23 nov 2004 - 11h10

Folha de SP destaca o artilheiro Washington

A Folha de S.Paulo desta terça-feira traz uma longa reportagem sobre o artilheiro Washington, que no último domingo se tornou o maior goleador de uma edição de Campeonato Brasileiro. A matéria, assinada pelo jornalista Ricardo Perrone, aborda o fato de o Atlético ter proporcionado uma estrutura especialmente dedicada à recuperação do atleta.

Confira o trecho principal da reportagem:

Para brilhar, Washington vira Atlético-PR do avesso
por Ricardo Perrone, enviado especial a Curitiba

Washington chuta a gol no centro de treinamento de seu clube

Recordista de gols em uma única edição de Brasileiro, com 32 tentos, Washington, 29, mudou a sua rotina e virou o Atlético-PR de pernas para o ar. Só assim voltou a brilhar após quase se aposentar por causa de um problema cardíaco e do diabetes.

O jogador, que anteontem superou a marca de Dimba (31), com dois gols nos 3 a 2 sobre a Ponte Preta, toma insulina diariamente, examina o sangue mensalmente e o coração a cada dois meses.

A comissão técnica dispõe reservas de alimento só para ele e constantemente envia à CBF relatórios sobre seus remédios para evitar problemas no controle antidoping. Atualmente, ele toma quatro medicamentos.

"Seria melhor não precisar de tantos cuidados, mas o importante é que voltei a jogar", afirma o atleta. Ele ficou cerca de um ano e meio parado depois de descobrir um entupimento de 90% em uma de suas artérias coronárias, em 2002, quando ainda atuava pelo Fenerbahce, na Turquia.

Nesses 18 meses, morou e treinou no CT do Atlético, mas não recebeu nenhum centavo.

Os apetrechos carregados pelo atacante revelam hábitos diferentes dos demais. Junto com a pequena bolsa em que todos carregam as chuteiras, ele precisa levar um medidor de glicose e doses injetáveis de insulina.

"O ideal é que ele leve o aparelho e a insulina para todos os jogos e treinos. Mas como já controla bem a situação, nem sempre faz isso", diz Lili Purimniehues, nutricionista do líder do Brasileiro.

Ela preparou uma dieta para o jogador controlar o diabetes, doença que aumenta o risco de entupimento das artérias. Ele já precisou colocar três stents, túneis de aço que dilatam as veias.

"Só é chato ficar sem uns doces que gosto", afirma o jogador.

Há cerca de duas semanas, ele exagerou nas guloseimas e foi repreendido pelos médicos.

Porém a nutricionista providencia lanches extras para o atleta durante os treinos e jogos para evitar que ele tenha eventual queda na taxa de açúcar no sangue. "Como toma insulina, corre esse risco, por isso o obrigamos a comer alguma coisa nos intervalos."

A nova rotina do goleador transformou visitas e conversas com médicos quase tão freqüentes quanto os encontros com integrantes da comissão técnica. Um cardiologista e uma endocrinologista, além da nutricionista e da psicóloga do clube, o acompanham constantemente.

Com a psicóloga, chegou a conversar após a morte do zagueiro Serginho, ocorrida depois de uma parada cardiorrespiratória em jogo do São Caetano contra o São Paulo. "Falei com ela rapidamente, no café da manhã. Comentamos o que aconteceu, mas não fiquei abalado emocionalmente."

Desde que passou a treinar no clube, Washington também mudou os hábitos dos médicos atleticanos. De cara, eles se acostumaram a levar um desfibrilador para os treinos. O equipamento, usado para reanimar pessoas com problemas cardíacos, só virou moda nos clubes após a morte de Serginho, ocorrida em 27 de outubro.

"Não tenho medo de morrer jogando. Corro menos riscos que os outros jogadores porque sou monitorado constantemente. Eles podem nem saber os problemas que têm", afirma Washington.

Mesmo com todos os cuidados, o goleador não está livre de contratempos. Na última quinta, não treinou. Estava com desarranjo.

Os percalços são comuns na carreira do artilheiro, que já operou o joelho, quebrou a perna, foi assaltado recentemente e ouve dos colegas que certas coisas "só acontecem com Washington".



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