1 ago 2004 - 21h38

Uma lição de vida polonesa

O Atlético tem se caracterizado pela presença de muitos jogadores estrangeiros na equipe nos últimos 10 anos: desde o uruguaio Matosas até o boliviano Raldes, passando pelo folclórico Lobatón, foram diversos jogadores dos mais variados países: Argentina, Paraguai, Uruguai, Bósnia-Herzegovina, Croácia, entre outros países. Mas certamente os estrangeiros mais marcantes para o clube vieram da Polônia: o volante Krzysztof Nowak e o meia Mariusz Piekarski vieram como novidades exóticas para o Atlético, e se firmaram no clube. Entre os dois, Nowak teve os melhores momentos dentro do Atlético e do futebol mundial. Hoje, por uma enorme infelicidade do destino, o volante teve que largar o futebol no auge de sua carreira, com apenas 25 anos, por motivos de saúde.

Esta história teve início no dia 27 de setembro de 1975, quando o jogador nasceu, em Varsóvia, na Polônia. Seu início no futebol se deu em 1985, nas divisões inferiores de um pequeno clube polonês, o Opal Lubosz. Após passar pelo Ursus Varsóvia, Nowak se profissionalizou em 1993, pelo Sokol Pniewy – permanecendo na equipe até 1995, quando se transferiu para o Sokol Tychy, onde ficou por um ano. Em 1996, ele atuou no Panahaiki Patras, da Grécia, transferindo-se para o Legia Varsóvia – maior clube da Polônia, logo em seguida.


Os poloneses foram muito bem recebidos em Curitiba

Ainda em 1996, Nowak resolveu arriscar um caminho diferente em sua carreira. Ao contrário de seus compatriotas, que tentavam vagas em equipes de menor expressão dentro da Europa, Nowak, juntamente com seu compatriota Mariusz Piekarski, tomou o rumo do Brasil, chegando ao Atlético Paranaense. A dupla polonesa teve êxito no Rubro-negro, deixando saudades dos torcedores. Enquanto Piekarski vagou por vários clubes do Brasil, sem obter o mesmo sucesso do Atlético, Nowak retornou ao continente europeu. Por US$ 500 mil, transferiu-se para o Wolfsburg, da Primeira Divisão alemã, em 1998.

Na Alemanha, rapidamente o jovem polonês conseguiu conquistar a torcida, pela sua vontade e carisma, aliados a um estilo de jogo refinado – Nowak caracterizava-se por ser um volante que, além de bom marcador, sabia sair jogando, apoiar ofensivamente. Não demorou muito tempo para que as atuações de Nowak na Alemanha o levassem a um sonho que o jogador tinha desde criança: integrar a seleção principal de seu país. Em 1999, Nowak foi convocado para a seleção da Polônia, onde jogou 10 partidas (quando estava no Atlético, Nowak e Piekarski serviram a seleção Sub-23). Era o auge da carreira do jogador, então com 23 anos. Pouco mais de um ano depois, o maior choque de sua vida.

Doença de Lou Gehrig

Após uma partida em fevereiro de 2001, Nowak sentiu um cansaço anormal, além de uma fraqueza na musculatura dos seus braços e pernas. Numa bateria de exames médicos, a pior notícia da carreira do jogador: foi diagnosticada uma perda de células nervosas na área que liga o cérebro à medula espinhal – mais conhecida como Esclerose Lateral. Pelo fato de ser uma doença que resulta na perda de massa muscular, pela degeneração de neurônios relacionados a funções motoras, a doença é chamada de Esclerose Lateral Amiotrófica (também conhecida como Doença de Lou Gehrig ou ALS). A paralisia causada pela ALS progride normalmente num período de três a cinco anos, não afetando todos os músculos do corpo – as funções sensoriais e intelectuais se mantém normais.


O Wolfsburg dá apoio ao ex-jogador

Sua causa é desconhecida e, por enquanto, não há tratamento que possa controlar o progresso da doença ou curá-la. Há uma série de métodos de tratamento que visam aliviar os sintomas, melhorando a qualidade de vida das pessoas com esta doença. Um exemplo famoso de personalidade com esta doença é o físico inglês Stephen Hawking.

O diagnóstico de Nowak, considerado pela maioria absoluta dos médicos alemães como o pior acontecimento esportivo da década, marcou o fim de sua carreira futebolística. O jogador, conhecido pela sua calma e autoconfiança, começou a procurar por respostas, mostrou uma imensa força de vontade e caráter, pois desde o início ele declarou que iria lutar contra a sua doença.

Infelizmente a doença progrediu muito rapidamente, afetando especialmente sua habilidade de falar, articular palavras – hoje ele vive em uma cadeira de rodas. Mas Nowak mantém um ar sereno, encarando com força sua situação: “Nós tentamos não pensar no porquê das coisas terem tomado esta direção. Todos querem ser saudáveis e felizes. Mas a vida é assim. Ninguém sabe porque alguns permanecem saudáveis e outros têm que sofrer. Você simplesmente permanece saudável ou não”, afirma.

Fundação Krzysztof Nowak

Em maio de 2002, foi criada a Fundação Krzysztof Nowak, com propósitos de caridade e ajuda a pessoas que acabam com necessidades devido à ALS. O Wolfsburg é um dos principais mantenedores da Fundação – em junho de 2002, numa atitude louvável, os jogadores do clube doaram parte de seus salários para a instituição.


No Atlético, Nowak era titular no meio-campo

Um grande evento da fundação foi um amistoso entre o Wolfsburg e o Bayern de Munique – que se dispôs a viajar a Wolfsburg sem cobrar nada -, com o objetivo de obter fundos para a fundação.

O futebol e o Atlético

Vivendo em Wolfsburg, na Alemanha, ele raramente perde um jogo da equipe local – é o tempo no qual, em alguns momentos, Nowak pode esquecer da doença que o obrigou a pendurar suas chuteiras e encerrar uma carreira brilhante no início de 2002. Ele entrou em campo pela última vez no dia 10 de fevereiro de 2001- uma vitória por 3 a 1 sobre o Hertha Berlim, em Berlim. Foi seu 83º jogo com a camisa do Wolfsburg no campeonato alemão – com 10 gols marcados. Desde então, o jogador é conhecido e chamado pelos seus fãs como o “10 de Copas” – alusão à naipe de baralho que representa um coração, a alma do jogador, o amor deste à sua equipe, o número que Nowak carregava às suas costas.

Hoje, no Wolfsburg, já é parte do jogo: quando o narrador começa a divulgar a escalação da equipe da casa, sempre o nome de Nowak está lá: “E o nosso número 10 de Copas: Krzysztooooof…”, e a torcida grita em retorno: “Nowak!”.


Nowak relembra bons momentos

“Eu realmente queria voltar para a Europa, pois a Europa possui os times mais fortes do mundo. Mas tivemos momentos maravilhosos no Brasil. As pessoas adoram a vida, são simpáticos, espontâneos, praticamente vibram todo o tempo. Eles realmente tem uma mentalidade completamente diferente, alegre”, diz o jogador falando o tempo que passou em Curitiba defendendo o Atlético. Sua esposa, Beata, mantém uma pasta com todas as notícias sobre Nowak durante sua passagem pelo Furacão.

Krzystof Nowak, 28 anos, polonês: este nome merece ser gravado na história do Clube Atlético Paranaense. Não apenas pelo que ele fez pelo clube, mas pelo exemplo de ser humano e jogador que foi durante a sua curta carreira.



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