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1 ago 2003 - 8h57

A camisa rubro-negra só se vestia por amor

Sou do tempo em que o Atlético era o time da raça. Não tínhamos medo de nada. Em 1972, vi o rubro-negro virar um Atletiba lá dentro do Couto Pereira, de 3 X 0 para os Porcos para 4 X 3 para nós (jogavam ainda Sicupira, Nilson, Valtinho, Julio, Claudio Deodato e outras feras).

Anos mais tarde, acompanhei pela TV o rubro-negro segurar um empate com o melhor Internacional de Porto Alegre de todos os tempos, lá dentro do Beira Rio, onde o time gaúcho costumava atropelar os adversários até mesmo com goleadas. O goleiro Altevir foi o destaque daquela partida, que acabou em 1 X 1. No Colorado gaúcho jogavam apenas craques do escol de Elias Figueroa, Falcão, Paulo Cesar Carpegiani, Claudiomiro, Lula, etc.

Na antiga Baixada de tijolinhos, cansei de ver o Atlético ir buscar um empate ou uma vitória no último minuto de jogo. Quantas vezes o Liminha, o Sicupira, o Almeida, o Ziquita, o Washington, o Cristóvão, o Lino, o Agnaldo marcaram ali um gol salvador, que nos garantiu a vitória ou nos livrou do fiasco de perder em casa? Inúmeras vezes. Era um tempo em que a camisa rubro-negra só se vestia por amor…Por puro amor. Cite-se como exemplo o fato de que hoje o craque Bianchi, nosso quarto-zagueiro em 1982, passa dificuldades em Santos, depois de sofrer um derrame que paralisou parte de seu corpo. Uma grande pessoa o Bianchi. Cara simples e humilde, com quem eu sempre cistuma conversar após os treinos que o bom Geraldino dirigia ali na Baixada. O que ganhou no futebol? Nada. Isso era jogador de verdade. Ganhava pouco, jogava uma enormidade. Somente quem o viu, em dupla com o Jair Gonçalves, segurando o ataque dos Coxas e do então Colorado (hoje Paraná), cortando tudo de cabeça, dando bicos para o meio de campo ou saindo para o jogo de cabeça erguida é que viu um zagueiro jogar. Hoje, sem querer ofender ninguém, mas baseado em fatos, não temos nem time, quanto mais dupla de zaga. Vai-se o amor. Hoje o que importa é o valor. O valor do contrato, do salário, das luvas. O futebol apresentado é mero detalhe. Vide Kléberson e seu joguinho irritante após seu debut junto ao escrete canarinho. Vide Gabiru após seu regresso da França…

Mas voltemos ao tempo da camisa vestida por amor. Existem inúmeras crônicas que falam da raça atleticana. Uma deles relata como o rubro-negro, com todo o seu elenco acometido por terrível epidemia de gripe, foi ao Couto Pereira e derrotou os Coxas, cujo elenco estava perfeitamente sadio. Ao longo do tempo, alguns jogadores até se tornaram o exemplo vivo dessa raça que sempre caracterizou o Atlético, desde os tempos do goleiro Tapir, passando pelo Furacão de 1949, até chegar aos maravilhosos plantéis de 1982 e de 1996, que foram os últimos grandes times que tivemos. Depois – e que me perdoe o time campeão do Brasil de 2001 – apenas conhecemos equipes medianas, com alguns destaques individuais que fizeram a diferença – caso do Alex Mineiro, que marcou oito gols decisivos na reta final do Brasileiro e nos garantiu a primeira estrelinha na camisa. Sempre com o risco de cometer muitas injustiças, exemplos clássicos da raça atleticana foram o Cireno, o Geraldino, o Sicupira, o Di, o Rotta, o Gerson Andreotti, o Augusto, o Lino, o Assis, o Ivair, o Bianchi, o Jorge Luiz, o Cândido, o Dicão, o Agnaldo, o Odemilson, o Dirceu… Enfim, a lista é grande. Não posso deixar de citar também os que se destacavam em atletibas, que eram os carrascos dos coxas, como o Liminha, o Lino, o Assis, o Joel, o Dirceu, o Paulo Rink, o Andrei, o Warley, o Lucas, o Luizinho Netto…Mas e hoje? Quem é o exemplo da raça atleticana nos dias de hoje? Parece que depois da conquista do título nacional não temos mais aquela referência da raça. Nem mesmo um Nélio, que com a sua irreverência carioca quebrou o nariz do grosso e truculento Struway, cabeça de área do Coxa, sem que o árbitro da partida percebesse…Nem mesmo em nosso comando técnico existe raça. Olho para o banco e vejo uma figura sonolenta, quase apática, que transmite para o time justamente o seu próprio jeito de ser. Já foi vencedor? Sem dúvida que foi, porém em outra época, em outro momento, com outros jogadores…

Hoje a realidade é bem outra. O empate contra o Paysandu, em plena Arena, deixou bem claro que os defeitos da equipe resultam da falta de comando técnico e de completa ausência de aplicação de alguns jogadores. O gol do time nortista resultou de uma falha clamorosa do sistema defensivo, de onde o senhor Rogério Correia já devia ter sido banido há muito tempo, pois não demonstra a mínima vontade. Jogador tem de desejar a vitória, ter tesão pela vitória. O Rogério que me perdoe – ou não perdoe, se não quiser -, mas ele não veste a rubro-negra nem mesmo pelo muito dinheiro que ganha, quanto mais por amar a equipe. O mais certo seria pegar sua malinha e dar no pé. Já mostrou que não serve mais. O que é estranho é que ele já provou que sabe jogar muito mais do que isso. Não joga porque não quer. O nosso bom e velho Di, melhor central da história do Atlético, deve chorar ao vê-lo usando a camisa que foi dele. E olhem que o Caponi também não fica muito atrás. E eu sei que ele joga muito, mas muito mais do que mostrou até agora.

Outro destaque negativo é o tal Alessandro. Peço o perdão dos céus, mas até eu jogo melhor de lateral direito, com uma das pernas amarradas nas costas, do que ele vem jogando. Não realiza um único cruzamento preciso, que resulte em gol; não faz uma jogada de linha de fundo, não acerta passes de cinco metros…assim não dá! O antigo lateral campeão do Brasil, que já vestiu até a camisa da seleção, é hoje um jogador de nível de terceira divisão…de amadores. Trieste, Iguaçu, Combate Barreirinha, Santa Felicidade e União Santa Quitéria não iriam querer um jogador desse nível em suas fileiras. Bilhete azul para ele. E, cá entre nós, que saudade do Luizinho Neto Carrasco dos Coxas…

Depois chegamos ao meio-campo, onde os senhores Luciano Santos e Rodriguinho terminam o serviço começado pelos senhores Rogério Correia e Alessandro. Eu não sei se Luciano Santos e Rodriguinho são de fato muito ruins ou se estão em um fase extremamente negativa. O fato é que a torcida irritou-se com os dois e até aplaudiu a expulsão do último. Jogadores com esse nível de aplicação técnica e tática não deviam nem pegar na camisa do Atlético, quanto mais vesti-la. Time de tradição de bons meio-campistas, o aplicadíssimo Rotta, o incansável Lino, o craque Nivaldo Carneiro, o supercraque Sicupira, o endiabrado Zé Roberto, o eficiente Lourival, o fantástico Didi Duarte, o coringa Miro Oliveira, o talentoso Jorge Luiz Pereira, o implacável Detti, o elegante Cristóvão, só para citar poucos exemplos, devem achar graça da atuação desses verdadeiros perebas na meia-cancha atleticana. Ou devem chorar muito, posto que esses jogadores sempre amaram o clube cuja camisa envergaram. O senhor Petráglia encontra gente muito melhor aí pela várzea. É só procurar e contratar, que certamente vão se aplicar muito mais que esses enganadores.

E o senhor Diego, moço das traves, também anda se complicando em bolas fáceis. Sempre tivemos bons goleiros. Esse rapaz está destoando da tradição atleticana. Basta recordar que Marolla, Rafael, Roberto Costa, Ricardo Pinto e Flávio já usaram essa camisa que ele hoje veste. Seria bom que a honrasse um pouco mais. Se não quiser, sempre resta a alternativa de pedir o boné e ir tomar frangos em outra freguesia.

Recordo, ao final, que sou torcedor e tenho todo o direito de criticar a quem quer que seja, até o senhor Petráglia, que vem cometendo erros crassos na administração do futebol do rubro-negro e, em conseqüência, acumulando maus resultados, e o senhor Vadão, que não aprimora a marcação da equipe, que não faz com que o Atlético saiba jogar com a bola e também sem a bola, diminuindo os espaços do adversário, chegando junto, combatendo, marcando firme. O técnico tem de transmitir ao time uma coisa chamada garra, vontade de vencer, incutindo na cabeça do jogador que ele pode sempre se superar. Vejam o que fez o Geninho em 2001. O time estava com desejo de vencer. Perseguia a vitória com denodo sobrehumano. E segurava as feras, para que se comportassem em suas vidas extra-campo. E hoje? Hoje, confesso que não sei. Do jeito que o time anda em campo, sempre fica a dúvida. E é justamente em função desse dúvida que um clube como o Atlético deve ter um Diretor de Futebol e um Supervisor que tenham voz ativa, que endureçam com o elenco, que estabeleçam rédeas curtas e que cobrem serviço de técnico e de jogadores. Dois sujeitos que fiscalizem a vida de todo o elenco, que saibam por onde os jogadores andam, o que andam bebendo, a que horas voltam para casa e por que, afinal, não rendem nos jogos. Que cobrem um desempenho mínimo aceitável. Abaixo dele, o sujeito é dispensado sumariamente, sem muitas explicações.

Lembro a todos os que discordarem do que escrevo que a partir do momento em que pago um ingresso e entro no estádio, estou comprando o serviço de onze indivíduos que representam o meu time. Eles devem prestar um serviço ao time que os remunera e ao tocedor, que paga o ingresso de onde sai o salário que recebem. Se não prestam tal serviço a contento, devem receber as vaias que receberam no último sábado e suportar as críticas conseqüentes com a consciência de um homem, e não com a revolta ou a caganifância de um moleque. Se são homens, que ouçam e que façam a opção de permenecer com garra e raça. Se são de fato moleques e apenas querem sombra e água fresca, que se revoltem, sim, porque têm esse direito. É o famoso direito de espernear. Mas que esperneiem e depois vão embora como indivíduos claudicantes e inaptos.

Termino dizendo que em toda equipe vencedora existe união do elenco e cobrança por parte do comando técnico e da diretoria. O Atlético virou a casa da mãe Joana, onde todos podem ganhar muito e jogar pouco ou nada. Está na hora de dar um basta nessa situação e colocar em campo um conjunto de jogadores que honrem a camisa rubro-negra. O time pode até perder, pois não existe time imbatível. Porém, que perca lutando, com garra, com brio, com aplicação, e não de salto alto, como vedetes e manequins em uma passarela.



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