O ano é 2004
O ano era 1983. O Atlético tinha um grande time e vinha destruindo todos que passavam pela sua frente, rumo ao título nacional daquele ano. Na semifinal, pegava o Flamengo, de Zico, Nunes e companhia. Então o comentarista da Rede Globo, Márcio Guedes, falou o famoso o Atlético é um time medíocre, formado por jogadores medíocres, coisas assim. Lembro que até o Chacrinha, no seu programa de sábado, pediu desculpas aos torcedores do Atlético e, logo depois, Márcio Guedes sumiu no limbo, de onde nunca deveria ter saído.
O ano agora é 2004. Coisa muito pior está acontecendo, só que não estou vendo nenhuma atitude de ninguém com poder para realizar algo. Os dirigentes da Rede Record não se pronunciaram e nem tentam acabar com aquele circo; a imprensa nacional (com raras e lúcidas exceções) nem sequer se pronuncia; a diretoria do Atlético permanece em silêncio contido; a CBF e o STJD, então, melhor nem comentar. Para variar, somente os fanáticos torcedores parecem se indignar e tentam tomar algumas providências.
Por que os representantes da Rede Independência de Comunicação, afiliada da Rede Record aqui no Paraná, não tomam uma posição? Interesses…
Por que o circo e seu comandante estão agindo de forma belicosa contra o Atlético? Interesses…
Por que a imprensa nacional não se pronuncia? Interesses…
Por que o STJD, uma entidade que deveria estar acima de qualquer baixaria, aceitou participar do espetáculo armado pelo circo? Interesses…
Mas, principalmente, por que a diretoria do Atlético se cala? INTERESSES?
Nesse momento, pergunto onde está a firmeza com que a diretoria do Atlético deveria tratar o circo? Saber desprezar os torcedores, proibir isso e aquilo, aumentar o preço de ingresso, enfim, humilhar quem não pode reagir, é fácil. Na hora de mostrar o mesmo pulso firme contra adversários muito mais poderosos, o silêncio! E a Rede Independência de Comunicação, então, não deveria, antes de tudo, representar os interesses da comunidade onde está inserida? O programa terceiro tempo nunca mais deveria ser apresentado aqui no Paraná, porque o desrespeito com que eles estão tratando o Atlético reflete a forma displicente com que sempre trataram nosso estado.
Um colega atleticano escreveu aqui mesmo que vivemos num mundo capitalista. Pois é, isso serve tanto para o “bem” (justificar o aumento do preço do ingresso) quanto para o “mau” (ser humilhado em rede nacional), já que a pressão que está sendo submetida ao Atlético só reflete o que já estamos cansados de saber: o interesse financeiro é que move o futebol brasileiro de hoje. Por isso, em 1983, Márcio Guedes sumiu, pois ainda havia alguma dignidade; por isso, em 2004, o Atlético é humilhado, execrado como nuvem passageira e tudo fica por isso mesmo. Não é do interesse de que financia esse campeonato (TV, patrocinadores) que um time como o Atlético seja campeão. Pode, e deve, gerar emoção, mas que fique somente nisso.
Aguardo com ansiedade o desfecho desse caso. Não espero dignidade ou justiça da CBF, do STJD, nem da imprensa extra-estado. Mas espero uma ação muito forte da diretoria do Atlético. Ou a pretensão no clube dos treze exige alguns sacrifícios?