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1 abr 2004 - 17h50

Tempos Modernos

Domingo último tive a oportunidade de ver uma entrevista do presidente do Atlético na televisão. Entre outras coisas, ele disse que, no futuro próximo, somente existirão grandes clubes no Brasil e que o Atlético será um deles (concordo). Também disse que o brasileiro deve parar de se ver como pertencente a um País do terceiro mundo, pobre; deve buscar a transformação necessária para melhorar suas condições (também concordo). Pediu o apoio de todos, principalmente em relação à decisão polêmica do aumento do preço dos ingressos, disse que era uma decisão pensada e que era inevitável para tornar o Atlético um dos grandes times do Brasil (não preciso nem falar que não concordo).

Mas é interessante pensar nessa idéia, a de que devemos buscar a mudança, a evolução, de maneira a conseguirmos melhores condições de vida. Acho que nós não estamos acostumados em fazer isso. Aceitamos tudo muito passivamente, até por medo de se comprometer em alguma discussão. Se nosso patrão não nos dá o aumento de salário que pleiteamos, costumamos pensar: “antes empregado do que desempregado…” e aceitamos qualquer imposição. Agimos segundo o bordão “antes ele do que eu” e levamos muito a sério a “lei do Gérson” e, enquanto a situação é vantajosa para nós, ficamos omissos, calados.

É assim aparentemente em todos os campos da vida do brasileiro comum. Aumento nos medicamentos? “Fazer o quê?”; políticos mentirosos, corruptos e ineptos? “Comigo tá tudo bem, contanto que tenha a minha cervejinha…” e deixamos passar tudo por mais que não concordemos.

Em resumo, falta consciência de nação ao povo de modo geral. Por que no futebol seria diferente? Será que a nação rubro-negra entende o que está havendo, ou existem algumas pessoas que, não sendo afetadas pelas decisões, simplesmente ignoram o bem-estar dos outros componentes da nação? Acho que a situação é exatamente a mesma e as reações de alguns refletem a forma de pensar do brasileiro e geral. “Posso pagar, não é comigo”. E por que isso?

O colega rubro-negro Antonio Katovski Filho escreveu um texto, publicado no site em 19/03, onde expõe a tese de que o comportamento da própria torcida acaba por causar decisões, tomada pela diretoria dos clubes, como a que elevou o preço dos ingressos. E vai mais além: diz que nós, atleticanos, não nos comportamos como uma nação rubro-negra, pois acabamos por consumir materiais de outros clubes enquanto não privilegiamos o nosso próprio Atlético. Concordo plenamente e vou mais além.

Antonio diz em seu texto que nossos canais de televisão preferem transmitir jogos de outros campeonatos em detrimento dos jogos dos times paranaenses. Chegamos mesmo a torcer por times dos estados do Rio e São Paulo. Alguém já observou qual o espaço dado aos clubes paranaenses nos programas das grandes redes de TV? O Globo Esporte estadual (não questiono o real interesse da equipe que o compõe) tem somente 5 minutos, isso para noticiar tudo o que está havendo no esporte do estado. Os restantes 25 minutos são dedicados, basicamente, aos times de São Paulo e Rio (em se tratando de futebol). Interessa para alguém saber notícias do treino do Botafogo (RJ) e do Friburguense (RJ)? Interessa saber em detalhes o que a torcida do Corinthians está achando do atual time? Que o Romário foi jogar fut-vôlei em vez de tratar sua contusão? Para mim não interessa! Tanto é que praticamente nada foi noticiado sobre a polêmica do aumento dos ingressos pela diretoria do Atlético. Só vi o Jorge Kajuru, num dos seus famosos acessos, comentar algo quando houve a proibição da Rádio Transamérica transmitir o jogo contra o União. Ainda assim, ele foi bem sarcástico: …”será que vocês pensam que tem um time tão bom para isso (o aumento dos ingressos). Pois não tem não…”. Exceção se faça ao programa “Tribuna no Esporte” (SBT) e ao “Mesa Redonda” (CNT) que abrem grandes espaços ao esporte paranaense, principalmente ao futebol.

Por que isso ocorre?? Parece que temos o costume de acatar as decisões sem questioná-las, sem verificar se é o que, de fato, queremos. Parece que estamos acostumados a consumir o que nos é ofertado. Parece que sempre devem decidir por nós como e porque as coisas devem ser feitas, e não nos foi ensinado ou permitido dizer: “não é isso que quero para mim”. Também parece que não fazemos muita questão de termos o poder de não aceitar aquilo que não concordamos. E principalmente não levamos em conta os interesses de outras pessoas, principalmente menos favorecidas. A grosso modo, não é isso que a imprensa do Rio de Janeiro faz em relação aos outros estados? Não dizem “O Brasil é o Rio e o resto…” ?

Eu acho que as pessoas acabam por desenvolver um senso de preservação muito grande, o qual tende para o individualismo puro e simples. E vejo esse tipo de falta de identidade de grupo dentro da própria nação atleticana.

O jogo contra o União mostrou, pelo menos, que a torcida atleticana está indignada com os rumos que as coisas estão tomando, certo? Eu acho que não. O que vi no estádio me deixou muito triste, pois pensei que os torcedores do Atlético dariam uma grande demonstração do que devemos chamar identidade de uma nação. Tudo começou da forma como eu previa: faixas de protesto, aplausos às manifestações, todos parecendo unidos na demonstração de indignação. Decisões erradas da diretoria acabou por acirrar os ânimos: seguranças tentaram impedir as manifestações e a reação foi inevitável, assim como brutal. A torcida reagiu demonstrando que estava muito mais do que indignada, estava revoltada. Palavrões à parte, todos estavam exercendo seu direito democrático de protestar. Fiquei admirado porque achava que a nação atleticana estava unida em torno de um ideal comum. Poderíamos, sim, dar um exemplo de uma nação que não concordou com algumas decisões impostas e que procura alternativas para melhorar a situação. Pensei: “como o amor pelo Atlético é único…”. No intervalo do jogo, a torcida “Os Fanáticos” acabou por mudar de lugar, saindo de sua posição tradicional e indo para trás dos gol de fundos. Como sempre, os segui. E foi aí que vi que, na verdade, a nação atleticana não é tão unida quanto parece: vi muitas “torcidas” de nariz, comentários não edificantes e palavras agressivas em relação aos protestos, no caminho através das arquibancadas. Para culminar, os olhares de profundo desprezo das pessoas que estavam nos camarotes. Vi mulheres cheias de jóias olharem com profundo desdém para as moças, que estavam junto da torcida, vestidas com a camisa do Atlético. E, para coroar a minha decepção, alguém jogou, dos camarotes, um copo de “líquido” (Refrigerante? Cerveja? Água?) na torcida. Nossa própria torcida jogando coisas em nós mesmos?

Ali eu vi a verdade. Que nem mesmo a nação atleticana está unida, quanto mais querer uma identidade paranaense ou mesmo brasileira? Parece que, na verdade, muitos até gostariam que a freqüência na Arena da Baixada sofresse uma mudança. Creio mesmo que esse tipo de pessoa até goste de saber do treino do Botafogo, do Flamengo, porque, na verdade, o Atlético é somente passatempo entre uma viagem e outra, entre uma compra e outra. Só que essas pessoas podem pagar aquilo que a diretoria quer, como por exemplo, R$ 260,00 pelo “kit” de camisas, comemorativas dos 80 anos. Pessoas que podem escolher entre “Nike” e “Adidas” e que acham que o parcelamento do pacote em 12 vezes é uma esmola mais do que suficiente. Parece que a única consciência que esse tipo de pessoa tem do seu saldo bancário.

Depois lembrei que o Petraglia já tinha dito, há algum tempo, que o Atlético precisava privilegiar aqueles torcedores que podiam gastar dinheiro com o clube, numa alusão de que aquele que gasta somente com o ingresso não estará nos planos futuros do clube. Agora vemos o resultado da idéia.

Alguns esportes, como o vôlei, o basquete, lutam para atrair público aos ginásios; outros nem fazem questão de público, como o tênis e o golfe. O futebol brasileiro sempre foi o único que permitia acesso à todas as camadas sociais, sendo inclusive, desprezado pelos “mais ricos”. Sempre despertou grande paixão. Hoje vemos criado um ponto de inflexão, principalmente na história do Atlético, onde se deixa claro que não se quer mais o torcedor de baixa renda nos jogos. E o mais brutal é que tem gente que aceita isso numa boa!

Nunca vi um presidente de clube chamar sua torcida de “marginais e bêbados”. Nunca vi um presidente de clube desprezar determinados componentes de sua torcida (talvez os mais apaixonados) em virtude da condição social dos mesmos. Nunca vi um presidente de clube dizer que precisa de somente 24.000 “parceiros” e que futebol não é mais feito para torcedores, e sim para “apreciadores”.

Já pensei em chamar o atual presidente do Atlético de anticristo, já que, para mim, ele visa o final dos tempos para o grande Furacão. Só que lembrei que o anticristo deveria agir agregando os “iludidos”, ante sua magnética personalidade e seu poder de argumentação. Por isso acho melhor chamá-lo somente de BURRO mesmo.



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