14 jul 2004 - 12h06

Opinião de Juliano Ribas

O colunista Juliano Ribas expressa sua opinião sobre a negociação do meia Adriano para o Cruzeiro. O Atlético vendeu 50% dos direitos federativos do jogador pela quantia de US$ 1 mi. Confira o texto de Juliano:

Show do Milhão
por Juliano Ribas

Há algum tempo o ciclo de Adriano havia se encerrado no Atlético. Ele queria ir embora, dar prosseguimento a sua carreira. Mas nós achávamos que ele deveria ficar, devido à grande importância que ele tem para todos nós e, principalmente, para a história do nosso time. Muitos ficaram tão indignados quando falou-se na sua saída que, inflamados, chamaram-no de ingrato. Um absurdo.

Ele renovou contrato e o vínculo com o CAP. Porque perder Adriano para outro time e por uma bagatela seria um absurdo. Se depois de 30 de junho a diretoria não tivesse sido hábil em sua renovação, que foi até 2007, Adriano deixaria o Atlético assim mesmo, mas por 30 dinheiros. Por meia pataca. Por uma ninharia. Ou como queiram chamar qualquer dinheiro menor do que US$ 1.000.000,00 (por 50% do passe).

Imaginar que o certo seria mantê-lo a todo custo para conquistar o bi e que isso seria garantia da conquista é trabalhar demais no terreno das suposições e da imaginação. Há uma verdade nesse história toda: Adriano é um profissional e queria, e precisava até, sair. Acabou finalmente e definitivamente a novela. Deu lugar ao show do milhão.

O CAP, graças a essa diretoria alcançou um patamar grandioso dentro do cenário do futebol nacional. Mas muitos clubes do Brasil ainda não tinham percebido isso. Adriano teve muitas ofertas, até mesmo do falido e tema de anedotas, Coritiba. Nenhuma delas, seja de São Paulo, Internacional, Palmeiras, Flamengo e até anteriormente Cruzeiro, tinham levado em conta a grandeza desse jogador. Ofereciam muito menos do que ele vale. Se ele tivesse feito tudo o que fez no Atlético nos times do eixo RJ-SP, teriam oferecido muito mais antes. Petraglia convenceu a todos que não é porque o sucesso do Adriano foi num clube “emergente”, que seu futebol teria menor valor do que o de um Vampeta ou Petkovic (ou seja lá como se escreve isso) da vida. Vale 3 milhões de reais por 50% ou nada. É pegar ou largar. O Cruzeiro pegou.

A negociação era esperada, mas quando vimos Adriano em campo percebemos como seria bom ele engrenado no time. Tanto que quando ele entrou todo mundo começou a sonhar, inclusive eu com seus gols e seu fôlego incansável em prol do CAP. Parecia até filme de ficção. Um bom romance que não queremos que a leitura acabe. Mas acabou. Caímos da cama.

Não se deve confundir essa negociacão com negociata. Não teve um caráter puramente de compra e venda. Levou-se em conta os anseios do ser-humano Adriano. Não houve desonestidade ou falta de sensibilidade para com a torcida. Era melhor que ele fosse para fora do país, para não vermos o Adriano com outra camisa e acompanhar seu brilho em outra agremiação. Mas Adriano é um jogador com um fantástico mercado nacional e um pífio mercado internacional. Ele já foi e não deu certo.

A diretoria aceitou o inevitável e endureceu com os possíveis compradores. A equipe que mais investe e investiu em plantel no futebol nacional nos últimos tempos, o Cruzeiro, comprou. Se eles podem pagar 100 mil por mês ou algo em torno disso para ele, ok. Nós não podemos. Não vamos nos meter a pagar valores dessa soma, principalmente a um jogador que queria novos ares.

Chega de ilusão. A vida anda para a frente. Todo mundo pensa em mudar. Ver coisas novas, conhecer outros ambientes. Adriano conhecia o do CSA, o do Atlético e superficialmente o do Olympique de Marselha. A diretoria sabia disso. E, em respeito ao Adriano, que muito fez por nós, buscou o melhor negócio para o jogador. É uma bela grana para o CAP. Morais está aí, louco pra jogar. Temos o Jadson que precisa voltar a ser Jadson. E, quem sabe com essa bufunfa (dinheiro, tutu, cascalho), busquemos uma outra peça para o elenco. Mas com o que temos é possível o título. É só jogar o que vínhamos jogando há algumas rodadas atrás (sem a presença de Adriano, diga-se), o Levir perder o medo de jogar para frente e a torcida acreditar. Mais uma crisezinha envolvendo a diretoria é péssima nessa hora.

Adriano permanece na galeria dos grandes do CAP pelos seus 6 anos de dedicação, títulos, sangue, vibração, emoção e identificação com a camisa Rubro-negra. Ninguém vai desejar boa sorte a ele, porque ele vai para um rival no campeonato. O melhor é dar um “até logo” e dizer “obrigado Gabiru”.

Mas que o Cruzeiro ficou reforçado, ficou. Ah, como ficou!

Juliano Ribas é colunista da Furacao.com. Clique aqui para ler outros textos de sua autoria.

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