7 jun 2004 - 22h28

Petraglia conta a sua história

Ele é um dos presidentes mais marcantes da história do Atlético. Assumiu a presidência do clube em 1995 e foi o principal líder da reformulação ocorrida no clube. Sob a influência de Mario Celso Petraglia, o Atlético construiu a Arena da Baixada e o CT do Caju, conquistou os títulos brasileiros das Séries A e B e, de quebra, participou de duas Libertadores.

O dirigente foi o personagem principal do programa Papo Fino, da Rádio Banda B, do último domingo. Entrevistado pelo repórter Osmar Antônio, o atual presidente do Conselho Deliberativo do Atlético falou sobre sua vida pessoal, sua paixão pelo futebol e contou várias histórias marcantes. Confira as principais passagens:

INFÂNCIA

Um menino muito rebelde e revoltado. Foi assim que Petraglia iniciou a conversa, contando sobre sua infância e adolescência. Nascido em fevereiro de 1944, em Cruzeiro do Sul (RS), Petraglia estudou no Colégio Estadual do Paraná, pois seus pais não tinham condições financeiras para pagar seus estudos. “Naquele tempo, o ensino público era bem melhor que o privado, sendo também o mais procurado. Só depois que houve problemas, fazendo com que a situação se revertesse”, conta.

Com 12 anos, Petraglia já demonstrava sua vocação para as finanças, começando a lidar com as vendas e a procurar formas de ganhar dinheiro. Resultado: reprovou a 1ª e 2ª séries do segundo grau e teve que abandonar os estudos. “Meu pai me disse: quem não quer estudar vai ter que trabalhar”, diz Petraglia, que teve a ajuda a mãe para procurar emprego. Afastado há um ano dos estudos, Petraglia via todos seus irmãos estudando, alguns, já se dedicando ao ensino superior.

Foi então que decidiu voltar aos livros e cadernos, trabalhando de dia e estudando à noite no Instituto de Educação. Seu primeiro trabalho foi como office-boy, ajudando a entregar acessórios de bicicleta. Ao voltar para a 2ª série, Petraglia diz ter aprendido a lição. “Dei valor aos meus estudos. Depois fui para o Colégio Bom Jesus, onde fiz cursos de técnico em contabilidade. Achei melhor fazer um curso que me oferecesse condições de disputar melhores lugares nas empresas”, conta.


Ele começou a carreira como office-boy

VOCAÇÃO

Formado em Direito pela Faculdade de Direito de Curitiba, Petraglia continuou a se especializar na área de empresas, finanças e administração. “A vida foi me conduzindo por aí. Me tornei empresário e sempre busquei o crescimento, nos aspectos cultural, financeiro, econômico, social, moral etc. Temos que construir a vida em todos os sentidos, buscando os melhores caminhos sempre”, diz Petraglia, contando que seu pai foi um homem muito trabalhador, de personalidade forte e desprendimento para o trabalho.

Já sua mãe teve muitas dificuldades para criar os 10 filhos (dois já falecidos), com muita dedicação e esforço. “Com certeza meus pais foram exemplos para todos os meus irmãos, com todos os ensinamentos, principalmente a honestidade”.

FILHOS

Pai de três filhos (Ana Lúcia, Ana Paula e Mário Celso), Petraglia disse que casou muito cedo com Eliane, aos 22 anos. “Faz tanto tempo já que até perdi a conta”, diz, num momento de distração. Nós amadurecemos muito cedo, quando chegávamos aos 20, já achávamos que tínhamos vivido demais”. Segundo Petraglia, a vida nos proporciona vantagens e desvantagens. “Contudo, estamos aí, forte, com saúde, vivendo essa terceira fase da vida, ao lado dos netos”.

O COMEÇO

“Minha vida no Atlético é longa”, garante Petraglia, que passou a viver o dia-a-dia do clube já na década de 70, com o pessoal da Retaguarda Atleticana, passando por todas as dificuldades que o Atlético enfrentava naquela época. Convidado para participar com outros jovens atleticanos para fazer alguma coisa pelo clube, Petraglia disse que a paixão o envolveu e fez com que passasse a integrar a diretoria em 1984, a convite de Valmor Zimermann, permanecendo por um ano.

“Logo saí porque vi que o futebol era algo muito difícil de se lidar. Vi que não era o meu momento, pois eu não tinha condições, tempo e vontade para conviver com tudo aquilo”. Petraglia conta que naquele tempo já pensava em ter uma boa infra-estrutura, no intuito de gerar resultados. “No futebol isso é uma exigência imediata e até absurda às vezes. Pensei em montar um projeto a longo prazo para o clube”, conta Petraglia, que conseguiu algumas doações de computadores. Mais uma vez, ele viu que as dificuldades eram enormes e que não dava para continuar, o que culminou em sua saída da diretoria.

E não demorou muito para sua volta. Em 1989, Petraglia voltou para ajudar Paulo Brofmann, que havia tido um problema com o então presidente Milton Isfer. Foi criada uma comissão e Petraglia assumiu a Diretoria do Patrimônio, ajudando a resolver todos os problemas. Dentre eles, orgulha-se por ter ajudado a solucionar o problema do Parque Aquático, de Aryon Cornelsen, que se arrastava há anos na justiça. “Eu mantinha uma ótima convivência com o Aryon, uma relação de confiança mesmo. Fizemos uma boa negociação, resolvemos as pendências jurídicas e o Atlético acabou tendo o domínio da área, cujo espaço serviu para o início da transformação do Atlético em 96”, conta.

Com a desapropriação do PAVOC, o Atlético pôde pagar todas as suas dívidas e comprou o atual Centro de Treinamentos Alfredo Gottardi, o CT do Caju, “que nos dá todas as condições de base, infra-estrutura e financiamento”.


No Atlético, já foi diretor de patrimônio, presidente
e hoje é presidente do Conselho Deliberativo

O RETORNO

E novamente Petraglia se afastou do Atlético, retornando em 1995, porque, segundo ele “não queria participar da gestão do presidente Farinhaqui”. Após uma grande revolução na cúpula atleticana, Petraglia assumiu a presidência, antes ocupada por Hussein Zraik, diante de uma crise aparentemente sem fim.

“Os clubes de futebol não eram considerados empresas, totalmente isentos de pagamentos e impostos. Depois que o país foi se transformando, o futebol brasileiro foi se tornando um grande negocio e o governo acabou com todas as benesses, isenções, incentivos e vantagens dos clubes sem fins lucrativos”. Para Petraglia, hoje o futebol mundial gira em torno de altos valores de contrato e de negociações dos jogadores. “Não existe nada furado, não há contrapartida. Os clubes não têm receita o suficiente e o Brasil não é exceção. Aqui é mais complicado por ser um país emergente, com maiores problemas”.

HISTÓRIAS

Indagado a respeito de um jogador que se desvinculou do Atlético e acabou descobrindo uma doença muito séria no braço, Petraglia não só confirmou sua atitude em ajudar o atleta em todos os sentidos como contou, em detalhes. “Foi um atleta que veio do Rio Grande do Sul. Depois da descoberta da doença, fiz com que o clube tivesse participação em todos os momentos, durante todo o tratamento. Isso não é obrigação de nenhum dirigente, mas casos como este não permite que fechemos os olhos, como se os problemas dos outros não existissem. Não temos condições de resolver tudo, mas aquilo que está mais próxima da gente e que seja possível de solucionar, a gente faz”, afirma Petraglia, que não revelou o nome do jogador.

“Acho que se todos nós fizéssemos um pouquinho mais, desse mais de si, do que a vida nos proporcionou, seriamos mais felizes”. Em quase 10 anos no Atlético, Petraglia também colecionou histórias engraçadas. “Certa vez fomos para Araras, interior de São Paulo, sabendo que o time do União São João tinha dois bons jogadores, que podia nos interessar e ajudar a compor o time de 96. Um amigo nosso nos emprestou um helicóptero para irmos lá conversar com a diretoria do clube. Desembarcamos num campo de treinamento e quanto fomos falar com eles, os valores triplicaram! Perguntei quando cada um custava e o diretor disse: um milhão este, um milhão e meio aquele. Eu simplesmente disse obrigado e voltei para o helicóptero. Ou seja, ficamos nem 10 minutos em Araras! Nunca mais voltamos”, lembra Petraglia, que também falou sobre a casa do atleta, que havia no PAVOC.

“Era muito triste porque no verão ninguém conseguia sobreviver aos mosquitos, ninguém agüentava! Já no inverno, às 11 da manhã não enxergávamos nada, havia muita neblina e cerração. Quando chovia, a água invadia tudo e quase chegava no telhado. Era um local sem as menores condições de se ter alguma coisa ali, só nos trouxe problemas e prejuízos”.

WASHINGTON

O atual artilheiro do elenco rubro-negro também foi lembrado com carinho por Petraglia. “Esse é um rapaz que a gente teve um contato muito bom. Ele já era pra ter vindo pra cá antes de ir para o Paraná Clube. Depois, o empresário dele nos procurou e nós tivemos a resposta convicta dos médicos de que ele não voltaria a jogar futebol. Mas nós acreditamos na fé do Washington, ele nos transmitiu de uma forma fortíssima que ele iria vencer. E eu tive a certeza absoluta que ele iria realmente voltar, e o Atlético acreditou também. E agora ele está aí, depois de muita luta e dedicação, de toda a nossa equipe, todos que se envolveram. Está fazendo cada dia mais gols e dando alegria a todos nós. Isso pra mim é religião, essa é a minha religião. Tento sempre fazer um pouco daquilo que a gente pode fazer ao próximo”.


Ele não esconde sua admiração por Washington

PING-PONG

Após responder algumas perguntas dos torcedores atleticanos, Petraglia participou de um breve “ping-pong” feito pelo repórter Osmar Antônio. Confira:

Maior alegria: ter nascido

Decepção: muitas

Amigos: muitos. A vida é feita muito mais de previstos do que imprevistos.

Gratidão: pouca, principalmente no futebol. A paixão por este esporte amalgama todos os sentimentos, é algo incontrolável. Se você não tem resultado, você se descontrola. Eu sou um descontrolado! Entendo os torcedores atleticanos, sei que quando o resultado não sai, a ingratidão vem junto, mas faz parte. O ontem não interessa. O que interessa é o resultado de hoje, o resto é passado. Quem espera gratidão ou reconhecimento no futebol, mude ramo. Mas na minha vida pessoal, tenho muitas gratidões.

Futebol brasileiro: Não penso em ser presidente da CBF ou da FPF, não tenho a menor vocação pra isso. No máximo, penso em ser presidente do Atlético. Quem sabe uma participação em alguma liga, ou no Clube dos 13. Sou corporativista, trabalho em prol do meu grupo, com objetivos afins, de transformação e reformulação. Nosso futebol ainda não chegou ao fundo do poço. Daqui a 10 anos tenho certeza que não guardaremos nenhuma relação com o futebol de hoje. A história vai mostrar. Só que precisamos de uma transformação, que aos poucos já se inicia. As receitas não são compatíveis com as despesas. Nosso futebol continuará sendo o melhor do mundo e vai caminhar sempre pra isso. Sou muito otimista.”

Reportagem: Monique Silva, com base na participação de Mario Celso Petraglia no programa Papo Fino, da Rádio Banda B, de 06.06.04, apresentado por Osmar Antônio



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