30 maio 2008 - 10h41

No limbo há um ano, Pinheirão agoniza de portas fechadas

O Estádio Pinheirão está de aniversário nesta sexta-feira (30). Porém, não há o que ser comemorado. Há exato um ano atrás, dois oficiais de justiça da 18.ª Vara Civil de Curitiba lacraram a praça esportiva, pertencente à Federação Paranaense de Futebol (FPF), por problemas na documentação e em diversos itens de segurança. Desde então, o estádio só se viu envolto em polêmicas, vandalismo e abandono.

Na esfera esportiva, o Pinheirão só se viu “útil” em três ocasiões nos últimos 365 dias, quando o Comando da Polícia Militar pediu a liberação do espaço – mais precisamente da pista de atletismo – para a avaliação de novos cadetes. Estes pedidos foram prontamente atendidos pela justiça. Mas é pouco, ainda mais para um estádio que nasceu sob visões ambiciosas, e com a promessa de abrigar 200 mil pessoas quando concluído. Tal feito, previsto no projeto inicial, jamais tornou-se realidade.

Enquanto a infra-estrutura se perde com o passar do tempo, ginásio ou shopping parecem se desenhar como o futuro do estádio.

História do Pinheirão

Desde a década de 1950, o projeto do Pinheirão foi envolvido em polêmicas e problemas. Após uma tentativa fracassada de construir o estádio no Centro de Curitiba, a FPF, então presidida por José Milani, recebeu a doação de uma área do então prefeito Omar Sabbag em 1969. Depois da construção das primeiras arquibancadas, a obra foi paralisada por falta de verbas, frustrando o sonho de Milani.

O projeto só foi retomado 15 anos depois, quando Onaireves Moura assumiu a FPF. Ex-presidente do Atlético Paranaense, Moura conseguiu concluir parte da obra prevista no projeto inicial, e o Rubro-Negro deixou o Joaquim Américo para mandar os seus jogos no Pinheirão. O período entre 85 e 1992 não deixa saudade aos atleticanos, nem mesmo com a ampliação executada pela federação neste tempo.

Sem um clube mandando jogos no estádio, o Pinheirão foi pouco utilizado na década de 90, e Moura aproveitou os subseqüentes mandatos à frente da FPF para construir uma pista de atletismo em volta do campo e aumentar as dívidas da entidade. Entre 2001 e 2007, o Paraná Clube fechou um acordo para mandar os seus compromissos no estádio, mas os problemas só se acumulavam, sobretudo na gestão de Onaireves Moura.

O último grande evento recebido pelo estádio foi o jogo Brasil x Uruguai, válido pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2006. O jogo terminou 3 a 3.

“O Pinheirão permanece fechado, mas temos colocado cinco funcionários para fazer a manutenção do gramado e de outras áreas do estádio. É difícil tomar conta de uma área tão grande, a polícia tem nos ajudado, mas sempre acabam ocorrendo algumas tentativas de furto”, revela o presidente da FPF, Hélio Cury. Futebol mesmo, só nos campos anexos ao complexo do estádio, que recebem partidas dos campeonatos amadores de Curitiba.

Se no mundo da bola o Pinheirão deixou os holofotes há muito tempo, o mesmo não pode ser dito no âmbito jurídico. Na próxima terça-feira (3), os desembargadores do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) deverão decidir se o leilão realizado no dia 25 de setembro de 2007, então ordenado pela 4.ª Vara de Fazenda Pública, é válido ou não. Na ocasião, empresa Madeshopping, pertencente ao Grupo Tacla, arrematou o terreno de 124.553 metros quadrados onde encontra-se o estádio e a sede da FPF por R$ 11,2 milhões.

“Esta será a terceira vez em que o agravo de instrumento que impetramos será analisado. Dos três desembargadores do TJ-PR, o relator (Antônio Renato Strapasson) acolheu o nosso pedido. Já o doutor Lauro Laertes de Oliveira havia votado no sentido de que avaliação feita pela justiça federal (R$ 22 milhões) é válida, assim como o valor pago no último leilão, por ser 50% da análise inicial. Já o desembargador Silvio Vericondo Fernandes Dias pediu vistas pela segunda vez, mas a intenção de voto dele é acompanhar o relator. Agora só nos resta aguardar”, esmiúça o advogado da FPF, Juliano França Tetto.

O presidente Hélio Cury lembra que a federação não é contra o leilão do Pinheirão, mas sim pelo valor pago. “Estudos contratados por nós revelaram que a área física vale R$ 33 milhões, e somada às edificações, esse valor sobe para R$ 52 milhões”, completa o mandatário da FPF. Se o TJ-PR validar o leilão, o caso deve parar no Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília, prolongando ainda mais a “agonia” do estádio. Quanto ao futuro do Pinheirão, ele é incerto, mas algumas possibilidades já estão sendo discutidos.

Ginásio em pauta

Com dívidas que superam os R$ 50 milhões, a FPF aguarda ansiosamente a negociação do Pinheirão, seja com a iniciativa privada, ou ainda com entidades públicas. Neste aspecto, a prefeitura de Curitiba está em vantagem, como declara Hélio Cury.

“Acho que o caminho seria a negociação do estádio com a prefeitura de Curitiba, que necessita ginásio de esporte. Hoje a cidade não recebe eventos maiores porque não existe um local para abrigá-los. Como já existe uma proposta, ainda da época em que fui diretor da secretaria de Esportes na gestão do prefeito Beto Richa, cabe uma negociação. Já estivemos reunidos, mas ainda não existe nada concreto”.

A prefeitura, de fato, pretende construir em um futuro próximo, um grande ginásio poliesportivo municipal. A dívida de R$ 8 milhões em IPTU que a federação tem junto ao órgão podem ajudar para que o acordo realmente aconteça. “É preciso levar em conta que parte da área onde hoje se encontra o Pinheirão foi doada pela prefeitura em 1969”, diz o presidente da FPF, que não esconde a expectativa pelo acordo.

Segundo o atual secretário municipal de Esportes e Lazer, Neivo Beraldin, a possibilidade de acordo é possível. “Vejo com bons olhos o uso deste terreno para a construção do novo ginásio. Poderíamos até instalar a própria secretaria lá. A área é bem localizada, atende aos nossos interesses, e eu estarei em contato com a FPF para que as dificuldades que existem atualmente sejam superadas”.

Até o fim de 2008, a prefeitura espera que a verba de R$ 24 milhões, pleiteada pela bancada de deputados federais do estado no Congresso Nacional, seja aprovada. “É uma obra grande, envolve muito dinheiro, e digo que é um projeto acima dos R$ 50 milhões, para atender eventos internacionais e grandes espetáculos. O prefeito tem essa vontade, então vamos unir todas as partes para que isso ocorra”, argumenta Beraldin.

Outro caminho para o Pinheirão pode vir através de um novo leilão, a ser organizado posteriormente. “A negociação com a prefeitura é um caminho, mas uma nova venda através de leilão não está descartada. Vai depender também de todos os associados, a decisão deles será soberana. Nós da federação temos que administrar o futebol do estado, e não estádio”, conclui Hélio Cury.



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