O que você acha da setorização?
Desde o jogo contra o Cruzeiro, na 8ª rodada do Campeonato Brasileiro, o torcedor atleticano está sendo obrigado a conviver com novos costumes. Além da preocupação com o desempenho do time, natural para qualquer torcedor do país, ele também precisa testar a paciência para achar o local exato onde assistirá ao jogo. Tarefa que pode exigir alguns minutos se sua cadeira for a 325, fila K, setor 104, por exemplo.
A setorização da Arena da Baixada foi implantada como forma de viabilizar os custos de manutenção do estádio. Inicialmente, a intenção era cobrar um preço único pelo acesso a qualquer lugar do estádio (R$ 30). A medida foi rechaçada por setores da torcida e foi inviabilizada judicialmente.
Diante disso, a solução foi dividir o estádio em quatro setores, com três faixas de preços: Getúlio Vargas superior (R$ 60), Getúlio Vargas inferior (R$ 30), Buenos Aires e Madre Maria (R$ 15)*. Trata-se da “setorização” da Arena da Baixada, que já recebeu cinco jogos desde a divisão.
Confusão e filas
A principal crítica dos torcedores é quanto à organização nos momentos da venda e da entrada no estádio. A falta de informações gera filas, confusões e irritação.
O estudante Gustavo França, de 24 anos, acha que a setorização não está funcionando. Gustavo reclamou que enfrentou uma longa fila para comprar sua entrada para o jogo contra o Goiás. Além disso, acabou se desencontrando dos amigos e não pôde ver à estrondosa goleada atleticana ao lado de pessoas com quem costumava assistir aos jogos do Furacão.
Para o professor universitário Luiz Fernando da Costa, assíduo freqüentador dos estádios paranaenses, a setorização foi uma medida acertada. Segundo ele, é justo cobrar preços diferenciados para locais distintos. Porém, Luiz Fernando faz restrições quanto à maneira pela qual a decisão foi tomada e imposta, sem um prévio debate com os torcedores.
O funcionário público Elmir, de 42 anos, é contrário à medida. Para ele, as filas para entrar no estádio e a separação dos torcedores causou grande irritação e distanciou a diretoria dos torcedores do clube.
Porém, há quem concorde plenamente com a setorização. O jornalista José Augusto apóia a decisão do clube, argumentando que os altos custos de manutenção da Arena têm de ser bancados através da receita dos ingressos. Rodrigo Tecerolli, administrador de empresas de 28 anos, também vê o lado positivo da medida. Ele acha que as bandeiras das Torcidas Organizadas poderiam atrapalhar a visão dos outros torcedores e, por isso, aprova a proibição.
Por outro lado, Tecerolli aproveitou para dar uma sugestão: os torcedores deveriam ter acesso à Arena por qualquer uma das entradas (Buenos Aires, Madre Maria ou Getúlio Vargas) e só ficarem separados dentro do estádio. Informalmente, funcionários do Atlético revelaram que o clube estuda mudar as regras para os torcedores dos setores Buenos Aires e Madre Maria. Estes não teriam cadeira definida, apenas o setor.
Posição da Fanáticos
O posicionamento da Torcida Organizada Os Fanáticos, como era de se supor, é totalmente contrário à decisão da diretoria do clube. A setorização proibiu a entrada de faixas e de instrumentos de percussão no primeiro anel da Baixada. Nos primeiros jogos, a Fanáticos ficou no piso superior da Getúlio Vargas, mas logo retornou ao seu lugar antigo, mesmo sem os adereços.’
O presidente da associação, Júlio Sobota, deixou de ir à Arena desde o clássico Atletiba e prometeu que só voltará ao estádio quando as proibições forem retiradas. Já o vice-presidente, Juliano Rodrigues, afirma que não entende os motivos pelos quais a bateria não é permitida no andar inferior. Para ele, o “fator Baixada” está deixando de existir.
Segundo Juliano, nunca houve críticas de proprietários de camarotes próximos ao setor 103, local onde a Fanáticos assiste aos jogos.
Ausência da bateria
A ausência da bateria, por sinal, tem sido uma das principais reclamações dos torcedores. O analista de sistemas Luciano Mengarelli, de 28 anos, revela que está sentindo muita falta dos instrumentos de percussão durante os jogos. Luciano, que é argentino, lembra que a vibração é um dos principais diferenciais da torcida atleticana. Para ele, ver os jogos no estádio sem a bateria é tão sossegado quanto assistir pela televisão.
A opinião de Luciano é compartilhada pelo comerciante Dráuzio Santos Júnior, pelo químico Alexandre Bescorovaine, pelo bancário Celso de Lima e pelo empresário José Marcos. Todos acham que ficou mais chato ir aos jogos do Atlético sem a empolgação proporcionada pela bateria da torcida, que puxa os principais gritos. José Marcos lembra que na última Eurocopa, disputada em Portugal, todos os estádios permitiram a entrada de instrumentos de percussão e de faixas, proporcionando belos espetáculos.
Até mesmo os favoráveis à setorização fizeram ressalvas quanto à proibição da bateria. O jornalista José Augusto e o administrador Rodrigo Tecerolli também sentiram falta da bateria no jogo contra o Goiás.
Ao todo, a Furacao.com entrevistou e gravou as respostas de 28 torcedores. Destes, 20 se posicionaram contrários à setorização, 5 se disseram favoráveis, mas acham que o sistema deveria ser mais maleável e 3 aprovaram completamente a medida.
Em se tratando da proibição da bateria no anel inferior, a resposta foi unânime: todos os 28 entrevistados não vêem motivos para a restrição.
Saiba mais:
– Confira como ficou a setorização da Arena (site oficial)
Reportagem: Juarez Villela Filho, do Conteúdo da Furacao.com