25 set 1999 - 16h40

Ricardo Pinto: “A Baixada é o meu Vaticano”

Ricardo Pinto foi goleiro do Atlético e ídolo da torcida. Em setembro de 99, nossa equipe conversou com Ricardo Pinto para uma entrevista exibida originalmente para o programa A Hora do Furacão, transmitido pela Rádio Nacional. Ele falou sobre sua passagem pelo clube e a emoção de ver a Arena da Baixada inaugurada. Leia abaixo a entrevista:

Ricardo Pinto, um dos maiores ídolos da história do Atlético. Ex-goleiro do clube e campeão brasileiro da Série B em 95, Ricardo é atualmente técnico dos Juniores do Clube Atlético Paranaense. Ricardo, como foi essa sua volta ao Atlético? Você encerrou a carreira no Joinville e voltou pro Furacão agora, certo?
É, eu estava jogando até dois meses e meio atrás no Joinville, mas como eu já estava um pouco cansado de ficar vivendo longe da minha família, que continuou morando em Curitiba, eu resolvi dar uma parada. Assim que eu parei de jogar bola, eu recebi o convite e acertei a minha vinda com a diretoria do Atlético e já estou trabalhando há um mês e meio.

Como você encara essa nova profissão de técnico? Era um projeto seu ou surgiu a vontade depois do convite do Atlético?
O convite foi feito por parte do Paulo Abagge, vice-presidente de futebol amador, junto com a diretoria do Departamento Profissional. Eu tinha como meta continuar trabalhando no futebol, mas não tinha definido ainda de como eu trabalharia porque minha parada foi muito precoce. Poderia ser como treinador, coordenador da parte de futebol ou então alguma outra função. Eu não saberia que voltaria tão rápido ao Atlético. Tinha esperança, porque é a minha casa, eu gosto muito, deixei muitos amigo aqui. Então, apareceu o convite e foi exatamente pra essa posição, de treinador de Juniores e aceitei. O trabalho tem sido bem gratificante e as pessoas têm dado o retorno que eu esperava. Agora, mais tranqüilo e já trabalhando, eu vejo que existe um potencial muito grande nessa profissão e eu acredito que posso investir nela.

E a equipe de Juniores do Atlético já está do jeito que você queria ou ainda falta muita coisa?
Ainda falta bastante coisa. Eu tenho 19 anos como jogador de futebol, aprendi bastante, tive vários treinadores, muitos tipos de treinamentos, muitas formas de convivência e estou tentando aplicar aquilo tudo que eu guardei de bom e evitando aquilo que eu achava que não era benéfico. Então, o nosso time está crescendo. É um time jovem, que foi reformulado agora, com minha chegada também e já está um pouco com a nossa cara. Está muito bem fisicamente e é um time que tem alguma coisa de moderno num conceito de futebol e com toda certeza poderemos aplicar muito mais coisa com o passar do tempo.

Para a galera atleticana ficar já de olho, quem são os novos craques dessa equipe, que no futuro estarão brilhando no profissional? Tem algum nome que você acredita já possa estar no time titular do Atlético?
Tem sim. O lateral-esquerdo, Fabiano, é muito bom jogador.

Isso é importante, porque estamos precisando de um bom lateral-esquerdo…
Não, o Vanin vai bem. A tendência é o Vanin crescer bastante, mas na hora que precisar o Fabiano vai dizer porque está hoje no Atlético Paranaense. Além dele, temos o Rodriguinho, que é um jogador juvenil ainda e está despontando muito bem nos Juniores. Está chegando agora o Hugo, que vem recém-contratado para nossa equipe. É um meia-esquerda, muito bom jogador. Nós temos também o Cláudio, lateral-direito, o Wellington, que também é juvenil e o nosso goleiro é um bom goleiro. Essa é uma parte que preocupa muito a gente, que eu tenho uma atenção especial, mas o trabalho está todo numa conformidade. Todos os jogadores têm todas as possibilidades de mais cedo ou mais tarde estarem à disposição do Vadão no elenco profissional.

Ricardo, vamos falar um pouco agora sobre tua carreira como jogador. Eu sei que o assunto não deve trazer boas recordações, mas a pergunta tem de ser feita. Você já se recuperou totalmente das agressões da torcida do Fluminense naquele fatídico jogo nas Laranjeiras em 96?
Na verdade, a agressão foi uma só. Foi uma paulada na cabeça, que eu tive um traumatismo craniano. Eu fui operado aqui no Hospital Cajuru, recebi um tratamento excepcional e um carinho muito grande por parte da população curitibana, paranaense e até brasileira, porque eu tenho umas reportagens guardadas e houve uma repercussão nacional. O que ficou de resquício de tudo isso foi a tristeza de ver que o Fluminense tá acabando. A minha cabeça está boa, a minha família superou o problema e eu nunca guardei problema nenhum. A gente só fica triste porque na época o time vinha muito bem e com toda certeza nos abalamos um pouco com essa situação ocorrida não comigo, mas com todo o grupo, já que todo mundo participou daquele problema. Infelizmente aquilo culminou na desclassificação do Atlético. A gente tinha possibilidade de chegar muito mais longe do que chegamos. Mas, felizmente hoje eu estou completamente recuperado. Digo clinicamente e, óbvio, espiritualmente também.

Você não guardou nenhuma mágoa da torcida do Fluminense?
Não, eu não tenho mágoa nenhuma. Primeiro que eu tenho agradecimento a eles, porque eles que me projetaram para o futebol. E segundo que quem tem uma torcida como a torcida atleticana não precisa ficar preocupado com torcida de lugar nenhum.

É exatamente disso que quero falar, da torcida atleticana. Antes de vir para o Atlético você estava no Corinthians, que é um dos clubes que têm uma das maiores torcidas do país. Quando você chegou aqui no Atlético você esperava ter uma recepção tão calorosa, que a torcida fosse tão fanática quanto se demonstrou?
Não, nunca (enfático). Jogador nenhum que chega aqui e não tenha jogado no futebol paranaense e principalmente no Atlético sabe do que se trata. A experiência é única quando a gente chega aqui e joga na Baixada, como eu joguei ou então joga agora na Baixada maravilhosa do jeito que está. É uma torcida atípica, diferente, uma torcida família. É uma torcida que só tem vontade de te incentivar, que vibra demais com as coisas que você faz e que cobra no momento certo. Não é uma torcida desordeira, é uma torcida de festa, bem familiar. A torcida do Corinthians é diferente. É uma torcida muito grande, talvez pelo tamanho ela não tenha essa afeto que a torcida atleticana tem. Então, eu diria que na paixão elas são muito idênticas, mas na forma de agir e de cobrar, a torcida atleticana ela tem mais jeito de lidar com o jogador. É uma torcida que apaixona, que empolga. Todo mundo que joga aqui, mesmo contra o Atlético, fica admirado da paixão rubro-negra que existe e isso aí é uma coisa que nos deixa orgulhosos até hoje. Mesmo agora não jogando mais futebol.

E jogar na Baixada, Ricardo, como é? Faz diferença mesmo? O jogador sente a pressão da torcida?
Não precisa nem entrar em campo para sentir. Quando você fala que vai jogar na Baixada já é alguma coisa diferente. Eu diria assim, vamos comparar, dar dimensão ao nosso sonho. É como você assistir a uma missa numa catedral aqui em Curitiba, na mais bonita que seja ou então você assistir a uma missa, pra quem gosta de missa, no Vaticano. Eu acho que a definição é essa, não é fazer média…

Quer dizer que a Baixada é o Vaticano?
Seria, no caso, se a gente pudesse mensurar alguma coisa. Eu não preciso mais fazer média, mesmo porque eu já não jogo mais, né? (risos). Então esse é o sentimento que a gente tem. Entrar em campo na Baixada é diferente, fazer um gol, pegar um pênalti, ganhar um jogo na Baixada é um clássico. Todo jogo ali é um clássico. A mesma coisa que sente a torcida quando vai ver um jogo do Atlético na Baixada, sente o jogador quando vai jogar.

Você já encerrou oficialmente a carreira? Não surgiu a idéia de fazer um jogo na Baixada entre seus amigos e o Atlético?
(risos) É…jogar na Baixada é um problema sério, porque tá difícil. Mas eu tenho um sonho de voltar a jogar na Baixada. Eu digo aqui em off pra torcida atleticana. Quando eu renovei o meu último contrato com o Atlético Paranaense, em 96 pro ano de 97 todo, eu pedi ao presidente: “Olha presidente, o único pedido que eu faço é de jogar na Baixada”. Ele respondeu: “Não se preocupe” (risos) . E eu não consegui realizar isso, né? Vamos ver se a gente consegue. Eu tenho uns projetos para apresentar à diretoria do Atlético mais para o final do ano ou quem sabe até para o começo do ano que vem para fazermos aí, se existir o interesse, um jogo de despedida.

Você pode ter certeza que a torcida atleticana e os @tleticanos na Internet estarão te apoiando nesse teu projeto porque tenho certeza de que também é um sonho de todos que viram o Ricardo na Baixada antiga assistirem a um jogo festivo da volta do Ricardo Pinto à Baixada.
Eu fico feliz, espero que haja essa retribuição, essa solidariedade, porque não é novidade nenhuma esperar isso da torcida atleticana. Eu guardo comigo ainda aquela pedrinha da Baixada antiga que foi a primeira que saiu dali, com esse objetivo né…

Eu até estava vendo esses dias uma reportagem que eu tenho gravada em que você estava justamente guardando as primeiras pedras da demolição da Baixada e falando sobre o sonho da reconstrução. Você imaginava que o estádio iria ficar desse jeito que ficou? Todo mundo tinha uma idéia, mas você pensava que a Arena da Baixada ficaria tão grandiosa?
Não, de jeito nenhum. Eu não imaginei que fosse ficar tão magnífico, tão maravilhoso. Eu achei que fosse ficar um pouco menos imponente. Mas, por felicidade, eu me enganei. Está uma coisa maravilhosa. É sem dúvida nenhuma o estádio mais bonito do Brasil.

Ricardo, a gente agradece as suas palavras e a torcida atleticana deseja todo o sucesso para você no comando da equipe de Juniores do Furacão.
Eu queria fazer um pedido e fazer um agradecimento. O pedido é de que quando jogarmos na Baixada, que provavelmente mais cedo ou mais tarde vamos fazer a preliminar, que o pessoal chegasse um pouquinho mais cedo pra poder ver os jogadores que um dia vão para o profissional. E o agradecimento é aproveitar aqui o espaço da Hora do Furacão e da Furacao.com pra poder agradecer tudo de bom que me causaram, tudo de bom que me proporcionaram, porque desde que eu cheguei aqui em Curitiba no ano de 95, eu só tive alegrias e até hoje tenho alegrias. As pessoas me param nas ruas, atleticanos falam comigo, eu queria de coração, de coração mesmo, bem aberto, agradecer esse povo maravilhoso que é a torcida atleticana que promoveu a alegria imensa não só em mim, mas em toda a minha família durante todo esse tempo em que estou em Curitiba. Muito obrigado, acima de tudo com muito carinho, muita humildade, porque temos poucas oportunidades de dizer num espaço desses para todos os atleticanos: muito obrigado, do fundo do meu coração, por tudo de bom que vocês me fizeram e têm continuado a fazer.



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