Alexandre, o Grande
Do lado esquerdo carrego meus mortos. Por isso caminho um pouco de banda.
(Carlos Drummond de Andrade)
O ano era 1995. Nessa época, era comum vermos um jovem viver seus dias entre as arquibancadas do velho Joaquim Américo e os afazeres da nova vida de Jornalista. Lembro-me nitidamente de um domingo à tarde. Naquela ocasião eu assistia a um jogo do Atlético em companhia de mais quatro amigos. De repente, o Alexandre Zraik passou em nossa frente e logo meus amigos comentaram: “Eu já vi esse cara antes”, “Esse cara não me é estranho”, “Ele não é da televisão?”, “Será que ele estuda lá na faculdade?”, e eram perguntas que não acabavam mais.
Em resposta, disse aos meus amigos: – Esse é o Alexandre Zraik, um jornalista novo, está começando agora. É sobrinho do Hussein Zraik, pelo menos foi isso que eu ouvi dizer, mas, não sei por que, eu sei que esse guri vai longe. E tem mais: é atleticano como nós e dos mais entusiasmados, esse guri vai longe, vai longe!
Foram essas palavras que eu disse naquele domingo para poder “apresentar” o Alexandre Zraik àqueles meus amigos tão curiosos. Sem saber, eu fazia naquele momento um autêntico vaticínio, pois minhas palavras em pouco tempo se confirmaram e o Alexandre se tornou um dos mais importantes jornalistas deste Estado.
E essa consagração do Alexandre me enchia de orgulho, pois, a todo momento, eu lembrava aos meus amigos da profecia que eu havia feito lá na velha Baixada, em 1995, ao afirmar que o ainda pouco conhecido Alexandre seria um dos melhores jornalistas desta Curitiba sempre tão carente de novos talentos.
E o estilo combativo do Alexandre me agradava. A sua coragem, a ética, a busca pela melhor informação, a preocupação em relatar fielmente os fatos, a luta para defender a verdade, o destemor diante dos poderosos, a compaixão para com os mais fracos, o dedo em riste contra os grandes, a mão fraterna estendida para amparar os mais humildes, e o grande caráter, e o grande caráter…
Na manhã desta quinta-feira, como faço todas as manhãs, resolvi me “conectar” e ler todas as notícias do nosso querido Furacão. Eu estava ávido para ler todas as linhas que falassem da brilhante, e heróica, vitória que havíamos conquistado diante da encardida Ponte Preta. Meu coração era todo alegria até que me deparei com a terrível notícia do acidente envolvendo nosso estimado Alexandre.
A alegria deu lugar à preocupação e a nota sobre o acidente era pouco esclarecedora, mas deixava poucas esperanças. Foi uma longa e angustiada manhã. Chegando em casa liguei o televisor em busca de maiores informações. Pouco tempo depois, a notícia que ninguém gostaria de ouvir: o Alexandre nos deixara.
Após a confirmação da morte do Alexandre, veio-me à cabeça a certeza de que os bons morrem jovens; e o Alexandre era bom demais. Era bom por ser correto e honesto. Bom por ser competente e corajoso. Bom por ser verdadeiro numa época em que muitos só conhecem o caminho da mentira para guiar seus passos e “subir” na vida.
O Alexandre Zraik viveu seus dias com a intensidade de quem tem uma missão a cumprir e hoje, quando todos lamentam a enorme perda, fica-nos, como consolo, uma certeza: o melhor de nós cumpriu sua missão! E mais do que essa certeza fica o exemplo do profissional dedicado, do jornalista responsável, do comunicador habilidoso e do defensor incansável da verdade, função que o Alexandre desempenhou sem transigir um só instante.
A morte do Alexandre representa, para todos nós, a perda de um amigo. Mesmo aqueles que não o conheceram pessoalmente e que não privaram de sua amizade hoje se sentem tristes demais, chocados demais com tamanha tragédia.
Mais que um amigo, perdemos um grande homem que soube como poucos honrar o juramento de sua nobre profissão, que soube como poucos dar valor à sua profissão, um homem que soube, como poucos, usar a verdade para abrir o caminho que leva a Deus.
Que Deus, Nosso Pai Supremo, dê à família do Alexandre a paz, o conforto e a força necessária para suportar a imensa dor da perda.
Nós rogamos para que Deus, em Sua infinita bondade, receba o Alexandre de braços abertos e dê a ele o repouso que merece todo guerreiro e o descanso que merece todo homem bom e justo que fez de sua vida um ofício de amor, de luta, de fé e de verdade.