A TV é uma vergonha
A televisão manda muito no Campeonato Brasileiro. É só ver no horário dos jogos do meio de semana que são transmitido: 21h 50min, horário realmente tarde para o torcedor que vai ao estádio e pretende voltar para casa, sendo que em muitas cidades as distâncias são enormes e em outras o transporte público é extremamente precário após a meia-noite, horário aproximado em que a torcida sai do estádio após os jogos. Isto tem espantado o público dos estádios. Porém é a televisão que manda porque as cotas de transmissão são a principal fonte de renda dos clubes.
É muito cômico (para não ser trágico) ver que os times que mais recebem dinheiro das televisões são os mais endividados e os que mais lutam para aumentar a parcela que tem neste latifúndio. Eu proponho uma nova maneira de dividir as cotas de transmissão, que, com certeza, os bois (são dois, ora pois) citados aqui – nomeados Corinthians e Flamengo – não aceitariam, pois vão contra os interesses, embora um dos critérios favoreceria o primeiro, que tem a maior média de público do campeonato. A maneira é a seguinte:
1 – Divide-se a parte destinada aos clubes em duas partes.
2 – A primeira seria dividida pelos clubes usando o critério de média de público no campeonato anterior, pois estádio lotado é espetáculo e prova de que o time tem apelo popular.
3 – A segunda parte seria dividida de acordo com a posição no campeonato anterior, pois seria o retorno do suposto investimento feito pela equipe para alcançar uma boa posição no campeonato. Seria um prêmio à competência. Agora, uma coisa que irrita é a sucessiva aparição de apenas Flamengo e Corinthians na televisão. Parece que são os dois únicos times do campeonato, líder e vice-líder respectivamente. Mas a verdade é que o Flamengo, apenas agora, livrou-se da zona do rebaixamento e está numa posição de intermediária para ruim na tábua de classificação. Já o Corinthians, teve um começo tremido e agora começa a ter uma posição de respeito no campeonato e acredito até, se manter a base e contratar alguns reforços, poderá ter um time forte para daqui a alguns anos. Cadê a diversidade do futebol brasileiro? Dos três últimos campeões brasileiros, dois não são do eixo Rio-São Paulo, sendo que o time do eixo não é da capital.
Mas o que realmente me irritou profundamente foi na última quarta-feira. O duelo entre Santos e Atlético Paranaense, marcado para o horário corujão (21h 50min), não foi transmitido para Curitiba, o que seria interessante para a emissora que tinha os direitos do jogo, pois é a cidade do visitante e essa cidade não fica muito próxima da cidade do jogo (Santos não é Joinville [piada interna]).
Não é que o jogo passou apenas para São Paulo, que fica a menos de uma “Curitiba-Joinville” de Santos, deixando Curitiba com Guarani e Corinthians (lanterna contra time em busca da subida) na emissora que não tinha o direito do duelo de líderes e com o oxo entre Internacional (de campanha irregular) e Flamengo (supracitado) na emissora que teria a obrigação moral de passar a partida. O estranho é que alegaram que estavam privilegiando o pay-per-view, sendo que a grande massa não tem TV a Cabo e esta seria uma rara chance de ver o time na TV depois de meses, já que não temos mais a transmissão regionalizada. Também seria a oportunidade de divulgar o pay-per-view por meio da TV aberta, pois se o torcedor que está indeciso quanto a comprar ou não o pacote gostar do espetáculo, poderá optar pela compra. Parece que não conhecem a tática da amostra grátis. “Shame on you, television”, diria eu, parafraseando o grande (em vários sentidos) Michael Moore.