Dourada azarada?
O fato: em cinco jogos com a camisa dourada, o time principal do Atlético perdeu três vezes e empatou duas. Marcou somente três gols e sofreu oito. O mito: a camisa dourada, atual segundo uniforme do clube, dá azar.
Contra o fato, nada pode ser dito. O Atlético realmente nunca conseguiu ganhar um jogo desde que jogou pela primeira vez com o novo uniforme, em setembro de 2003. Contra o mito, há muito a ser discutido. Vários atleticanos acreditam que os insucessos estão vinculados à má sorte da camisa dourada. Porém, muitos defendem que não passa de coincidência e que o Furacão ainda não venceu de dourado por pura incompetência.
Origem da camisa
A camisa dourada foi lançada pelo Atlético no segundo semestre do ano passado. Surgiu como homenagem tardia à conquista do título brasileiro em 2001, que valeu ao clube uma estrela dourada no peito. Assim, foi aposentada a camisa branca, tradicional reserva do manto rubro-negro e utilizada em casos de conflito de cores com o adversário.
Muito embora a Umbro, fabricante dos uniformes atleticanos desde 1997, não divulgue dados acerca das vendas de camisas, constata-se que a dourada do Atlético obteve sucesso. Em menos de um ano de comercialização, a camisa foi bem aceita pelos torcedores. É muito comum vê-la nos jogos do Atlético e mesmo pelas ruas de Curitiba. O sucesso explica-se pela paixão do atleticano e pela originalidade – incomum a qualquer outro grande clube brasileiro.
“Gosto da camisa dourada e acho que, em termos de inovação e marketing, o Atlético está muito a frente dos demais clubes brasileiros. É uma questão de adaptação”, afirma Rogério Andrade, colunista da Furacao.com e atleticano de “berço”, como ele mesmo se define.
Apesar disso, há quem não goste. Os principais argumentos são a ausência de identificação com as tradições do clube e, mesmo, tom escolhido pelo fabricante. “Além de utilizar uma cor que não está entre as cores tradicionais do clube, é uma cor feia e que não caiu bem na camisa”, comenta Ricardo Campelo, outro colunista do site.
Desempenho dourado
Gosto à parte, o desempenho do Atlético com a camisa dourada não foi bom. O time principal jogou cinco vezes com o novo uniforme (duas pelo Brasileirão 2003 e três pelo Brasileirão 2004). Coincidentemente, as únicas vezes em que a “dourada” não perdeu foram em jogos realizados na cidade de Campinas (um 2 a 2 com a Ponte Preta e um 0 a 0 com o Guarani).
Nos dois confrontos contra o Flamengo, o Rubro-negro (ou, no caso, dourado) saiu derrotado (2 a 1 e 3 a 0). Por fim, no único jogo em Curitiba, novo fracasso: 1 a 0 para o Paraná Clube, em um clássico que parecia favas contadas. O primeiro gol atleticano com a camisa foi marcado por Alex Mineiro, de pênalti, no Maracanã. Além dele, somente o volante Luciano Santos e o atacante Ilan fizeram gols vestindo o dourado.
A camisa teve melhor sorte com o time B do Atlético, que disputou (e venceu) a Copa Sesquicentenário, em 2003. Com esse uniforme, o Furacão fez três jogos: venceu o Paraná por 1 a 0 (gol de Fabrício), empatou com o Capão Raso por 0 a 0 e goleou o mesmo Capão Raso por 4 a 0 (dois de Ricardinho, Selmir e Marcelo Régis). Nas categorias de base, a camisa dourada deu título até internacional ao Atlético. Foi vestindo essa camisa que o time júnior conquistou a Dallas Cup, em abril.
Juniores foram campeões com a camisa dourada
Histórias de azar
A superstição, a reza, a fé e a crença são elementos que fazem parte do futebol e, com mais força ainda, do futebol brasileiro. Quem nunca fez promessa para o Atlético ser campeão brasileiro ou repetiu a mesma roupa no jogo seguinte depois de uma vitória espetacular? Quem não faz ou não conhece alguém que faça rituais antes e durante os jogos do Furacão, acreditando piamente que o time depende desse apoio?
Como escreveu Nelson Rodrigues, “nenhum brasileiro consegue ser nada, no futebol ou fora dele, sem a sua medalhinha no pescoço, sem os seus santos, as suas promessas e, numa palavra, sem o seu Deus pessoal e intransferível”. O mesmo Nelson Rodrigues que criou o “Sobrenatural de Almeida” para explicar resultados e acontecimentos que a mera análise do jogo não podia explicar.
Os registros de episódios relacionados à superstição no futebol brasileiro são incontáveis. Desde as simples promessas até as macumbas ou “trabalhos” para vencer um jogo ou um campeonato. Histórias tantas capazes de preencher um rico capítulo da própria história do futebol nacional.
Para tratar apenas das camisas que supostamente dão azar aos seus times, deve-se citar o primeiro caso que se tem registro, ainda em 1912. Neste ano, o Flamengo lançou a camisa que ficou conhecida por “papagaio-de-vintém”, formada por grandes quadrados rubro-negros. Com esse uniforme, o clube perdeu o primeiro Fla-Flu da história e foi vice-campeão estadual em 1912 e 1913. Foi o suficiente para decretar o mau agouro da camisa, imediatamente aposentada.
O caso mais célebre, porém, é o da Seleção Brasileira. A primeira camisa da Seleção era branca, com detalhes em azul. Foi com esse uniforme que o Brasil disputou primeiras Copas do Mundo. Foi vestindo branco que perdemos a final da Copa de 50, em pleno Maracanã, para o Uruguai. Diagnóstico da derrota: a camisa trazia azar.
Por isso, foi realizado um concurso para a escolha da nova camisa nacional. Venceu a amarela, com detalhes em verde. Coincidência ou não, depois que adotou a canarinho, o Brasil conquistou cinco títulos mundiais.
Derrota no último jogo (foto: Walter Alves / Paraná-Online)
Azar ou mera coincidência?
Isso tudo não significa que definitivamente a camisa dourada do Atlético seja azarada ou responsável pelos maus resultados. “Isso não existe. Se camisa ganhasse jogo, a Seleção Brasileira seria sempre campeã. Se o time é ruim ou joga mal, não há farda que sustente”, acredita o colunista Dary Júnior, radicado atleticano desde que trocou Corumbá por Curitiba.
Porém, há os que não admitem brincar com o desconhecido. “Tudo bem, camisa não ganha jogo. Mas acho que podem existir ‘fatores ocultos’ que não fazem o time render o esperado quando usa aquela camisa. Além de perder, parece que o Atlético trava quando usa a camisa dourada”, contra-argumenta a também colunista Patricia Bahr.
A opinião dela é compartilhada por outros colaboradores do site. “Não acho que dê azar, mas acredito que a fama negativa já possa estar embutida nas cabeças dos torcedores e dos jogadores, de forma subconsciente ou não, criando uma resistência aos resultados positivos. É como um tabu, que se torna mais difícil de quebrar quanto mais se pensa ou se fala nele”, afirma Guilherme Zawadzki.
Entre os jogadores, essa teoria é rechaçada. Adriano, que participou de três dos cinco jogos da camisa dourada, acha que a camisa dourada não faz diferença. “Acho que camisa não ganha jogo. O problema é que o adversário nos surpreendeu”, afirmou ele depois da derrota para o Paraná Clube, a última aparição do segundo uniforme.
De fato, não existe explicação científica para sustentar a tese de que a camisa dourada dá azar. Por outro lado, talvez o jogo contra o Internacional – provável próxima aparição da camisa dourada – seja um bom momento para a estréia do terceiro uniforme do clube, o preto. É como diz o ditado: eu não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem.
Saiba mais
Confira quais foram os jogos do time principal com a camisa dourada:
27.09.03 – Flamengo 2 x 1 Atlético (ficha técnica)
08.10.03 – Ponte Preta 2 x 2 Atlético (ficha técnica)
08.05.04 – Guarani 0 x 0 Atlético (ficha técnica)
13.06.04 – Flamengo 3 x 0 Atlético (ficha técnica)
07.07.04 – Paraná Clube 1 x 0 Atlético (ficha técnica)
Opinião
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