Opinião de Ricardo Campelo
O colunista Ricardo Campelo fala sobre a derrota deste Domingo e a situação em que fica o Atlético.
Sem título
por Ricardo CampeloO Atlético se concentrou tanto na hipótese de voltar do Rio de Janeiro já como campeão brasileiro, que se esqueceu da possibilidade de voltar não só sem a Taça, como praticamente perdê-la em definitivo.
Às vezes queremos tanto alguma coisa que nos limitamos a simplesmente torcer para que ela aconteça, esquecendo de lutar por ela. Ontem, o Atlético pareceu ter se limitado a torcer para o São Caetano contra o Santos, esquecendo de jogar o seu futebol contra o empolgado Vasco da Gama. Acontece que os pontos que deram a liderança ao Atlético foram fruto do seu futebol, e não do do São Caetano. E repetir esse futebol era tudo o que precisávamos para manter a liderança até a última rodada, quando precisaríamos dele pela última vez para chegar ao título.
Mas parece que o time, assim como nós, estava desgastado. A liderança, e a obrigação de com ela manter-se, gerou uma pressão psicológica perversa. Nós, torcedores, queríamos tanto que o título viesse já ontem porque não aguentávamos mais esperar. Não aguentávamos mais a angústia de termos de permanecer no topo. Isso parece ter contagiado nosso time, que abraçou a possibilidade do título antecipado, mantendo um olho no jogo contra o Vasco e o outro no jogo entre Santos e São Caetano. Quando, na verdade, o Santos é que deveria estar com um olho no nosso, e, nós, deveríamos estar com olhos, mente, corpo e coração voltados única e exclusivamente para a nossa partida, pois apenas a nós cabia o privilégio de depender somente dos próprios resultados.
Sobrou ao Santos, de Luxemburgo, a inteligência de saber lidar com a desvantagem. De transformar toda e qualquer picuínha em motivação. Desde a contagem regressiva até o piloto automático de Levir, tudo foi recebido, processado, e utilizado pelo time praiano como uma forma de lutar ainda mais por um objetivo. Enquanto, do nosso lado, talvez a marca tenha sido a ingenuidade de transmitir ao time uma confiança que, exagerada, acabou tomando o lugar do futebol. Foi tanto jornalista exaltando o Atlético como favorito, tantos matemáticos dando ao Clube 70% de chances de ser campeão, que faltou o principal: jogar bola. Em Erechim, o time já contabilizava a vitória, e pensava na partida seguinte – acabou entregando o ouro. Ontem, em São Januário, o time parecia estar esperando que o Oswald de Souza ou o José Trajano entrassem em campo e marcassem o gol da vitória atleticana.
Não tenho grande experiência em torcer contra, mas não consigo me entusiasmar com a possibilidade de o time de Eurico tirar pontos do Santos. Por isso, me inclino a considerar o "Peixe" como virtual campeão. E entendo que, caso isto se confirme, o título estará em ótimas mãos, pois, ao lado do Atlético, o Santos foi o único time a exibir um futebol digno de campeão brasileiro, ao lado de uma regularidade cuja dificuldade só é conhecida por times da grandeza de ambos.
A nós, cabe saber que, muito mais importante do que a tristeza do momento, é a alegria de saber que o Clube alcançou um patamar jamais esperado para um time do Paraná. Nosso lugar entre os grandes foi alcançado e reconhecido pelo mundo inteiro, e a consciência de que isso não foi obra do acaso traz a certeza de que chegamos para ficar. Temos, em definitivo, o respeito digno apenas dos grandes clubes, e faremos da briga por títulos um hábito, a começar pela Libertadores do ano que vem.
A prova de que o Atlético está em um patamar superior não dependia do bicampeonato, mas sim de tudo o que mostrou ao Brasil. Talvez para o torcedor, fosse, de fato, muito importante ter a segunda estrela para jogar na cara do rival. Porém, dentro da consciência de todos, a supremacia atleticana não precisa de mais nenhuma prova. A todo rigor, o processo que levou o Atlético à grandeza de brigar até o fim por esse bicampeonato é maior do que o fato de conquistá-lo ou não.
Essa grandeza, ninguém nos tirará.
Ricardo Campelo é colunista da Furacao.com. Clique aqui para ler outros textos de sua autoria.
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