Opinião: “79 anos de sofrimento e glória”
Houve uma época em que o sofrimento dos atleticanos era enorme. Tão grande que o presidente Jofre Cabral, um símbolo da nação rubro-negra, morreu do coração ao ver o seu time ser derrotado pelo inexpressivo Paraná, de
Londrina. Isso foi em 1968. Nessa época, os títulos demoravam mais de década para chegar: 1958, 1970, 1982… Foi assim que o torcedor do Atlético ganhou
a fama de sofredor. Mas, como convém a quem tem raça e talento, malícia e
arte, inverteu os papéis, capitalizando isso para fomentar o orgulho
rubro-negro.
O Atlético, na sua humildade e seu amadorismo de então, fez com que sua
torcida se tornasse uma grande família. O lar era a velha e boa Baixada, o
Estádio Joaquim Américo. Como conta o Alfredo Gottardi Junior, zagueiro dos
anos 70, filho do grande Caju, a Majestade do Arco, titular da seleção
brasileira: “Me criei naquele campo. Meu tio era supervisor do estádio e
ajudávamos a cortar a grama. Me lembro que ia meu pai, meus tios, meus
primos… Os mais velhos cortavam a grama, e os primos mais novos varriam. E
ai de nós se deixássemos um pedacinho de sujeira que meu tio nos quebrava de
pau… ”
Muitos dos torcedores das novas gerações, que vêem o Atlético de hoje, da
monumental Arena e do moderníssimo CT do Caju, talvez não saibam dessas
histórias. É que, para a sorte deles, o Rubro-Negro deixou o romantismo de
lado e entrou na era do profissionalismo. E, nessa fase, atingiu suas
maiores glórias: o título de Campeão Brasileiro (foto), duas participações
na Libertadores, um estádio modelo para o Brasil, um pentacampeão mundial.
Hoje faz 79 anos que América e Internacional se fundiram para fundar o Clube
Atlético Paranaense. Em todo esse tempo, muitos títulos e algumas decepções
ficaram na memória da torcida atleticana a maior do Paraná, segundo duas
pesquisas, uma da RPC e outra, mais recente, realizada pelo insuspeito
Instituto Datafolha. Inesquecíveis também são os ídolos imortalizados na
história do clube: Caju, Bellini, Washinton & Assis, Roberto Costa, Oséas &
Paulo Rink, Jackson, Nilson, Sicupira, o fantástico Ziquita dos quatro gols
em jogo na velha Baixada da Buenos Aires.
O aniversário do Atlético é dia de saudar o passado, reverenciar o presente
e, principalmente, de pensar e investir no futuro. Que a torcida apesar de
um masoquismo característico dos rubro-negros paranaenses de ontem espera
que seja de mais glórias e de menos sofrimento. Que este, aliás, fique com
os adversários.
Eduardo Aguiar
colunas@furacao.com
Texto publicado no jornal Gazeta do Povo