11 dez 2004 - 11h37

Quem sabe faz a hora

"Vem, vamos embora, que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer"

Em plena ditadura militar, na década de 60, o músico Geraldo Vandré cantou pela primeira vez os versos acima. Fazem parte da letra de "Pra não dizer que não falei das flores", música que se tornou o hino de uma geração e símbolo de resistência ao modo como o país era governado.

Porém, o alcance dessas palavras vai muito além de sua finalidade política. Seu significado é profundo. Indica que aqueles que têm confiança em sua capacidade e segurança de seu potencial têm de ser determinados. Não podem titubear diante de uma oportunidade, esperar que ela se transforme sozinha no objetivo. É preciso lutar por ela. Algo como o ditado popular: "não deixe para amanhã o que pode fazer hoje".

Neste domingo à tarde, onze jogadores, um técnico e um milhão de pessoas estarão embuídos desse espírito. Em campo, o time do Clube Atlético Paranaense jogará contra o Vasco em busca de uma vitória. Fora dele, a torcida do Clube Atlético Paranaense apoiará sua equipe e torcerá por um tropeço do vice-líder. Conjugados, esses dois resultados darão o bicampeonato brasileiro ao Furacão.

Mesmo se não for campeão neste domingo, o Atlético terá mais uma chance na próxima semana, no último jogo do campeonato. Porém, não há porque esperar. Os jogadores sabem jogar – e muito bem. Mostraram o melhor futebol do país durante os últimos meses. Comprovaram sua qualidade e capacidade em dezenas de jogos.

Diego é um goleiro sensacional: líder, arrojado e eficiente. Raulen é como um cometa: aparece pouco, mas quando aparece ninguém consegue pará-lo. Marinho é insuperável. Rápido e determinado, Rogério Corrêa tem técnica incomum para a posição. Marcão, o deus da raça. Ivan é um ala extremamente habilidoso. Alan Bahia é o símbolo da determinação e do esforço intermináveis. Quando Fabiano domina a bola, ergue a cabeça e coloca ordem no jogo. Fernandinho dá um show de habilidade e disposição em qualquer parte do campo. Denis Marques é imprevisível: ninguém pode adivinhar qual será sua jogada sensacional. Washington, o que falar? Só duas palavras: Coração Valente.

Esses onze jogadores começarão o jogo amanhã. No banco, outros sete guerreiros e mais os integrantes da comissão técnica. Nas arquibancadas de São Januário, mil atleticanos fanáticos e que não temem a própria morte. Fora dali, em todo mundo, mais um milhão de torcedores torcendo, gritando, vibrando e esperando.

Mas a letra da música de Geraldo Vandré não fala apenas de saber aproveitar oportunidades; traz ainda outros ensinamentos. Diz também o seguinte: "E acreditam nas flores vencendo canhões". Trata-se de uma metáfora: as flores representam um ideal de paz vencendo os canhões, que simbolizam a ditadura e a violência.

Neste domingo, os heróis atleticanos poderão, então, dar ainda outra lição. Provar que o futebol-arte supera as ameaças, a violência, a truculência, a pressão extra-campo. Confirmar que o bem supera o mal. Enterrar de vez todo lado negativo do retrógrado jeito de se fazer futebol. E bordar mais uma estrela no peito de quem representa o futebol moderno.

45ª rodada – Brasileiro – (12/12/04) – Vasco x Atlético
L: São Januário; H: 16h; A: Wilson de Souza Mendonça (PE); T: Globo (Paraná) e Net (ppv).

VASCO: Everton; Daniel, Fabiano (Gomes) e Henrique; Thiago, Ygor, Coutinho, Júnior, Petkovic e Diego; Anderson. T: Joel Santana.

ATLÉTICO: Diego; Raulen, Marinho, Rogério Corrêa, Marcão e Ivan; Fabiano, Alan Bahia e Fernandinho; Washington e Denis Marques. T: Levir Culpi.



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