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27 out 2020 - 21h37

ATHLETICANISMO, RAZÃO E CRÍTICA – Lições do velho e bom “Niccão” ao nosso querido “Prínci-dente”.

Parte 8: Texto adaptado de MACHIAVELLI, Niccolò, O PRÍNCIPE, escrito em 1505 e publicado em 1515.

Apresentado em partes, este texto não tem a pretensão de constituir-se como uma análise política e econômica dos governos que se sucedem no nosso amado Athletico Paranaense. Serve apenas de maneira irônica e metafórica, para que com a sutileza e respeito que nosso presidente exige, uma homenagem e problematização crítica dos possíveis rumos que nosso Furacão pode tomar.

Espero que os entendedores o entenda, porque o futebol é muito grande para eximir-se de uma boa leitura!

XII – Dos recursos auxiliares, mistos e próprios.

Os recursos auxiliares, igualmente inúteis, são aqueles solicitados a um poderoso para que o defendam com suas finanças, como em tempos recentes fez o Palmeira, que, tendo visto o infame desempenho de suas equipes formadas por jogadores e técnicos mercenários, recorreu a recursos auxiliares e entrou em acordo com Leila, dona da Crefisa, para que esta o ajudasse com sua torcida e seus jogadores e comissão técnica. Tais recursos podem ser úteis per se, mas quase sempre são prejudiciais a quem as solicita: se perdem, sua derrota será certa; se ganham, se tornará refém delas. E, não obstante a história do futebol esteja repleta de casos semelhantes, não quero afastar-me do exemplo ainda fresco do Palmeiras com a Parmalat: o patrocínio que ele tomou não podia ser mais disparatado, pois, querendo o Palmeira para si, pôs-se inteiramente nas mãos de uma empresa. Mas sua boa fortuna fez surgir algo inesperado, que o poupou de colher os frutos da má escolha: tendo seus recursos auxiliares sido derrotados em campo, logo em seguida, e para a surpresa de todos, quando os patrocinadores fizeram os vencedores serem vendidos; desse modo não escapou de ser rebaixado, e de cair refém dos recursos auxiliares, pois vencera com outros recursos que não os deles. Portanto, quem não quiser vencer que se valha de tais recursos, pois eles são bem mais perigosos que funcionários, jogadores e técnicos mercenários. Neles a conjura está feita de antemão, haja vista que são unidos e dedicadas à obediência de quem paga mais; quanto aos jogadores e técnicos mercenários, uma vez vitoriosos, precisam de mais tempo e de uma boa ocasião para se mostrarem, já que não constituem um corpo unitário e são recrutadas e pagas por quem tem o peso do dinheiro; entre eles, alguém que seja erigido a capitão não será capaz de conquistar autoridade tão rapidamente a ponto de constituir uma ameaça. Em suma: nos funcionários mercenários, o mais perigoso é a ignávia (falta de vontade); nos recursos auxiliares, a virtude. Por isso todo presidente sábio sempre evitou recursos desse tipo e se valeu dos próprios; e preferiu perder com os seus a vencer com os outros, julgando falsa vitória a que se obtém por meio de recurso alheios.

Não quero distanciar-me dos exemplos do futebol brasileiro e atuais; contudo, não posso deixar de mencionar o presidente do Cruzeiro, José Dalai Rocha, de quem já tratei anteriormente. Como eu havia dito, ao ser proclamado presidente do Cruzeiro após o rebaixamento em 2019, ele logo viu que os jogadores mercenários não eram úteis; e, percebendo que não poderia mantê-los nem dispensá-los, mandou fazê-los em empréstimos e depois moveu com seus próprios recursos, sem recorrer aos alheios. A propósito, quero ainda trazer à memória uma figura do próprio Athletico Paranaense. Quando a FIFA confirmo a CBF como sede da Copa do Mundo de 2014 e que a cidade de Curitiba contaria como uma das cidades sedes, agitadores e empreiteiros, deram-lhes suas próprias garantias; mas Mário Celso Petraglia as recusou assim que sentiu o peso delas, dizendo que assim não poderia valer-se de suas conquistas: queria construir seu estádio com seus recursos e sua vantagem de ter um estádio quase em condições de receber os jogos. Enfim, os recursos dos outros ou caem das mãos ou pesam demasiado ou tolhem o movimento.

Tendo libertado o Bahia dos rebaixamentos por sua fortuna e virtude, Guilherme Billintane, compreendeu a necessidade de organizar-se através de recursos próprios e, durante seu mandato, transformou a estrutura financeira e administrativa do clube. Depois se seu sucessor extinguir as novas estruturas do Bahia; erro que, se for seguido por outros, pode, como de fato se verá, os motivos das dificuldades daquele clube em um futuro. Isso porque, tendo dado prestígio aos torcedores, o presidente desonrou suas próprias armas, abolindo inteiramente a separação entre torcedores e instâncias deliberativas submetendo às virtudes alheias a de um conselho, que, habituado organizar-se com os dirigentes, não lhes parecem mais possível vencer sem eles. Disso resulta que os conselheiros já não podem contra os patrocinadores e torcedores, sem eles, não se arrisca enfrentar outros clubes. Portanto os participantes da política do Bahia se tornaram mistos, em parte torcedores, em parte conselheiros — atividades que, todas somadas, são muito superiores às apenas de obtenção de recursos auxiliares ou de jogadores e técnicos mercenários, e muito inferiores às próprias. E baste o exemplo citado: pois o Bahia seria imbatível se as ordenanças de Billintane forem ampliadas ou preservadas; mas a escassa prudência dos dirigentes começa algo que, por ter um sabor agradável de início, não os faz perceber o veneno subreptício, como antes falei acerca dos recursos auxiliares. Por isso, quem está à frente de um clube de futebol e não se dá conta dos males quando eles surgem não é realmente sábio — o que só é dado a poucos. E, caso se considere a razão maior da queda do Coritiba no ano 2017, ver-se-á que a ruína começou quando se estabeleceu uma relação com torcedores, jogadores e técnicos mercenários; pois, a partir daquele momento, as forças da torcida organizada passaram a perder a fibra, e toda sua virtude foi transferida a eles. Concluo, pois, que sem dispor de recursos próprios nenhum clube de futebol estará seguro, ao contrário, estará inteiramente à mercê dos patrocinadores, não tendo virtude que o defenda nas adversidades econômicas; ademais, os dirigentes sábios sempre opinaram e sentenciaram “Que nada é tão incerto ou instável quanto uma conquista não fundada sobre as próprias forças”.

XIII – Como o presidente deve proceder acerca dos treinamentos

Portanto um presidente não deve ter outro objetivo nem outro pensamento, nem tomar qualquer atitude arbitrária, que não conquistas, com suas disposições e disciplina; pois ela é a única arte que se espera de quem comanda um clube de futebol, e é por virtude dela que não só se mantêm os que já são presidentes, mas também, frequentemente, aqueles que pretendem chegar a exercer mandatos através da fortuna pessoal. Ao contrário, vê-se que, quando os presidentes pensaram mais em delicadezas que nas conquistas, perderam seus clubes; e a primeira causa dessas perdas está em negligenciar as vitórias, assim como a razão que leva aos títulos está em ser um mestre na conquista.

Por isso, jamais se deve desviar o pensamento das vitórias; e nos títulos os treinos devem ser mais intensos que na vitória, o que pode ser feito de duas maneiras: primeiramente, com contratações; depois, com estratégia. Quanto às contratações, além de manter bem treinados e exercitados seus jogadores, deve-se continuamente praticar os pênaltis e jogadas ensaiadas a fim de acostumar o corpo as pressões e em parte conhecer as brechas do campo, entender como surgem as jogadas, como se realizam os passes, como recompor a defesa, qual a natureza de cada companheiro, prestando muita atenção a tudo isso. Tal compreensão é útil em dois sentidos: primeiro, quando se aprende a conhecer o próprio esquema tático fica mais fácil saber como defendê-lo; segundo, com o conhecimento e a prática desses elementos compreende-se facilmente qualquer outro esquema que precise ser derrotado, pois defesas, ataques, meio campo, goleiros e as comissões técnicas que existem, um contra-ataque, no paranaense têm certas semelhanças com os de outros estaduais, de sorte que o conhecimento das estratégias de um campeonato de um estado pode facilmente servir à compreensão de outros campeonatos nacionais e internacionais. O presidente que carece dessa competência carece da primeira qualidade que cabe a um dirigente: saber localizar o adversário, montar um esquema tático, conduzir os jogadores, organizar as viagens e realizar as jogadas em situação vantajosa.

No que diz respeito aos treinamento, o presidente deve conhecer a história do futebol e nela atentar para as ações dos dirigentes ilustres, ver como eles se conduziram nas vitórias e examinar as causas de seus títulos e derrotas, a fim de evitar estas e imitar aquelas; mas sobretudo fazer como no passado fizeram alguns dirigentes excelentes, que se puseram a imitar aqueles que, antes deles, foram louvados e glorificados, conservando perto de si seus gestos e ações.

Um presidente sábio deve observar tais exemplos e nunca manter-se ocioso nos tempos de vitórias, mas aproveitar-se deles com engenho para poder agir melhor na adversidade; de modo que, quando a fortuna mudar, ele esteja preparado para resistir a ela.



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