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23 mar 2004 - 20h25

Viva Petraglia!

“Agora que os nervos já arrefeceram um pouco – embora ainda ferventes, posso enviar minha opinião à casa do Furacão na internet, ponto de encontro de todos os rubro-negros. Li algumas opiniões enviadas ao site, e me espantei com a indignação da torcida. Sinceramente, não entendi o por quê dos protestos no último jogo, lamentáveis atitudes, tudo fruto do desespero.

O Clube Atlético Paranaense entra para o rol dos grandes clubes do mundo. Com muito orgulho, todos devemos agradecer a nossa querida diretoria que fez de tudo para nos sentirmos na Europa, embora ainda estejam devendo o Big Ben, as Torres, o Coliseu, os black cabs e a maravilhosa Champs-Elysées com seus inigualáveis fins de tarde (mas isso ainda pode ser protelado). Já mandei comprar camisas Ermenegildo Zegna para celebrar o triunfo do dinheiro sobre todo o resto. Usarei no primeiro jogo do Brasileirão. Pagarei apenas R$ 30,00 para o sossego e para assistir o Ramalho+10. Mas todos me perguntam: e a torcida? O caldeirão como fica? Bobagem, pra que gritar, se exaltar, no ápice da euforia, todos suados, ‘matando’ pelo time enquanto podemos apreciar um bom charuto ou uma taça do melhor vinho em agradável ambiente. Vamos fingir que estamos na Finlândia ou na Suíça ou na Áustria todos sentados apenas aplaudindo, nada mais é necessário. Apenas o aplauso. Sem gritos nem apupos. Isso é primeiro mundo, minha gente. É isso que esses homens incríveis estão oferecendo para todos nós. Esse clima fantástico do querido Velho Mundo. Um pedaço da Europa incrustado em nosso país. Ali a ClearChannel poderia promover partidas de Pólo, realizar torneios de golfe ou críquete. Não, não o negócio é futebol. Mil perdões, mas é que me empolgo um pouco com meus hobbies.

Por isso, conclamo todos os milionários rubro-negros, mas apenas os milionários, para nos confraternizarmos no nosso novo clube. Vamos todos com nossos ternos finos, casacas e cartolas – mas na hora do jogo, tire para não atrapalhar o endinheirado de trás, por favor! Nossas mulheres com vestidos que dá pra comprar um apartamento para uma família de ex-torcedores. Na elegância. Após a partida, saímos em nossos Jaguares, Mercedes e Porsches. Cada um para sua casinha. Quando ganharmos o título, e é a única situação, é permitido um buzinaço, mas sem exageros! Deve ser um buzinaço europeu. Com classe e pompa. Até vejo a próxima final: todos trajando black-tie. Que beleza! Que alegria! Mas não grite, por favor. Ass: Augustus Henry Philip Matias Guttemberg Windsor Campos Salles Almeida Silveira Orleans e Bragança Jr.”

O texto acima é, em sua maioria, pura loucura, fantasia, ópio. Será que é esse tipo de devaneio, digo, resposta que a diretoria gostaria de receber? Brincadeiras e protestos à parte, respeito muito nossa diretoria, porque já provaram que são capazes em outras situações. Quando aumentaram o ingresso para R$15,00 eu ponderei e vi que não havia outro caminho e concordei – relutante. Mas isso é, como diz o ditado, colocar o ‘carro na frente dos bois’. Concordo que a bilheteria não pode representar apenas 8% do total da receita, mas arremessar esse peso inteiro nas costas da torcida? (Mais um capítulo da série: Segura que o filho é teu!) Mas o que mais me aflige é que nosso querido estádio, Nosso Caldeirão, o Joaquim Américo Guimarães, transforme-se em uma enorme sala de espera de consultório odontológico: todo mundo sentado, quietinho e com cara de bunda. Só falta a musiquinha, o som da broca e mudar o nome para Major Antônio Couto Pereira…



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