25 dez 2002 - 9h06

Garimpando novos talentos

A estrutura do Clube Atlético Paranaense foi o grande destaque da edição do último domingo (22.12) do Jornal do Commercio, de Recife, a publicação diária em circulação mais antiga do país. O JC dedicou uma página inteira para retratar a organização do rubro-negro e o projeto do clube em revelar novos talentos.

O interesse do jornal partiu do fato de o Atlético contar com seis jogadores pernambucanos em suas categorias de base. Todos deixaram Recife para fortalecer as fileiras do campeão brasileiro de 2001.

Sob o título Seduzidos pelo Furacão, a matéria apresenta os perfis de Jadílson, Rodrigo, Odilon, Samuel, Diego ou Franklin. O único conhecido da torcida é o primeiro, autor de três gols da última partida do Brasileirão 2002, contra o Juventude. Confira a íntegra da matéria, de autoria do jornalista Wladimir Paulino:

JOVENS VALORES
Seduzidos pelo Furacão
Jogadores pernambucanos são o novo filão para o Atlético/PR. Nada menos do que oito jogadores já estão no Furacão, dos juvenis aos profissionais

por Wladmir Paulino, do Jornal do Commercio

Não se espantem se nos próximos seis meses, um ano ou dois o narrador Galvão Bueno se derramar em elogios para Jadílson. “Um jogador revelado pelo Petrolina, do Pernambuco”, com do mesmo, como dizem alguns sulistas ao se referirem ao Estado. Em vez de Jadílson o nome pode ser Rodrigo, Odilon, Samuel, Diego ou Franklin. E tanto faz se for a narração de um gol, uma roubada de bola, uma defesa acrobática ou aquela tirada de bola em cima da linha. Os seis nomes citados acima são de jogadores recém-saídos do Recife – com exceção de Samuel, que é paraibano – para o Atlético Paranaense, clube considerado o novo Eldorado na formação de atletas.

O sexteto está de férias na cidade até o próximo dia 26. A eles ainda juntam-se o meia Michel e o atacante Seomir – este emprestado pelo Atlético ao Figueirense, no Brasileiro 2002. As idades variam de 16 a 22 anos. O primeiro a conhecer a sempre elogiada estrutura do clube paranaense foi o zagueiro Rodrigo Gomes, de 20 anos. Há dois, ele trocou o calor pernambucano pela fria – apenas no clima, que fique bem claro – Curitiba. Na campanha vitoriosa no Brasileiro de 2001 chegou a figurar no banco de reservas em alguns jogos, mas não se firmou. “Este ano estava mais maduro e subi com mais oito atletas para os profissionais”, conta.

Também há dois anos na Baixada está o volante Odilon Albuquerque Neto, 17. Depois de dar os primeiros passos no Sport, o candidato a craque arriscou-se no Sul e se deu bem. Embora ainda não tenha contrato como profissional, este ano ascendeu dos juvenis para os juniores. A história de Odilon é parecida com a do atacante Franklin Lopes, também de 17 anos.

Há um ano e dois meses no Atlético, ele deixou o Sport, onde atuava no infantil por causa da política adotada pela diretoria no ano passado. “Eles acabaram com as categorias infantil e juvenil”, lembra. Sem ter para onde ir, ele não perdeu tempo quando surgiu a oportunidade para defender o Atlético/PR, há um ano e dois meses. Áquela altura, o Furacão já era considerado a sensação do futebol brasileiro.

Os mais jovens do time são o volante Samuel Melo Júnior e o goleiro Diego Nascimento, ambos de 16 anos. A dupla ainda defende o juvenil. Samuel já tem um ano no novo clube. Nascido em João Pessoa, Paraíba, ele começou no futsal. Chegou a ingressar no infantil do São Paulo, mas agora não quer sair do novo clube. “A estrutura do Atlético é melhor que a do São Paulo”, atesta.

Diego é o único goleiro da safra e também o mais recente a integrar as divisões de base do rubro-negro paranaense. Há apenas quatro meses ele deixou a capital pernambucana, onde chegou a jogar no Unibol. Também defendeu o Vitória/BA, onde venceu o Mundialito sub-15, em 99, disputado na Alemanha.

JADÍLSON – O primeiro candidato a destaque dos pernambucanos no Atlético/PR é o atacante Jadílson Silva, 22. Primeiro, porque foi contratado diretamente para o elenco profissional. Segundo, em pouco tempo – cinco meses – já mostrou a que foi. Jadílson marcou quatro gols no Brasileiro deste ano, isso nos poucos minutos a que teve direito, pois sempre entrava no final das partidas. O melhor cartão de visitas foram os três tentos marcados em 30 minutos diante do Juventude, na última rodada da primeira fase.

Para quem não se lembra, Jadílson disputou o Campeonato Pernambucano no primeiro semestre pelo Petrolina e marcou nove gols, atrás apenas do artilheiro Júnior Amorim. Há dois anos, quando ganhou o passe, que pertencia ao Unibol, na Justiça, o atacante transferiu-se para a Arena da Baixada, onde passou seis meses. “Fiquei nos juniores e marquei sete gols. Foi uma experiência muito boa”, enfatiza.

Agora, mais maduro e já atuando no meio dos ‘grandes’, Jadílson espera entrar em 2003 com o pé direito. Mesmo com a mudança no comando, já que Abel não continuará como treinador e o substituto ainda não foi escolhido, o atacante não teme perder oportunidades. “Vou continuar fazendo meu trabalho e me dedicando ao máximo como sempre fiz. O novo treinador é que escolhe quem vai trabalhar com ele”, afirma.

JOVENS VALORES II
Nivaldo Silva é a ponte Recife-Curitiba

A ‘invasão pernambucana’ no Atlético Paranaense tem um mentor: Nivaldo Silva. Aos 44 anos, o ex-volante, zagueiro e também lateral-esquerdo (quando atuou no Sport) transformou-se numa espécie de ‘correspondente’ do Furacão em Pernambuco e hoje todo jogador que sair do Recife para Curitiba tem que passar pelo seu crivo.

Tudo começou há dois anos quando Nivaldo intermediou a ida do meia Geraldo – defendeu o Sport, este ano – de Portugal para o Atlético. “Criou-se uma empatia muito forte entre mim e o presidente (Mário Celso) Petraglia. Sou remunerado pelo Atlético/PR pelo trabalho que faço”, explica. Nivaldo também tem parceria com todos os jogadores, mas garante que não escraviza ninguém. “Cada um é livre para ir para onde quiser. Foram eles ou os pais deles que me procuraram. Também procuro me informar sobre a situação de vida de cada um deles”, garante.

O agente diz que seu objetivo é trabalhar o caráter dos jogadores e transfomá-los em atletas profissionais. “Jogador de futebol há muitos por aí. Eu quero formar atletas, homens de caráter”, destaca. O fato de ter sido jogador facilita muito no trabalho, de acordo com Nivaldo. “Eles vão passar pelas mesmas coisas pelas quais eu passei”, lembra.

Além do Sport, Nivaldo defendeu Vitória de Guimarães, Benfica, Portimonense e União de Leiria, em Portugal. Encerrou a carreira de atleta há 12 anos e há oito arriscou-se no ramo de empresariar jogadores.

JOVENS VALORES III
Dos seis, apenas um voltaria a defender um clube pernambucano

Toda vez que são perguntados sobre a estrutura do Atlético Paranaense, os jovens valores que deixaram Pernambuco são unânimes nos elogios: não há comparação no Brasil. O zagueiro Rodrigo diz que os alojamentos são num hotel e cada piso corresponde a uma das categorias das divisões de base. Quando os profissionais estão em competição, concentram-se no mesmo lugar.

“Isso facilita a integração entre todas as categorias. Nós almoçamos no mesmo lugar e estamos sempre em contato, por isso ninguém sente muito quando chega ao time de cima”, atesta o zagueiro. Tanto que todos já trocaram várias idéias com o pentacampeão Kleberson. “A Copa não fez a fama subir à cabeça dele. Foi e voltou a mesma pessoa”, garante Rodrigo.

A estrutura é tão grande que o volante Samuel não acreditava que poderia ser maior que a do São Paulo, por isso relutou um pouco em trocar o Morumbi pela Baixada, dada a fama de celeiro de craques alcançada pelo tricolor paulista na década passada. “É muito melhor do que o São Paulo”, diz.

Outro que se iludiu com um clube foi o goleiro Diego. Depois que deixou o Porto, de Caruaru, ainda no infantil, ele passou dois anos no rubro-negro baiano, também tido como referência na formação de craques no Nordeste. Ledo engano. “Passei oito meses sem receber uma ajuda de custo de cem reais. O Vitória ilude muito. Agora está em decadência”, afirma.

No Atlético, continua o goleiro, é bem diferente. Quem ainda está nas categorias de base é obrigado a estudar à noite e treinar em dois expedientes. E que ninguém ouse tirar notas baixas. Reprovação? Nem em sonho. “Os caras cobram mesmo, reclamam se a gente tira notas baixas”, comenta Odilon que, junto com Samuel, Diego e Franklin, cursa o segundo grau numa escola pública. “Há um funcionário do clube encarregado de vigiar quem estiver matando aula. Ele olha até embaixo das camas para ver se há alguém escondido”, conta Rodrigo, entre risos dos demais.

Além da cobrança com os estudos, os atletas lembram que o Atlético tem toda a estrutura para dar apoio aos jogadores. “Eles têm nutricionista, psicólogo e dentista, tudo muito bem organizado. Estão anos na frente dos clubes daqui”, arremata Rodrigo.

Por isso, ninguém pensa em abandonar o Atlético/PR, ainda que seja para ser titular num “Náutico, Sport ou Santa Cruz da vida”. A única exceção é Franklin. “Eu voltaria, pois sendo titular num clube daqui me valorizaria mais quando voltasse para o Atlético.”



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