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24 jul 2004 - 19h41

A minha cólera: que é ela senão reivindicação?

Há poucos minutos o Atlético foi goleado pelo Criciúma. Ainda sob o impacto da derrota, eu quero entoar um canto capaz de converter minha cólera em alerta, mas, e as palavras, eu que preciso tanto delas, traiçoeiras, onde estão?

Sei que o momento mais inadequado para se escrever é logo após o triunfo, ou logo depois de uma derrota. Tais momentos sempre confundem a mente, torcem os fatos, aumentam e diminuem os acontecimentos de acordo com as conveniências. Mas entre a prudência do silêncio e a exasperação do desabafo, prefiro desabafar.

O Atlético que aí está não é o meu Atlético, aliás, não é o time dos sonhos de nenhum torcedor. O Atlético que aí está é o espectro pálido de um time que morreu logo após a conquista do Campeonato Brasileiro de 2001.

É paradoxal pensarmos que, nossa maior conquista, foi também o último momento de lucidez de um time que vem nos decepcionando desde meados de 2002. É doloroso reconhecermos que a tão sonhada estrela amarela, que deveria ser nossa luz no caminho de tantas glórias, tenha se tornado um epitáfio silencioso sobre o escudo Rubro-Negro.

É triste ver um time tão entregue, tão abatido, tão pouco vibrante, tão irregular, como é esse atual time do Atlético. O que está acontecendo conosco? O que mudou em nossas mentes desde a conquista maior de 2001?

Chego a pensar que alguns atleticanos se deram por satisfeitos após dezembro de 2001, como se dissessem: “Igualamo-nos ao Coritiba. Já podemos descansar em paz”. Mas se fosse para ser igual a eles eu jamais teria escolhido o Atlético Paranaense. Eu escolhi um time marcado pela raça, pela luta, pelo vermelho e pelo preto, cores que explodem em emoção, que mexem comigo e que em muito se distanciam do frio e pálido branco e do tímido e pusilânime verde.

Se algum atleticano se contenta em ser igual aos verdes, que corra logo e se junte a eles, pois a mim não agrada dividir uma arquibancada com torcedores que tomam o Coritiba como referencial. Referencial de quê? Eu quero muito mais, nós queremos muito mais! E sabemos que o Atlético pode nos dar muito mais. Mas não esse Atlético que aí está, tão dividido, tão desunido, tão apequenado.

O Atlético que pode nos dar isso é aquele Atlético das bandeiras Rubro-Negras que rasgam o ar como se fossem, elas mesmas, uma espécie de furacão. O Atlético que pode nos dar os maiores triunfos é aquele Atlético da torcida Os Fanáticos, gritando livre em sua casa como se fosse ela mesma a voz de todos nós atleticanos.

O Atlético que nós queremos é o Atlético das massas, onde não há diferenças, pois a camisa Rubro-Negra sempre nos fez iguais na fé, na paixão e na crença de que o Atlético Paranaense é mais que um time: é uma inexplicável força da natureza, é um indômito Furacão.

É preciso de uma vez por todas corrigir o rumo de nossa História. O Atlético Paranaense é grande demais para suportar desmandos, experiências, discriminações e vaidades. Nós atleticanos, que amamos esse time, que tantas vezes lutamos por essas cores e que dedicamos nossas vidas à causa atleticana, precisamos voltar a ter a alma guerreira que tantas vezes nos fez campeões.

O Atlético deve ter a si como referencial, pois grandeza não lhe falta. O Atlético Paranaense deve se mirar no Atlético de 2001 que, contra tudo e contra todos, conquistou um campeonato brasileiro com números incontestáveis e com atuações das mais brilhantes.

Atleticanos, nós somos o Atlético e por ele devemos lutar. Só nós sabemos como é difícil ser atleticano em uma cidade autofágica onde tantos torcem contra as nossas cores. Inimigos, os mais covardes e dissimulados, não nos faltam, e eles proliferam, como coelhos e outros animais, por todos os cantos. Não sejamos nós a engrossar as fileiras daqueles que torcem contra o nosso Furacão. Protesto sim, mas com consciência. Cobrança sim, mas com moderação. Boicote, nunca! Violência, jamais!

Há poucos minutos o Atlético foi goleado pelo Criciúma. Ainda sob o impacto da derrota, eu escrevi esta crônica para converter minha cólera em alerta. Que a minha cólera, transformada em alerta, seja reivindicação para que o Atlético torne a ser forte.

Forte e indomável como um autêntico Furacão. Como aquele Furacão de 1949 que não nos sai da lembrança, como aquele Furacão de 2001 que ainda trazemos gravado no olhar. Forte como o Furacão que sopra dentro dos nossos corações, varrendo toda tristeza; como o Furacão que sopra forte dentro dos campos, varrendo todo inimigo.



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