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16 out 2004 - 19h07

Paixão amestrada

Primeiro, ele tirou as bandeiras. Depois, as faixas. Logo após, proibiu adereços. Um pouco mais tarde, vetou os luminosos e expulsou a torcida para um outro local, onde desejava q ela ficasse. Impediu que ficássemos em pé assistindo a partida. E pra finalizar, tirou a bateria que consegue sacudir e mexer com o coração da Baixada inteira.

Engana-se quem pensa que o atleticano está totalmente feliz. Apesar da campanha maravilhosa, dá pra dizer com todas as letras que não é a mesma coisa que o primeiro título brasileiro. O Caldeirão anda frio, gelado e isso, com vitórias atrás de vitórias. O time está bem, temos ídolos em profusão, jogadores de raça, carismáticos, craques. O Atlético é uma máquina de fazer dinheiro. O clube é um sucesso estrondoso, mas não se entende o porque das atitudes de Mário Celso contra sua própria torcida. Gostaria de saber o motivo de tanto rancor. Só consigo imaginar que seja vaidade para querer brilhar sozinho. Só que o presidente se engana. O Atlético sem sua apaixonada torcida não é nada, nada mesmo.

Essa luta desbravada contra Os Fanáticos só agrada a meia dúzia de fantoches que o senhor tem. Não agrada a mais ninguém. Poucas vezes observei o estádio inteiro se emocionar como quando a torcida jogou a bateria do anel superior para o inferior pouco antes do jogo contra o Flamengo. Vi, inclusive, alguns dos seus fantoches se emocionando com o que aconteceu. Eles podiam, porque você não estava vendo Mário. Você não tinha chegado ao pombal ainda.

O que nosso presidente precisa entender é que não é a mesma coisa estar no estádio sem a bateria, sem Os Fanáticos. Sim, Petraglia, todos os torcedores tem orgulho da organizada. Não sei se você foi ao Atletiba desse segundo turno(2×1), talvez estivesse no camarote, não o vi na arquibancada. Por sinal, a única vez que o vi na arquibancada foi num jogo contra o Malutron no Couto, quando você praticou seu ato populista e tomou o poder da então diretoria. Enfim, nesse jogo, assim como no jogo em que você diz ter se emocionado em 95, foi para toda a nossa torcida o marco dessa arrancada espetacular que o time está fazendo. Nesse jogo que me refiro, tive o prazer de torcer como nos velhos tempos, de me emocionar como antigamente, enfim de ser atleticano como aprendi que atleticano deve ser. Fanático e unido. Todos unidos. E isso, no Couto Pereira.

Outro ponto. Você vai me desculpar “presidente” Fleury, mas a diretoria do título de 2001 não queria aparecer como o senhor disse em entrevista tempos atrás. Aliás, se perguntar para o torcedor comum ele nem vai saber que o presidente na época era o Marcus Coelho. Ademir Adur e Ênio Fornéa então, ele nem tem idéia de quem são. Porque essas pessoas não queriam o fim da torcida organizada, não queriam aparecer, queriam apenas o bem do Atlético. Elas foram escorraçadas da Arena.

Voltando ao começo. Sei que não adianta fazer apelo, pedir para o ditador uma trégua, implorar que ele libere pelo menos a bateria. O que Mário Celso deseja é ser o único holofote. Ele revolucionou o Atlético, vende jogadores, construiu o CT, a Baixada, montou esse time, ele é o dono do Atlético e a única estrela do título. Não adianta falarmos que a nossa torcida faz a diferença, que somos o décimo segundo jogador, não adianta dizermos que somos importantes. Para Mário, o que importa é ele.

Estão mudando os conceitos do torcedor atleticano. Quando nasci, aprendi que o atleticano é apaixonado, grita o jogo inteiro, não é consumidor, é torcedor, viu Holzmann? Hoje em dia, torcedor do Atlético Era Petraglia tem q ficar sentado, senão o segurança o ameaça. Também só pode bater palma e gritar gol, porque não tem bateria para incentivar o time. Não tem bandeira, só se grita contra o presidente, justamente porque ele não deixa que nós gritemos pelo time. O raciocínio é simples. A minha paixão está amestrada. O Atlético virou um time sem cor. O bi, uma pena, vai ser frio, talvez do jeito que Petraglia sempre sonhou.

Não conheço o Petraglia, não sou associado dos Fanáticos, não conheço o Marcus Coelho, Adur, nem ninguém q citei nessa coluna. Sou apenas um atleticano comum.



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