Londrina
Não pude ir à nossa querida Baixada no jogo contra o Goiás, pois fui à Londrina. Talvez pelo placar, muitos digam que não perdi nada, ou até que foi sorte minha, pois não passei raiva. Mas, de pronto, esclareço aos amigos atleticanos que esse tipo de pensamento nunca se passa comigo, o meu Clube Atlético dos Paranaenses não me faz enraivecer, trazendo-me alegrias até nas derrotas, pelo só fato de ser o Furacão em campo.
Porém, meu objetivo hoje diz respeito ao título, ou seja, à capital do Norte do Paraná: Londrina. Acredito que seja de conhecimento da maioria das pessoas que grande parte do nosso Estado seja influenciada pelos times de São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, sendo notório que até poucos anos atrás não se ouvia muito falar em torcedores dos times da Capital paranaense nas regiões sudoeste, oeste, noroeste e norte do Paraná, ao contrário das regiões sul, sudeste, leste e centro que sempre albergararm atleticanos e outros. Mas, não é incomum que vários torcedores tenham mais de um time de sua preferência – algo que hoje sou totalmente contra.
Eu mesmo, atleticano desde que ouvi falar no Furacão (graças a meu pai), até 1990, torcia para outros dois times: Vasco e Guarani. Nessa época contava com 15 anos de idade. O primeiro, não sei o motivo, e o segundo, em virtude de meu irmão mais velho apoiá-lo. Mas, uma declaração do Sr. Márcio Guedes num jogo entre os arianos e o Botafogo na época, fez-me repelir totalmente qualquer hipótese de afeição por algum time que não fosse o Atlético.
Desde que vim da Lapa para morar em Curitiba, no início de 1993, conheci mais de 2000 pessoas que não são da Capital, seja na Universidade ou em moradia estudantil quando lá residi. A maioria, do interior do Paraná. Consigo contar nos dedos aqueles que torciam para algum time da Capital paranaense (a maioria era atleticano). Quando o assunto era futebol, e eu me manifestava como torcedor do Atlético, era comum ouvir: “- Tua família é de Minas Gerais?”.
A resposta vinha na lata: “- Não, sou Furacão!”. Demorava um pouco, mas a ficha do pessoal caía e, acreditem, era aquela gozação, até porque sou da época das “vacas magras”, dos 6X2 em casa e por aí vai.
Até 1998 não conhecia muito o Paraná, muito embora tenha amigos nas suas mais diversas cidades. Limitava-me à região de Curitiba e ao Litoral, até que naquele ano conheci minha esposa e, conseqüentemente, o norte do Paraná, precisamente, Londrina. Conheci muitas pessoas lá também e, em se tratando de futebol, só confirmei o que já sabia, ou seja, a regra no norte do Paraná é torcer para os times de São Paulo. Quando falava em Atlético naquelas bandas, isso já a partir de 1998, a pergunta já não ofendia tanto: “- Para o mineiro ou o do Paraná?”.
Sempre gostei de ir à Londrina, à exceção dos dias em que o Atlético joga na Baixada, seja pela culpa que me imputo nos dias em que não fazemos um bom jogo e não conquistamos o resultado desejado, por não estar lá apoiando e empurrando o time, ou pelo fato de que em Londrina não se transmitia os jogos do Atlético, seja pelo rádio ou pela TV (salvo as finais). Mas, por coisa do destino, tive que ver nosso Furacão sagrar-se Campeão Brasileiro justamente nessa cidade, na casa de um atleticano fanático que trabalhava com minha cunhada.
Feito o intróito, vou ao que interessa. Como mencionei acima, não fui à Baixada por ter ido à Londrina. Como já estava cansado das inúmeras vezes que fui a esta cidade e não conseguir sintonizar alguma emissora de rádio que transmitisse o jogo do Furacão, às 16 horas fiz um mate, sentei no sofá, remoí-me de culpa por não estar na Baixada apoiando o Atlético, e liguei o rádio para ouvir América/MG X Londrina, na esperança de saber, pelo menos, o placar do jogo em Curitiba.
Pois bem, foi-se o primeiro tempo do jogo em Minas Gerais, que não lembro nem o placar, tamanha era minha apreensão no jogo do Atlético. “Giro do placar no Brasileirão: CAP 0 X 0 Goiás.” O sentimento de culpa pela ausência de gols aumentou infinitamente – achei que ia ter um infarte. Todavia, o fato do placar ter sido comunicado só no intervalo do jogo do Londrina, fez-me buscar outra emissora, e este foi o ponto de partida da minha alegria.
Chiado aqui, chiado ali e, pimba: um cara comentando o jogo na Baixada. Quase não acreditei. Por instantes achei que era só um breve comentário no intervalo de outra partida. Mas não. Era transmissão ao vivo do jogo do Furacão. Isso mesmo, Londrina, 16h55min, do dia 12 de julho de 2003, transmissão do jogo Atlético Paranaense X Goiás.
Só que o fato que me deixou mais entusiasmado ainda, acreditem, era a emissora que estava transmitindo o jogo. Tratava-se de uma emissora AM da Cidade de São Paulo (uma das maiores) que estava em rede com emissoras de Londrina, Mandaguari, Colorado e outras cidades da região e do Estado de São Paulo. E muito embora os comentaristas elogiassem alguns lances do Goiás, chegando a falar que este merecia estar ganhando no 2º tempo, a narração era totalmente voltada ao sucesso do Furacão – até parecia que era uma emissora de Curitiba.
Vejam, não estou enaltecendo o fato de ser “uma rádio de São Paulo”, mas sim de uma partida do Furacão estar sendo transmitida fora dos domínios costumeiros. Aliás, se fosse um CAP X Corinthians, p. e., até se justificaria o interesse de tais emissoras, mas não, o adversário era um Goiás, equipe sem muita expressão naqueles lados. Logo, para mim, claramente posso ver duas situações: ou a mídia começou a ver com melhores olhos o CAP, ou nossa diretoria está fazendo um trabalho de marketing diferenciado. Tanto uma como outra, são situações que só ajudam o Furacão a crescer mais ainda e, independentemente do resultado do jogo de sábado, acho que o importante foi essa propagação do Atlético em localidades em que nosso time não era prestigiado.
Finalmente, outro fato me chamou a atenção lá em Londrina. Em frente à casa de meu sogro, no Jardim Sabará, tem um campinho de futebol. No sábado, antes do jogo do CAP, cerca de 40 meninos, na faixa de 12 anos, estavam tendo “aulas” de futebol e seus pais e avôs os acompanhavam. Comecei a conversar com um senhor e ele me disse que aquela garotada estava treinando porque “querem ir para o Paraná Clube, pois um amiguinho deles (16 anos) já foi para Curitiba esses dias.”
Na hora, fiquei meio sem muito o que dizer, pois pensei: “Paraná Clube?”. Mas, a conversa continuou e descobri uma coisa. O que eles chamam de Paraná Clube, é o PSTC (fica pertinho daquele lugar também), e o “ir para Curitiba” é poder jogar no Clube Atlético Paranaense.
Acho que não preciso falar mais nada.
Saudações rubro-negras.