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11 nov 2020 - 14h55

ATHLETICANISMO, RAZÃO E CRÍTICA – Lições do velho e bom “Niccão” ao nosso querido “Prínci-dente”. (Final)

Parte 8 (final): Texto adaptado de MACHIAVELLI, Niccolò, O PRÍNCIPE, escrito em 1505 e publicado em 1515.

Apresentado em partes, este texto não tem a pretensão de constituir-se como uma análise política e econômica dos governos que se sucedem no nosso amado Athletico Paranaense. Serve apenas de maneira irônica e metafórica, para que com a sutileza e respeito que nosso presidente exige, uma homenagem e problematização crítica dos possíveis rumos que nosso Furacão pode tomar.

Espero que os entendedores o entenda, porque o futebol é muito grande para eximir-se de uma boa leitura!

XIV – Das coisas pelas quais os torcedores, sobretudo os presidentes, são lembrados ou esquecidos

Resta agora examinar quais devem ser os procedimentos e as ações na gestão de um presidente em relação aos seus torcedores e aos seus associados. Como sei que muitos já escreveram sobre o assunto, receio ser tomado por presunçoso ao tratar mais uma vez do tema, sobretudo por apartar-me dos argumentos da maioria. Porém, sendo minha intenção escrever coisas que sejam úteis a quem se interesse, pareceu-me mais conveniente ir direto à verdade efetiva da coisa que à imaginação em torno dela. E não foram poucos os que imaginaram clubes e equipes que nunca se viram nem se verificaram na realidade. Todavia a distância entre o como se joga e o como se deveria jogar é tão grande que quem deixa o que se faz pelo que se deveria fazer contribui rapidamente para a própria ruína e compromete sua preservação: porque o torcedor/conselheiros que quiser serem bons em todos os aspectos terminará arruinado entre tantos que não são bons. Por isso é preciso que o presidente aprenda, caso queira manter-se no poder, a não ser bom e a valer-se disso segundo a necessidade. Deixando de lado, pois, as coisas imaginosas sobre um presidente e discorrendo acerca das verdadeiras, digo que todos os sócios dignos de atenção — mas principalmente os torcedores/conselheiros, por ocuparem um posto mais organizado — são julgados por certas qualidades que lhes podem render reprovações ou elogios. Isso porque uns são tidos por apaixonados, outros, por fanáticos (para usar um termo athleticano, porque torcida em nossa língua é também aquela que deseja conquista de títulos: chamamos de fanático aquele que se abstém em demasia de compreender as circunstancias); uns são considerados perigosos, outros, idiotas; uns cruéis, outros, inocentes; uns desleais, outros, fiéis; uns desviados e descompensados, outros, ferozes e animosos; uns humanos, outros, animais; uns compulsivos, outros, alheios; uns íntegros, outros, desvairados; uns irredutíveis, outros andam com a maré; uns covardes, outros, solidários; uns crentes na vitória, outros, incrédulos, e assim por diante. Sei que todos dirão que seria louvabilíssimo um presidente ter as melhores qualidades dentre as enumeradas acima. Contudo, como a condição humana não consente que se tenham todas elas, nem que possam ser inteiramente observadas, é necessário ser prudente a fim de escapar à infâmia daqueles vícios que põem em risco a gestão; e, se possível, devem-se evitar também aqueles que não comprometem à gestão; mas, se forem inevitáveis, que passem sem grandes preocupações. Tampouco se preocupe com incorrer na infâmia de tais vícios, sem os quais dificilmente se pode salvar a gestão; pois, se bem observado, caso o presidente siga o que lhe parecer uma virtude, causará a própria ruína, mas, se seguir o que lhe parecer um vício, terá maior segurança e bem-estar.

XV – Da liberalidade e da parcimônia

Partindo, pois, das primeiras qualidades mencionadas acima, digo que seria vantajoso ser considerado apaixonado. Entretanto, se usada de modo a trazer-lhe reputação, a paixão causará transtornos ao presidente; isso porque, se empregada de maneira virtuosa e na medida certa, ela não será reconhecida como tal e não o poupará da pecha de avarento; contudo, para manter a fama de apaixonado entre os torcedores, é preciso lançar mão de todo fanatismo possível, de modo que, nessas circunstâncias, um presidente sempre consumirá todos os recursos e, por fim, se quiser manter a fama de apaixonado, terá de sobrecarregar extraordinariamente o sócio torcida na compra de materiais do clube e ingressos e fazer tudo o que é de praxe para arrecadar dinheiro; e essas medidas, por sua vez, o farão cada vez mais odiado entre os torcedores e pouco estimado por todos, que se tornarão mais distantes da arquibancada. Portanto, ao descontentar a maioria e favorecer uns poucos com sua paixão, o dirigente sentirá o golpe na primeira adversidade e vacilará ao primeiro perigo; e, caso se aperceba da situação e queira recuar, incorrerá imediatamente na infâmia do fanático. Assim, não podendo usar a virtude da paixão sem seu próprio dano tão logo ela fosse reconhecida, o presidente, se for prudente, não deverá importar-se com a pecha de fanático; pois com o tempo ele será considerado cada vez mais apaixonado, à medida que todos virem que, graças à parcimônia, aquilo que arrecada lhe basta, que ele pode defender-se de quem quiser atacá-lo e mover campanhas sem onerar seus sócios. De sorte que parecerá apaixonado aos que não serão onerados — que são inumeráveis — e simpáticos àqueles a quem não dará nada — que são poucos.

Em nossos tempos, só vimos realizar grandes feitos aqueles que são tidos por fanático; os outros desapareceram. André Sanches, que se serviu do nomeado de apaixonado para alcançar a gestão, depois não fez questão de mantê-lo e se aplicou em mover guerras. O atual presidente do Corinthians obteve muitas conquistas sem impor valores extraordinários a seus sócios, porque substituiu as despesas com estrutura por uma prolongada parcimônia. Se fosse considerado apaixonado, o presente do Corinthians não teria vencido tantas campanhas. Por conseguinte, um presidente não deve preocupar-se — para não ter de roubar seus sócios, para poder defende-se, para não se tornar endividado e desprezado, para não ser forçado à pilhagem — com incorrer na fama de fanático, pois este é um daqueles vícios que o permitem reinar. E, se alguém me disser que Eurico Miranda ascendeu ao cargo valendo-se da paixão e que muitos outros, por terem sido ou serem considerados apaixonados, chegaram a postos elevadíssimos, respondo que presidente se eterniza ou se busca eternizar. No primeiro caso, a paixão é prejudicial. No segundo, é de fato necessário ser e ser tido por apaixonado, e Eurico era um dos que queriam ascender a presidência do Vasco; porém, se depois de tê-lo alcançado e mantido ele não houvesse conquistado títulos, teria destruído seu clube.
E se alguém replicar que muitos foram os presidentes que se não houvesse reduzido seus gastos, teria destruído seu clube. E se alguém replicar que muitos foram os presidentes que, famosos pela prodigalidade, fizeram grandes coisas com seus jogadores e comissão técnica, respondo que ou o presidente gasta o que é dele e de seus sócios, ou consome os bens de outrem. No primeiro caso, ele deve ser moderado; no segundo, não deve poupar-se de nenhuma liberalidade. Ademais, o presidente que conduz quadros desportivos, que se nutre de intrigas, de matérias jornalísticas vinculadas a imprensa, redes sociais, caçadores de recompensas (empresários), que lida com o bem e informação alheio, precisa ser liberal: do contrário, não seria seguido pelos funcionários, jogadores e comissão técnica. Com aquilo que não é dele nem de seus torcedores o presidente pode ser mais pródigo, como foi nosso ilustre Jofre Cabral, pois despender o que é de outrem não diminui, mas aumenta sua reputação: somente o dispêndio do que é próprio o prejudica. Mas não há nada que mais se gaste quanto a liberalidade, pois o presidente pródigo perde a faculdade de usá-las e se torna irrelevante e menosprezado ou, para escapar à descredito, desprezível e odiado. Dentre todas as coisas, um presidente deve acima de tudo evitar ser desprezado ou odiado — e a liberalidade o conduz a ambas. Portanto é mais prudente conservar o nome de apaixonado, do qual nasce uma infâmia sem ódio, que, por perseguir a fama de liberal, precisar incorrer na pecha de rapace, que produz uma infâmia com ódio.



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