10 jun 2016 - 9h54

Quando a conduta fora de campo atrapalha…

A possibilidade de ganhar a vida jogando futebol e, de quebra, ter acesso ao dinheiro e uma vida de uma celebridade faz a cabeça de muitos jovens pelo Brasil. Para conquistar esse sonho, o caminho não é nada fácil. A concorrência, os testes, empresários e outros fatores definem a trajetória de quem será um jogador de futebol profissional ou não.

Só que mesmo depois de superar todas essas barreiras, existem jogadores que colocam em risco suas carreiras por causa da conduta fora de campo. Dentro do Atlético, diversos jovens atletas surgiram como promessas, mas se perderam na carreira devido aos problemas de indisciplina.

A Furacao.com ouviu alguns especialistas sobre a importância da disciplina e o quanto a falta dela pode atrapalhar os jogadores, mesmo aqueles com grande qualidade técnica. Nos últimos anos, nomes que despontavam como grandes revelações do clube decepcionaram em razão de uma vida desregrada.

Exemplos não faltam

Um dos casos mais emblemáticos de um jogador que teve grandes momentos, mas que não atingiu todo o potencial foi o do volante Alan Bahia. Ele passou por todas as categorias de base do Furacão, jogou em equipes memoráveis como as de 2004 e 2005 e detém o recorde de número de partidas jogadas pelo Atlético, mas frequentemente era relacionado a uma intensa vida noturna.

Em 2007, o jogador se envolveu em um acidente de carro em que o ex-jogador Alex Miranda morreu. No carro de Alan Bahia, foram encontradas latas de cerveja. Desde que saiu do Atlético, em 2010, aos 27 anos, o jogador acumulou passagens apagadas por Goiás, Rio Verde, América de Natal, XV de Piracicaba, Treze da Paraíba, Mamoré. Atualmente, ele defende o Paulista de Jundiaí. Uma trajetória aquém das expectativas para um jogador apontado por Mário Sérgio como com totais condições de atuar na Europa.

Na equipe vice-campeã da Copa São Paulo de Futebol Júnior de 2009, o lateral-direita Raul e o volante Willian encheram de esperança a torcida atleticana, mas não tiveram sucesso no profissional e seus nomes eram frequentemente relacionados às festas noturnas de Curitiba. Os dois jogadores saíram do clube e nunca se firmaram em uma equipe de grande importância do futebol brasileiro. O último clube de Raul foi o Monte Azul, da Série A2 do Campeonato Paulista, e o de Willian foi o Naviraiense, do Mato Grosso do Sul.

Em 2015, o meia-atacante Marco Damasceno, uma das maiores promessas do Atlético, envolveu-se com problemas pela conduta fora de campo junto com o atacante Crysan, também da base do Furacão e atualmente emprestado para o Oeste. Os dois foram afastados da equipe principal depois de terem sido encontrados em uma casa noturna na véspera de um jogo contra o Atlético Mineiro pelo Campeonato Brasileiro e perderam espaço no time principal.

Na época, o técnico Milton Mendes ficou na bronca com os atletas: “Nosso Brasil, infelizmente, está cheio de presos em todos os presídios porque as pessoas não têm uma linha, não sabem o que é certo e o que é errado. Misturam uma série de coisas. Lógico que é cultural, vem lá de trás, mas todos precisamos saber que temos que ter um limite. Lógico que o jogador de futebol não tem uma vida normal. Eles têm alguns direitos, mas também têm os deveres”, desabafou.

Em seguida ao ocorrido, o empresário do atleta Jesuilton Montalvão disse que ao jornal Gazeta do Povo que a “punição é importante para que o jogador acorde a tempo. Ele tem um futuro promissor e essa situação poder acabar comprometendo um dos principais atletas dessa nova geração. Ele é jovem e com o dinheiro e a carreia acontece esse deslumbramento”.

Na última terça-feira (09/06), Marco Damasceno, hoje com 19 anos, teve o seu contrato rescindido com o Furacão, em um consenso com o clube, de acordo com o empresário do jogador João Mazur. No fim de maio, o jogador foi dispensado do Sampaio Corrêa, time em que jogava por empréstimo desde março deste ano, após avaliação do técnico Wagner Lopres, que exigiu disciplina de seus comandados. Seu contrato com o Atlético iria até o ano de 2018.

Fama, dinheiro e… indisciplina

O jornalista Guilherme Moreira, do Lance!, observa que o fator cultural é o que leva os jogadores a esse comportamento: “É uma cultura brasileira de jogador frequentar balada, fazer churrascos e toda essa festa para comemorar ou até mesmo para esquecer os problemas. Nós mesmos fazemos o mesmo, na maioria. Não é algo novo e sempre vai ter”.

O jornalista e blogueiro do Atlético no GloboEsporte.com Juliano Lorenz também trabalha em casas noturnas, onde costuma ver atletas: “Já encontrei muitos jogadores e continuo encontrando por trabalhar com a noite, mas eles vão quase sempre após os jogos. Não é comum irem na véspera. Imagino que alguns jovens precisam sacrificar-se mais no começo da carreira, até se firmarem no futebol profissional em alto nível”.

Um dos maiores ídolos do Atlético, o ex-volante Cocito, comenta sobre o que leva um jogador aos casos de indisciplina fora de campo. “Geralmente a maioria dos jogadores vem de classe baixa e nao tem uma boa formação . Na medida que vão ganhando dinheiro e fama, o sucesso sobe à cabeça e a facilidade com se consegue mulheres é um dos fatores que faz com eles percam o controle e aí ocorre a inversão de valores que infelizmente o tiram do foco que é jogar futebol”, opina.
Cocito não é contra a que um atleta se divirta, mas prega a moderação. “Não digo que não possam se divertir porém tudo tem sua hora. Tem que se aproveitar ao máximo a carreira, pois passa num piscar de olhos”, alerta o ex-atleta.

Problemas fisiológicos

De acordo com o educador físico Christian Korgut, especialista em Ciências do Treinamento em Futebol pela Universidade Gama Filho e com passagens pelas categorias de base do Atlético, Grêmio Barueri e Marcílio Dias, uma vida desregrada fora de campo pode comprometer a carreira de um atleta. “A vida noturna não precisa ser intensa para causar malefícios. Alguns estudiosos da área, inclusive, defendem que o descanso deve estar em primeiro lugar, até mesmo a frente do treinamento”, explica.
Outro ponto destacado por Korgut é o consumo exagerado de bebidas alcóolicas, que, além de causar prejuízos ao corpo, afeta o psicológico do atleta. “O álcool influencia muito o treinamento de qualquer atleta, jogador ou pessoa com uma vida normal, pois compromete partes do cérebro responsáveis pela memória, aprendizagem, motivação e autocontrole. É considerada uma droga depressora, ou seja, causa efeitos semelhantes aos da depressão”, ensina.

Korgut afirma que hoje o futebol é um esporte de alto rendimento e não admite mais casos como os de jogadores do passado que conseguiam conciliar a boemia ao esporte. “Antigamente, a ciência não estava inserida no futebol como nos tempos de hoje. Hoje acompanhamos veteranos com quase 40 anos no seu auge e isso se dá ao sucesso da ciência inserida no esporte e a conscientização dos atletas com o corpo e mente”, finaliza.



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