Matemática burra
Há alguns meses os atritos entre a diretoria do Clube Atlético Paranaense e a bateria (leia-se Torcida Organizada os Fanáticos) vêm ocorrendo. Muitos atleticanos, e até torcedores de outros times não entendem o porquê deste desentendimento. Após analisar os fatos, deixar a poeira baixar um pouco, e dar o tempo necessário para o acerto entre as duas partes (que não ocorreu), vale citar alguns fatos.
A raiz do problema é estritamente financeira. Foram representantes da torcida e do ETA que entraram na justiça contra o clube e conseguiram uma redução no preço dos ingressos. O valor cobrado de 30 reais passou para 15 reais por determinação do PROCON e da justiça. A diretoria setorizou a arena, privilegiou que comprou pacotes antecipadamente e concordou com o preço da justiça, cumprindo ordens judiciais. E ficou quieta. Em seu direito, aproveitando a boa fase do time, obteve correção do valor também na justiça, novamente setorizando a arena e cobrando mais caro. Não houve manifestação da torcida até então, pois também está cumprindo decisões da justiça. E o time estava voando em campo…
Ao redor deste ponto existe uma verdadeira guerra econômica. Nosso presidente do Conselho deliberativo (Petraglia) acha que os fanáticos utilizam a marca do clube e não pagam nada por isso. Acha que grito não ganha jogo. A desculpa de que a bateria atrapalha os camarotes acima é ridícula, pois pessoalmente acompanhei vários jogos nos camarotes em questão e pude tirar uma conclusão: são os melhores camarotes da arena, pois aliam o conforto ao fervor da torcida. A verdade é que o contrato inicial dos camarotes acabou (5 anos, de 99 até 2004) e houve muito pouco interesse na compra de novos camarotes. O preço por eles chega a ser exorbitante (cerca de 150 reais por jogo, sem a libertadores) e muitos donos de camarotes (a maioria absoluta) não renovou. Outros se agruparam em grupos menores e adquiriram camarotes menores misturados.
A torcida se sente no direito de reclamar, pois afinal, desde sua existência há 27 anos sempre apoiou nosso atlético sem nenhuma restrição. Muitos se revoltam sem argumentos, e não percebem que o problema é grana, bufunfa, “cash”. Não são os gritos, os camarotes ou usar a marca sem pagar. Foi o desafio ao todo-poderoso presidente do conselho que mais o irritou.
Sabe-se que Petraglia é um gênio do Marketing e de estruturas de futuro. O atlético não seria nada atualmente sem as ações por ele tomadas nos últimos anos. Mas a saída de outros membros da diretoria como Ademir Adur, Marcos Coelho e Walmor Zimmermann por problemas com Petraglia mostra que nem todo mundo concorda com suas idéias. Que ele quer modernizar o atlético no clube mais estruturado e europeu do Brasil não resta dúvida. Porém o poder econômico de quem acompanha o futebol no Brasil não é o mesmo da Europa.
A coisa não tomou rumo e explodiu antes porque ainda disputamos o título brasileiro. Se o time não estivesse bem, estivesse pra cair pra segundona, com certeza decisões calorosas neste assunto seriam tomadas.
E como sempre, os prejudicados são os componentes da massa atleticana. Sua torcida, que economiza tostões para poder comprar ingressos para exercer sua paixão. Quem sabe a pessoa que jogou papéis no campo e provocou a perda de mando não era um pobre asalariado revoltado, que de ver o time tão bem e não ter dinheiro pro próximo jogo, arremessou copos e papéis no campo de raiva de não poder acompanhar o próximo show.
E o time sente, ah, se sente. Pergunte a qualquer jogador se a falta da massa pulando, da bateria (coração do estádio, que dita o ritmo da torcida, bradicardia nas horas tristes e fibrilação nos momentos de êxtase) não atrapalha. O problema é que os jogadores não sentiram tanto isso porque nunca os atleticanos foram tão fortes no gogó, e continuaram empurrando o time a vitórias. Mas bastam 2 ou 3 maus resultados para isso acabar.
E digo mais: nas aulas de matemática, 20.000 vezes 15 e 10.000 vezes 30 são resultados iguais. Mas na arena da baixada as leis da matemática não valem. 15 é maior que 30. O resultado reflete no time, ô se reflete…