmente a “Os Fanáticos”. Criaram músicas cantadas por todos, como o lindo “Dá-lhe, Dá-lhe-ô”. A “Os Fanáticos” é um exemplo nesse sentido, é uma das melhores do Brasil. Mas eles não vêm contagiando tanto como antes. Boa parte dos atleticanos estão cabreiros com a organizada. Não concordam com os gritos ofensivos puxados contra o Petraglia, principalmente. Não concordaram com o “fora Espinosa”, cuja saída prejudicou muito o CAP, não concordaram com o “Kléber vai pro inferno”, que nos fez desgastar e perder um dos maiores atacantes da nossa história.

Nossa torcida já foi mais valente. Em outros tempos, se faltasse o bumbo, ia no gogó mesmo. Cadê aqueles “dá-lhe-ôs” de vários minutos? Hoje, esse canto começa e logo pára. De uns tempos pra cá, na Arena, está sendo mais difícil contagiar todos os torcedores, os ditos “comuns”. Acredito se a postura das organizadas fosse menos agressiva e intimidatória, as pessoas “comuns” iam vê-los com outros olhos. Iam querer participar também. Fazer festa junto, o tempo todo. A relação “organizada-torcedores comuns”, desgastou.

Sugiro, humildemente, que as organizadas do Atlético não fiquem isoladas em um canto apenas, mas estejam também em pequenos núcleos pela Arena, para puxar cantorias e contagiar o estádio como um todo. Como animadores. Sugiro também que lutem por causas realmente importantes para o CAP. Por exemplo: por que não fazem protestos, pacíficos e organizados obviamente, mas insistentes, pela liberação do terreno do colégio que tanto nos perturba? Por que não lutam e ajudam na concretização desse sonho, que é a finalização da Arena? Eles têm poder para isso.

Creio que uma mudança na atitude e consciência do poder que têm, faria com que fossem mais respeitados e menos temidos. Basta um pouco de boa vontade. Mas acredito que falta também uma dose de boa vontade da diretoria para buscar o diálogo. Mas, quem sabe eles não estão também receosos em dialogar? O negócio é deixar a poeira baixar um pouco e ir, aos poucos, tentando esse diálogo. Por que, se as proibições são uma retaliação da diretoria, o que acho que sim, foi porque existiu motivo.

Que Deus ilumine todas as partes dessa questão. Que os ilumine para que em suas ações façam aquilo que for melhor para o Atlético. Amém.

Juliano Ribas
Colunista da Furacao.com.

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