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20 abr 2004 - 20h13

O que é isso, companheiro?

Dos textos que já escrevi sobre o Furacão, tenho certeza que esse está sendo o mais difícil. Porque ainda não consegui absorver o que houve na partida de domingo. Foi a primeira vez que vi – no campo – o Atlético perder um título, ainda mais em casa e, pior de tudo, para o Coritiba. É uma sensação de vazio, de perda, muito, mais muito grande mesmo. Mais que difícil, continua sendo triste lembrar o que aconteceu.

Sobre os jogos em si, sobre os jogadores, sobre o ex-técnico, muitos já falaram sobre os acontecimentos. O que me deixa mais chateado é que, na minha opinião, entregamos o título na mão do adversário, por nossa própria incompetência ou mesmo descuido. Sobre isso, deve ficar a história como exemplo, mas mais palavras não são necessárias, não trarão nenhum conforto.

O que me deixou mais triste foi a reação tão violenta e descontrolada da nossa própria torcida. Concordo que as atitudes da diretoria foram, digamos, absolutistas, já que foram outorgadas à nação rubro-negra e não se cogitou nenhum tipo de discussão ou debate. Mas não creio que externalizar a violência e frustração ocasionadas pela imposição seja o caminho mais coerente. Ainda mais fazer isso dentro de nossa própria casa. Que argumentos teremos agora?

Desde o momento que li a notícia de que o preço dos ingressos seria aumentado em 100%, tomei posição contra a medida. Porque acho que a grande força do Atlético sempre foi a sua torcida apaixonada. Não concordo porque acho que num País como o nosso, tão pobre, o valor do ingresso acaba por gerar exclusão e creio que devamos trabalhar para acabar com as diferenças sociais, motivos de tantos problemas.

Porém sempre achei que o melhor caminho para solucionar o impasse era o diálogo, apesar da diretoria deixar claro que não iria tornar-se refém de torcedores, conforme palavras do presidente. Mesmo assim, restava a opção de se deixar de ir ao estádio. Caso não estejamos contentes com um serviço ou preço de determinado produto, uma maneira de tornar nossa posição clara é evitar consumí-lo. Violência não é resposta. Isso não é amor ao clube. Para mim, é ódio.

Em outro texto, no qual exprimi o meu desejo de ver a nação rubro-negra comportando-se como tal, comentei as atitudes divergentes dentro de nosso próprio povo. Agora tivemos um exemplo maior dessa divergência e intransigência e, pior, foi dado por pessoas que, supostamente, devem estar descontentes com a questão do ingresso. Será esse tipo de pessoas que estamos defendendo?

Sim, porque eu não tolero a violência existente nas ruas. Agora vou ter que agüentá-la em minha própria casa? Agora o Furacão corre o risco de ser punido por causa dessas atitudes. Foi justificado? Conseguiram abaixar o preço dos ingressos? Revertemos a derrota na final?

O caminho não é esse. Caso o torcedor não esteja contente com a política da diretoria, é direito seu protestar, não ir ao estádio, mas sem violência. Ela tira a legitimidade de qualquer movimento. Vamos nos comportar como uma verdadeira nação.

O que foi pior: termos entregado o título aos coxas ou o exemplo negativo que alguns deram no jogo de domingo?

A nação rubro-negra não se constrói assim.



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