Traição
O anúncio dos preços a serem praticados pelo Atlético no Campeonato Brasileiro foi, com o perdão do chavão, um tiro de misericórdia na já esfrangalhada torcida rubro-negra. Mas atente-se: quando falo em torcida, me refiro àqueles torcedores que mesmo em tempos nefastos ergueram a bandeira atleticana, seja em atletibas desastrosos ou em jogos contra o Barra do Garça ou o Central de Caruaru.
Bom, voltemos ao tiro de misericórdia. O presidente Petragila, hoje, ao anunciar a venda de pacotes e os preços dos ingressos a serem praticados no Brasileiro, traiu toda uma massa fanática e que nunca negou apoio ao time. E o meu raciocínio é simples: pagar trinta reais por jogo é inviável. Como seria inviável, para simples mortais, para a maioria dos mortais, presentear a mulher amada com um colar de diamantes ou um carro importado. O mesmo se aplica ao futebol. Por mais que seja o Atlético o time do coração, o time amado, pagar trinta reais por ingresso é impossível. Ou estou enganado? E o Petraglia certo? Talvez os torcedores que um dia apoiaram um presidente denunciado por gravações telefônicas, metido em esquemas de compra de juízes (não estou condenando o Mário Celso, mas apenas me referindo ao episódio) estejam hoje todos ricos, nadando em dinheiro, incensíveis à um aumento de 100% nos preços dos ingressos.
E é aí que está a traição. Petraglia cuspiu naqueles que mais o apoiaram, que mais apoiaram o Atlético. Petraglia, como empresário que é, transformou um clube conhecido pela paixão da torcida em uma empresa fria e voltada ao lucro. Assumiu o Atlético se dizendo o maior dos atleticanos para fazer o que bem entendesse com o time. E elevou o Atlético como se eleva uma empresa. Os títulos foram consequência. O objetivo foi o lucro, o destaque. Títulos são para a torcida. Petraglia ignora a torcida. Sem torcida não há futebol. Petraglia não liga para o futebol. Quer saber do lucro, da elevação da imagem. Pouco importa o futebol. E não me entendam mal. Não estou dizendo que o alto preço dos ingressos é que proporcionará o lucro. Petraglia, ao cobrar uma fortuna pela entrada no seu estádio, quer sim é acabar com a torcida. Quer acabar com o futebol. Afinal, em uma empresa, não há lugar para emoção.