Um caldeirão completo de aniversário?
Já a partir de janeiro, todos os lugares do estádio serão numerados
Cadeiras e camarotes serão comercializados em contratos anuais
Intenção do clube é dividir o estádio em setores com várias faixas de preço, mas a recusa da torcida pode fazer com que a diretoria desista da idéia
Arena terá Business Center, Sport Bar e “Cigar Club”
As obras para término da Arena da Baixada devem ter início em março de 2004 e a partir de janeiro todos os lugares disponíveis no estádio já estarão numerados, como determina o Estatuto do Torcedor.
A notícia está sendo divulgada durante entrevistas qualitativas que o Instituto Bonilha está realizando com torcedores, empresários e jornalistas a pedido da direção do Atlético (leia abaixo).
Segundo as informações repassadas aos participantes da entrevista, o Colégio Expoente já não é mais um empecilho para o início das obras. As fontes só não informaram se há uma decisão judicial definitiva favorável ao rubro-negro ou se houve um acordo financeiro com a instituição de ensino. As obras começariam em março (mês em que o clube completa 80 anos) e o estádio estaria pronto definitivamente em 2005.
SETORES
Ainda de acordo com as informações, já na primeira partida que for realizada na Arena em 2004 o torcedor encontrará o estádio totalmente ocupado por locais numerados.
A intenção da diretoria é dividir o estádio em vários setores (seis no anel inferior e quatro no superior), cada um com um preço de ingresso. O torcedor só poderia assistir às partidas naquele setor determinado no ingresso. Caso optasse por comprar o pacote anual, poderia freqüentar apenas aquele local durante toda a temporada, a exemplo do que ocorre na maior parte dos estádios europeus.
A diferença para os atuais proprietários de cadeiras é que, ao adquirir um local numerado, o torcedor não precisará pagar taxa de manutenção e terá acesso gratuito aos jogos (hoje, quem tem cadeira paga o valor de uma arquibancada).
Mas a reação negativa da torcida quanto a essa proposta (leia abaixo) pode fazer com que a idéia seja descartada. Estuda-se, ainda, um espaço diferenciado para a permanência das torcidas organizadas.
Com essa mudança, a capacidade de público na Arena será diminuída. Mesmo depois de concluído o estádio, a lotação máxima será de 32 mil pessoas.
ÁREA PREMIUM COM SPORT BAR
O setor de camarotes corporativos (aqueles localizados no andar inferior da Av. Getúlio Vargas) deverá ser totalmente reformulado e passará a se chamar “Área Premium”. Além de ganhar novo visual, contará com um Business Center (local para abrigar eventos de empresas), Cigar Club (charutaria) e um luxuoso Sport Bar. Em dias de jogo, terão acesso a estes ambientes apenas os proprietários e convidados dos camarotes executivos. Mas, nos demais dias, o Sport Bar deverá ser aberto para o público em geral.
Os participantes das rodadas de entrevistas com o Instituto Bonilha estão tendo a oportunidade de ver, em primeira mão, os projetos de todos esses ambientes.
ELITIZAÇÃO
Embora nenhum diretor do clube afirme isso oficialmente, mas os próprios pesquisadores do Instituto Bonilha disseram nas reuniões que o clube pretende incentivar a compra de pacotes por temporada e que a intenção é mesmo elitizar a presença dos torcedores na Arena. O clube, informaram, está tentando encontrar formas de capitalizar o seu futebol e garantir receitas por todo o ano. Uma das idéias mais bem aceitas na diretoria é realizar parcerias com empresas para a utilização de camarotes e outros espaços.
Maioria dos entrevistados é contra dividir estádio em setores
Como a Furacao.com já havia divulgado, o Instituto Bonilha foi contratado pelo Atlético para fazer pesquisas qualitativas sobre as possibilidades de uso da Arena.
Muito utilizadas por empresas para medir a aceitação dos consumidores sobre os seus produtos, as pesquisas qualitativas são realizadas com vários grupos pequenos de pessoas (geralmente 10 ou 12) reunidas numa sala onde ficam “conversando” com o mediador sobre um determinado assunto. Todos falam o que pensam e praticamente não existe um questionário a ser perguntado. A reunião pode levar 1 ou 2 horas e são gravadas. Um relatório é feito a partir das opiniões emitidas.
Os grupos geralmente são separados por sexo, classe econômica e faixa etária. No caso do Atlético, foram divididos em “torcedores de arquibancada”, “proprietários de cadeiras”, “proprietários de camarotes”, “torcedores que não freqüentam o estádio”, “profissionais de mídia” e “jornalistas”.
Na entrevista com profissionais da mídia, estavam presentes representantes da imprensa, agências de publicidade e dos departamentos de Marketing de grandes empresas como Audi, Bosch e outras. A proposta era debater “A Arena como um produto”.
PRÓS E CONTRAS
Se depender da opinião dos participantes das pesquisas qualitativas realizadas pelo Instituto Bonilha, a idéia de dividir o estádio em setores não sairá do papel. A idéia foi considerada polêmica e recebeu o maior número de críticas em todos os grupos de torcedores entrevistados. “Esse é um consenso e o clube deve levar isso em consideração”, disse um dos pesquisadores.
Os participantes apresentaram várias justificativas contra a proposta:
O torcedor terá dificuldades para se locomover livremente, não mais podendo assistir ao jogo de qualquer lugar no estádio;
A maioria dos torcedores gosta de encontrar os amigos na Arena, que já se tornou um “ponto-de-encontro” dos rubro-negros. Com a setorização, muitas vezes o torcedor teria que ficar separado de seus amigos;
No caso de um torcedor ser um proprietário de local numerado em um setor “X” e quiser levar alguém, talvez esse convidado, ou mesmo um parente, filho, etc. tenha que assistir à partida em outro setor.
Já a intenção de vender as cadeiras com contrato de um ano (mais ou menos nos moldes dos pacotes vendidos para o Campeonato Brasileiro) foi bem aceita, desde que não se proíba a venda avulsa e que não se onere demais o preço do ingresso avulso.
Os presentes questionaram também se haverá demanda para tanta compra antecipada de locais numerados, já que a venda de pacotes para arquibancada, mesmo representando uma significativa redução de custos com relação ao ingresso avulso, tem ficado aquém do esperado nos últimos anos.
A intenção de elitizar a torcida também foi questionada. “O clube corre o risco de ficar com as arquibancadas vazias”, disse um dos presentes. “A venda de pacotes ou cadeiras depende muito de como o time está indo no campeonato. Se termina mal uma competição, provavelmente a venda de pacotes será baixa na próxima temporada”, disse outro participante.
“Mas, se houver a certeza de que o clube venderá maciçamente os pacotes anuais, garantindo a receita, é claro que é uma boa idéia. E aqueles que podem comprar o lugar devem ser priorizados”, argumentou um empresário do setor de turismo de negócios que participou da entrevista.
Outras propostas foram o uso da Arena para grandes shows, o que propiciaria um incremento na arrecadação sem precisar onerar os ingressos, e a promoção de grandes eventos de negócios no estádio – já que a cidade é carente de espaços para atividades culturais e empresariais de grande porte.