26 ago 2020 - 21h50

Quem ensina é quem mais deveria aprender

A palavra “professor” é frequentemente usada para se referir aos treinadores de futebol. São eles quem orientam e ensinam o jogo aos jogadores, que desde cedo são treinados só para aprender a técnica. No Brasil, entretanto, o que mais existe no mercado são “escaladores” (técnicos que acham que tudo se resolve só escalando as peças certas) e poucos são os que podem ser chamados de professores.

Dorival é um dos poucos que podem ser vistos desta última forma. A torcida atleticana pode até o odiar, mas o fato é que o treinador atleticano é um dos poucos que teve o cuidado de ir buscar atualizar seus conhecimentos lá fora, e ao longo da carreira quase sempre conseguiu montar equipes que jogavam um futebol propositivo.

Concordei plenamente com o texto do colega Gabriel Carvalho aqui na Furacão.com, onde ele mostrou ponto a ponto motivos para dar crédito a Dorival Junior. Continuo acreditando que se trata de um profissional competente e que talvez em um outro momento pudesse contribuir muito com o Athletico. Mas após a derrota para um irreconhecível São Paulo, extremamente frágil, comandado por Fernando Diniz (o técnico que tem uma suposta ideia de futebol que até hoje não conseguiu fazer sair da própria cabeça), ficou claro que Dorival não deve ter vida longa no rubro-negro. Pode ser que saia hoje ou daqui um mês, mas é praticamente impossível pensar que um time que mal tem tempo de se recuperar fisicamente, quanto mais treinar taticamente, vai conseguir evoluir. E o futebol que mostra no momento é simplesmente horrível.

Se defendo o profissional Dorival num âmbito geral, também tenho uma crítica, e talvez tenha sido o erro que o impediu de progredir no Athletico: quando você ensina, tem que estar disposto a aprender.

Dorival chegou ao Athletico com um time titular sendo desmontado, mas também com uma base suficientemente grande para manter um estilo de jogo que já estava consolidado. O bom professor deveria ter assistido partidas do Furacão que assolou o Brasil em 2019, entender quais as ideias estavam sendo postas em prática, aprende-las e molda-las ao longo do tempo para ir transformando o Athletico “de Tiago” em Athletico “de Dorival.

Mas Dorival escolheu o pior caminho e tentou começar um trabalho do zero. Pôs abaixo todas as ideias que já estavam consolidadas e tentou, com muito menos recursos (visto que o elenco atual é mais fraco que o do ano passado), implantar algo totalmente novo em todas as fases do jogo. Laterais por dentro, saída em linha, marcação por pressão, fim das diagonais… O Athletico não pratica mais nada do que já fazia no automático. O elenco não virou a chave, Dorival não cedeu de suas ideias, e o que vemos agora é um time em campo que nitidamente não sabe o que fazer.

O ano é péssimo para avaliar um trabalho sem ser um pouco injusto. O ritmo normal do futebol brasileiro já impede que qualquer ideia tenha tempo para ser desenvolvida com excelência. O dito “novo normal”, então, é praticamente um massacre ao bom futebol. Mas independentemente das circunstâncias, Dorival cometeu um pecado que é imperdoável para alguém que se propõe a ensinar: esqueceu que sempre é possível aprender. E pagará o preço, cedo ou tarde.



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