20 jun 2019 - 11h56

Até o fim

No dia 10 de maio de 2005, o Athletico sofria uma das piores goleadas da história jogando dentro de seus domínios. Na Arena da Baixada, jogando pela Libertadores, o Independiente de Medellín aplicava 4 a 0 no rubro-negro do técnico Edinho – e a derrota só não foi mais sofrida porque no outro jogo do grupo, um gol do zagueiro José Devaca, do Libertad, em partida contra o América de Cali, na Colômbia, deu a classificação para o Athletico às oitavas de final da competição.

Os dias seguintes à pesada derrota foram de profundas mudanças no Furacão. 12 jogadores foram dispensados, e junto com eles também foi demitido o técnico Edinho Nazareth. O Athletico buscava mudar o rumo das coisas rapidamente para salvar seu ano.

Em meio ao turbilhão e todas as mudanças que ocorriam, o clube registrou novos atletas visando melhorar seu desempenho na segunda metade do ano. Então surgia, pela primeira vez, o nome de Paulo André no elenco atleticano. Causou estranheza o fato do então desconhecido zagueiro ter sido inscrito e não disputar um único jogo na Libertadores, mas poucos sabiam que naquele momento o atleta já estava mostrando o seu grande caráter ao postergar sua vinda ao Athletico para ajudar o Guarani – em má fase na série B e flertando com o descenso à época.

Na partida contra o Fortaleza, disputada no Couto Pereira, fez sua estreia com a camisa rubro-negra e dali em diante virou o titular da equipe no Brasileirão, logo caindo nas graças da torcida e ajudando o Furacão na campanha de retomada após um início ruim na competição nacional, levando o clube a terminar o Campeonato na sexta colocação.

Porém, tão rápida quanto sua adaptação foi também sua primeira passagem pelo clube. No meio da temporada 2006, Paulo André – a esta altura já consolidado como um dos principais nomes do elenco – foi negociado com o Le Mans da França. Deixou saudades após sua curta passagem, mas como ele mesmo relata em sua autobiografia, deixou também uma promessa – ele voltaria ao clube algum dia.

O dia foi 06 de janeiro de 2016. Junto com Thiago Heleno e Leo Pereira (que retornava de empréstimo), Paulo André era anunciado como novo reforço. Mas desta vez – para alegria da torcida atleticana – sua passagem não seria rápida.

Cercado de desconfiança devido às suas últimas passagens pelo futebol chinês e pelo Cruzeiro, o zagueiro chegou ao CT como um atleta muito diferente daquele que tinha deixado o clube 10 anos antes: agora carregava um respeitável currículo, com título Brasileiro, da Libertadores e Mundial pelo Corinthians. Encontrou no CT do Athletico uma estrutura ainda maior do que a que conhecia, mas enxergou um clube de mal com a torcida e num jejum de 7 anos sem saber o que era levantar um título.

E já em 2016, Paulo André mostrou que não tinha vindo apenas para encerrar sua carreira em paz. Buscou o caminho mais difícil: o de incutir num clube carente de títulos uma mentalidade vencedora. Com sua experiência, juntamente com a de Paulo Autuori, lideraram o elenco pelo exemplo. Lido nas entrelinhas, o recado dos líderes era o seguinte: já ganhamos tudo e estamos aqui pra continuar ganhando. E o jovem elenco do Athletico entendeu o recado – era preciso ter uma chama ardendo no peito e mantê-la viva até o fim.

O título Paranaense de 2016 foi um marco silencioso no futebol do estado, e só foi enxergado em 2018. Após levantar mais um título estadual – desta vez com o time de aspirantes – o Furacão conquistou a Sulamericana. Abriu um abismo de distância para o rival local e reconquistou seu espaço a nível nacional após anos batendo na trave em grandes competições.

Com um cargo de diretor já garantido no clube, era natural que Paulo André encerrasse sua carreira ao fim de 2018 – com mais um título continental em seu currículo. Mas novamente ele mostrou que não escolheria o caminho fácil. Renovou por mais 6 meses seu vínculo como atleta para garantir um início de temporada menos turbulento ao clube. E, não satisfeito, pediu para jogar com os garotos no Campeonato Paranaense 2019, no pior momento do clube na competição. Ajudou a jovem equipe a se reerguer e levantou o seu último troféu na carreira de atleta.

Seu último troféu, inclusive, pode parecer irrelevante diante de uma carreira tão brilhante, mas por incrível que pareça, o título conquistado a duras penas é talvez o maior símbolo de sua trajetória de humildade, respeito aos lugares por onde passou e, sobretudo, de imensa vontade de ganhar e se superar.

Se resta um consolo na despedida deste grande ídolo dos gramados é saber que ele continuará ajudando o clube, agora nos bastidores. E que apesar da aposentadoria, Paulo André continuará jogando – pelo menos enquanto houver dentro de campo 11 jogadores atleticanos com a chama ardendo no peito e querendo vencer. Até o fim.

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