23 set 2020 - 12h53

Libertadores, estamos aqui

Do alto da nossa sétima participação na Copa Libertadores da América, temos que reconhecer que já temos muita história para contar: da primeira participação, via Seletiva, àquelas participações decorrentes de Taças de primeira magnitude. Mas o fato é que, além de estarmos cada vez mais habituados a esse “novo normal” de participações recorrentes, também potencializamos a nossa obsessão por conquistar a taça mais charmosa do planeta.

Que me desculpem os reis dos scouts e os aficionados pelo estilo europeu, mas a Libertadores realmente simboliza uma obsessão e a busca pela “Glória Eterna”. Sua ampla e diversa geografia, seus jogos pegados, a catimba peculiar, os regionalismos em cada detalhe, o espírito copeiro que a permeia, as cenas lamentáveis, as torcidas em catarse, cachorros invasores e o sangue latino fervendo em cada disputa de bola são alguns dos ingredientes que fazem dessa competição a mais visceral que há!

Além disso, é necessário reconhecer que a Copa Libertadores se apresenta como o campeonato mais complexo do mundo, seja pelos motivos mencionados acima ou pelos próprios adversários. E isso não é opinião, é um fato! Basta analisarmos a história desse torneio e a quantidade de insucessos de vários favoritos, seja em partidas ou na disputa do título. Ou vocês acham que os são-paulinos seriam campões jogando numa apoteótica Baixada?

Esse contexto só me faz pensar que o Athletico nasceu pra esse campeonato tão peculiar! Afinal de contas, somos experts em jogos de tirar o fôlego, somos apegados aos roteiros imprevisíveis, contamos com uma torcida inflamada, um Caldeirão e, sobretudo, temos como marca registrada a forma aguerrida de jogar.

Enfim, já são vinte anos de intimidade e, se a memória falha em algumas questões circunstanciais, posso dizer que minha natureza cinestésica eternizou momentos especiais dessa trajetória internacional na minha mente. E como toda participação nos rendeu pelo menos um grande jogo, optei por – com uma certa dificuldade – escolher os meus quatro favoritos:

Furacão x Santos (2005), quando mais de 22 mil atleticanos acompanharam um dos maiores exemplos de superação já vistos entre as quatro linhas da Arena da Baixada. Foi daquele jeito: se torcida não ganha jogo sozinha, lhes garanto que uma torcida ensandecida aliada a um time brioso, transforma qualquer time em uma seleção.

A propósito, esclareço aos mais novos, que o que se viu (e se sentiu) naquele 01/06 foi o mais próximo daquele clima de remontada que experimentamos recentemente. Na verdade, foi como vencer o Flamengo de Jorge Jesus naquele clima de semifinal da nossa Copa do Brasil.

Arena foi importante na Libertadores de 2005 [foto: arquivo ]
Foi de virada, foi com um a menos (desde a metade do 1º tempo), foi diante do time mais badalado daquela época, foi contra um elenco superior tecnicamente, mas naquela data nem se o atual campeão da Champions League pousasse no gramado a gente perderia o jogo.

E até hoje, fechando os olhos, voltando àquela jornada histórica, consigo ouvir o canto apaixonado das vozes atleticanas, incendiando o Caldeirão.

Furacão x Sporting Cristal (2014), onde a nossa participação no torneio foi de tirar o torcedor do sério. Naquele ano, cometemos erros capitais desde o planejamento, que acabaram acarretando na nossa saída precoce ainda na fase de grupos.

Mesmo assim, logo na pré-libertadores, vivenciamos um jogo tão incrível, que a gente quase esqueceu do contexto que veio depois.

Nessa partida contra o time peruano só faltou cachorro em campo, porque de resto teve todos aqueles componentes bem característicos de Libertadores: jogo truncado, expulsões, cenas lamentáveis, lance capital no apagar das luzes, sobrenatural “de Almeida”, penalidades e a prova de que “o jogo só acaba quando termina”.

Na arquibancada, vivenciamos de tudo, desde aqueles torcedores putos deixando o estádio e retornando correndo quando o chute do Cleberson ensejou o pênalti, a promessas e cumprimento de tudo quanto é protocolo de bons auspícios.

Minhas emoções foram ainda potencializadas por se tratar do meu retorno ao estádio depois do nascimento do meu filho e a certeza de que nem os hormônios da maternidade são capazes de tantas oscilações como uma partida de Libertadores.

Furacão x Universidad Católica (2017), quando ao contrário da última participação, fomos um pouco mais iludidos para essa Liberta. Mas a campanha se apresentou bem mais difícil do que prevíamos – mesmo nos jogos sob nossos domínios territoriais – e, diante de alguns insucessos inesperados, viajamos para o Chile com a necessidade de um resultado favorável.

A nossa tarefa não era fácil, já que o Flamengo – o outro brasileiro da chave – possuía 8 combinações passíveis de classificação e 1 única de desclassificação!

E quando penso nesse contexto todo me pergunto: quanto será que o aplicativo de apostas pagaria por essa classificação do Athletico e a desclassificação dos cariocas? Pouco importa, porque para nós atleticanos, “o milagre de Apoquindo” não teve preço, foi história pura.

Douglas Coutinho marcou naquele jogaço (foto: reprodução FURACAO.COM)

O roteiro de gala se torna ainda mais incrementado quando percebemos que os três gols saíram a partir da trinca de substituições realizadas pelo grande Autuori, ou seja, os heróis “diretos” saíram do banco de reservas: Eduardo da Silva de cabeça, Douglas Coutinho com o gol mais antológico de sua existência e Cazalbé num arremate que o levou às lágrimas.

As bolinhas no rodapé dando a letra do que se passava naquela rodada também amplificaram o nosso nervosismo, mas tornaram a vitória e classificação ainda mais emblemáticas.

Mais Libertadores, impossível!

Mas se até agora eu trouxe lembranças dos jogos dramáticos e da tendência atleticana à superação, esse jogo Furacão x Boca Juniors (2019) eu posso chamar de céu! O paraíso, o desfrute, o momento de deleite e realização de um sonho!

Aliás, até hoje me pergunto se aquela partida realmente aconteceu ou faz parte de um delírio coletivo. Afinal, antes daquele jogo impecável, mesmo com a nossa melhor formação em Libertadores, nem o mais positivo dos atleticanos imaginaria um script tão fantástico. E, reafirmo aqui que, apesar de ser uma otimista/clubista/emocionada inveterada, só conseguia direcionar aos céus o pedido de um jogo digno e que não fôssemos humilhados em nossa casa.

Só que os planos dos céus para os atleticanos eram bem mais ousados, teve rinha de argentino, partida impecável do Athletico, jogão – apesar do amplo placar atleticano, não foi jogo de um time só -, contra-ataques de almanaque, hat-trick, nascimento de ídolo, curativo na cara e o povão rubro-negro alucinado.

Mas sabe o que é o melhor de tudo isso? É que apesar de termos muitos feitos para recordar, isso tudo não se trata de passado! A Taça Libertadores é o nosso presente e o nosso futuro… E hoje à noite, assim como no jogo recente lá na altitude, pode ser que tenhamos mais um jogo memorável e passível de ingressar nesse nosso rol de grandes momentos “libertadores”!

Ahhhhh! Não sei se a coluna virou podcast ou se o podcast se tornou coluna, mas quem quiser ouvir um pouco mais sobre esses jogos aqui, acesse o Podcast “Quebra o muro com as Atleticaníssimas” que foi ao ar hoje: https://spoti.fi/32XGLPw



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