14 abr 2020 - 2h45

Relatos de quem viveu aquele Atletiba

“1995 era o ano em que completaria 20 anos de idade, cursinho pré vestibular com vários amigos atleticanos que já me acompanhavam em jogos há anos, e no dia 16 de abril seria mais um Atletiba, bem no domingo de Páscoa, a semana já começava diferente.
Tudo já combinado com os amigos: acordar domingo pela manhã e ir pra Baixada pra seguir a pé com a torcida até o estádio rival. Éramos todos jovens então a caminhada seria tranquila com o restante da torcida. A concentração já se dava por volta das 11h com arrecadação de trocados para o “tubão” e o pão com mortadela de almoço dominical. Enquanto a maioria das pessoas estava no almoço de Páscoa com a família já estávamos mais ansiosos para o jogo do que crianças procurando os ovos deixados pelo coelho.
Durante a caminhada que naquela época não possuía a escolta policial, seguiamos por conta própria escolhendo o percurso, e passar pela Boca Maldita cantando e entoando as músicas da torcida era obrigação.
Na chegada ao pinga mijo, o bloco de torcedores parecia não ter fim, a subida da rua do Colégio Estadual estava toda rubro negra, logo se formou aquele tumulto para comprar ingressos nas bilheterias, a torcida visitante ficava na curva de entrada junto a igreja, em frente a sede administrativa do estádio, e todos queriam entrar o quanto antes porque em Atletiba o jogo começa muito antes da bola rolar, descarregando o caminhão com as bandeiras, instrumentos, papel higiênico a bateria de foguetes para a entrada do time e com as provocações na arquibancada.
Tínhamos um time muito limitado, bem remendado, onde começava pelo Gilmar o goleiro que nos dias de hoje diríamos que tinha um “Delay” na hora de saltar na bola.
Primeiro tempo o time rival já tinha feito 3×0 a torcida já tinha diminuído a empolgação na arquibancada, foi quando no segundo tempo o zagueiro Pádua diminuía o placar e então aconteceu algo inacreditável, os três anéis da arquibancada visitante se levantaram e começaram a cantar o hino do Atlético puxado pela Fanáticos, de uma maneira que nunca tinha visto antes. Aquele espaço ganhou uma energia, a indignação, a raiva, a frustração se transformaram em uma demonstração de amor e paixão nunca vista antes. Quem chegasse no estádio naquele momento do jogo teria a certeza que quem estava ganhando o jogo era o Atlético, pois a torcida cantava não apenas com a voz mas com a alma do verdadeiro atleticano. Aquele momento foi único, olhava ao meu redor e via meus amigos e outros torcedores de olhos fechados, mão no peito em cima do nosso símbolo cantando com orgulho com paixão com a raça que nos legou o sangue forte.
Naqueles momentos entre o quarto gol e o quinto do rival foram momentos sublimes no qual todos nós torcedores atleticanos fizemos com que o gestor Mario Celso Petráglia tomasse a decisão de assumir logo em seguida a direção do clube para que houvesse a revolução.
Foi uma das maiores goleadas sofridas diante do rival, inclusive chamada de Atletiba do chocolate, mas aí mesmo tempo a maior demonstração de amor ao seu clube por uma torcida que até estava acostumada com a fase ruim, com as derrotas, mas que não aceitava a ideia de ter um time sem raça, sem vigor, que  ao menos não lutasse.”MARCOS LIMA SEBRAO, Sapo. Membro da bateria da Torcida Os Fanáticos.

  1. Rubro-negros ficavam na curva de entrada do estádio (foto/ arquivo pessoal RENATO SOZZI)

 

“Esse com certeza foi o dia que eu vi a nossa torcida cantar mais alto em toda nossa história.

Foi o dia que o ” Dr ” Mário disse que sentia pena de um povo tão apaixonado torcer para um time tão horrível, e o pior que era mesmo! Depois tomamos o quarto e o quinto, daí desandou a maionese de vez.” JULIO CESAR SOBOTA, Julião, ex-presidente da Torcida Os Fanáticos.

“Estamos na Páscoa. Derrotas deveriam ser esquecidas, goleadas jamais lembradas. Mas aquela goleada de 1995 nos remete a boas memórias.

Eu era Conselheiro do clube à época, participei das reuniões e vivi os bastidores do Atlético nos últimos 15 anos como presidente da FANÁTICOS.

Já havia um movimento antes do jogo para tirar Hussein Zraick da Presidência. Este foi mais um corajoso que assumiu o clube em épocas magras. Mas a torcida atleticana tem mais uma vez que ser o motivo principal de toda aquela revolução. Sempre foi uma lei na Fanáticos de se for para um clássico para empatar na vibração com os coxas, nem vamos.

Então, fizemos jus e no intervalo do jogo perdendo de 3 a 0, as arquibancadas inteiras da Igreja Perpétuo Socorro, de pé entoava o hino do Furacão, deixando calada mais uma vez a torcida adversária.

Perdíamos em campo mas mostrávamos nossa paixão incondicional. Aquilo acelerou um grupo de cartolas assumir, fazendo um colegiado. Mário Celso Petraglia  virou um porta-voz das inovações , mas tudo foi promovido sob a tutela destes grandes atleticanos: Valmor Zimmermann, Ademir Adur, Marcos Coelho, ÊnIo FornÉa, Guivan Bueno, Nelson Fanaya, Fleury  entre outros que formaram um colegiado revezando-se na presidência do clube.

Este legado nos trouxe um horizonte jamais imaginado pelos atleticanos que se acostumaram a torcer nas arquibancadas de tijolos junto com os pinheiros da querida baixada.

Antes disto a torcida exigira e ajudou presidente Farinhaque na construção e do retorno à Baixada. Em um ano veio a volta primeira divisão com o título, em dois,  vieram o estádio abaixo para construção da moderna Arena,  o melhor CT do Brasil e o ápice do título de campeão brasileiro em 2001 .

Mas nada disso valeria se não fosse o maior patrimônio do Clube Atlético Paranaense: sua torcida. Esta que nunca abandonou em nenhum momento, seja a décadas atrás onde ganhou apenas 4 títulos em 33 anos, (49/58/70/82), seja no torneio da morte em 1980 ou nos rebaixamentos.

Após este jogo, vivenciamos uma nova era de grandes conquistas, de respeito e ser temido pelo Brasil e pela América do Sul.   Nossa torcida encantou o País nos jogos decisivos e televisionados em 2001.  Enquanto que o time vencedor daquela Páscoa, diminuiu de tamanho, se contenta com vitórias escassas e endividado não agregou nada mais em sua história.

Eu sei bem o que é a torcida atleticana, forte apaixonada vibrante aguerrida e de uma beleza única. Aos ilustres atleticanos obrigado, a torcida meu orgulho eterno de ter podido contribuir…” RENATO SOZZI, ex-presidente da Torcida Os Fanáticos.



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