A América é a próxima etapa
O vice-campeonato não foi encarado como uma tragédia por Mário Celso Petraglia, presidente do Conselho Deliberativo e homem-forte do clube. O dirigente afirmou que a perda do título não vai mudar o planejamento do Furacão. Nosso projeto é de longo prazo. Mesmo com baixas significativas, Petraglia garante que o Atlético entra na Libertadores para disputar o título. Tamanha confiança vem principalmente por poder contar com jovens talentos como Dagoberto, Fernandinho e Jadson, revelados pelo PSTC (Paraná Soccer Technical Center). E por saber que uma nova leva de craques, agora formada pelo próprio Atlético, deve despontar em em breve. O famoso Centro de Treinamentos do clube, o CT do Caju, está sendo aumentado para receber mais 120 atletas.
Para manter estes investimentos, que incluem a finalização da Arena da Baixada, o Atlético quer receber mais dinheiro das cotas de TV. Estamos no mesmo grupo de Portuguesa e Sport, reclama Petraglia. E mesmo que ganhe um aumento na mesada da TV, o Rubro-negro seguirá sem cometer loucuras. Questionado sobre o que faria para manter o artilheiro e ídolo Washington no clube, Petraglia é categórico: "Nada!" Não é ingratidão. É que Petraglia sabe que não pode arcar com os valores praticados lá fora. Foi assim que o Atlético, há dez anos, saiu do buraco da segunda divisão e chegou onde está. E é assim que continuará, agora pensando na América.
Confira a entrevista concedida por Mario Celso Petraglia ao jornalista Jones Rossi:
Onde foi que o Atlético errou?
Olha, faz parte do jogo. Tivemos 40 e tantas partidas e nas finais não fomos bem, principalmente contra o Grêmio e contra o Vasco. Mas isso não afeta nosso projeto, que é de longo prazo. Não dá para achar que vai ganhar tudo. E a sorte estava do lado deles. Nós matamos o Grêmio, e eles pegaram um Grêmio morto. Assim foi com o São Caetano e o Vasco.
Como você avalia a temporada?
Foi excepcional, chegamos longe com um time em que pouco investimos. Houve também uma valorização do grupo. E a participação da torcida, que ficou com a segunda melhor média de público do campeonato.
O Atlético já pode ser considerado um time grande?
Acho que desde 1999, quando concluímos nossa infra-estrutura básica e inauguramos a Arena (apesar de que ainda não está terminada) e o Centro de Treinamentos. O CT ainda está sendo aumentado. Mais campos estão sendo construídos, um hotel com mais 120 leitos, um ginásio de esportes, e mais uma série de coisas destinadas a dar todas as condições básicas para o desenvolvimento de talentos, que é onde o Atlético vem trabalhando todos estes anos.
Mas as últimas grandes revelações do Atlético vieram do PSTC: Kleberson, Dagoberto, Fernandinho, Jadson…
Exatamente. Você tocou num ponto importante. O PSTC é parceiro do Atlético há longos anos e fazia um trabalho de maior objetividade do que a gente até uns quatro anos atrás. Mas o Atlético retomou a caminhada e investiu fortemente nas categorias de base. Não dá para fazer tudo ao mesmo tempo. Até 1999, 2000, investiu em infra-estrutura. E ficaram as contas para pagar. Foram investimentos altíssimos em função da Arena e do CT, depois com a venda do Lucas e do Adriano quitamos todas as dívidas e daí iniciamos um projeto de investimento nas categorias de base. E um jogador leva de cinco a seis anos para ser formado. Esse tempo não chegou ainda. Mas já ganhamos este ano o Campeonato Paranaense de Juniores. E vários deles já estão trabalhando no grupo de profissionais. Vão arrebentar daqui a um ou dois anos, formados exclusivamente no Atlético.
|
Por que a Arena ainda não foi concluída?
Aquele terreno era de dois irmãos que o alugaram para o colégio. O Atlético adquiriu a metade do terreno, de um dos irmãos. E tinha, até uns meses atrás, a opção de comprar a outra metade. Mas 50% da área já é suficiente para terminar a Arena, fazer o estacionamento e uma série de outras coisas que queremos fazer, como uma Arena fechada para seis mil pessoas. Então isso aí é líquido e certo, a propriedade é do Atlético. O colégio alugou o terreno por 10 anos e construiu uma unidade lá. Eles estão tentando renovar por mais 10 anos na justiça. Mas nós ganhamos e eles estão devendo algo em torno de oito milhões de aluguéis. Conseqüentemente devem ter dificuldades para pagar. O colégio tem suas razões, cumpre uma função social importante, mas o Atlético está sendo prejudicado. Se a Arena já estivesse pronta teríamos capacidade para abrigar mais torcedores. Como estamos com a casa sempre cheia, estamos perdendo um receita considerável.
Qual a posição do Atlético no racha que houve no Clube dos 13?
O Atlético foi voto vencido na Assembléia, aceitou a derrota e vamos assinar o contrato. O Atlético não sai do Clube dos 13. Mas aquele foi o momento de demonstrarmos nosso descontentamento pela a maneira com que as coisas estão sendo conduzidas, pela falta de critério técnico, objetivo, para se estabelecer uma coisa tão séria como a divisão de cotas da TV. Praticamente é a principal receita dos clubes, já que não somos fortes em merchandising e bilheteria.
Deveria haver um critério técnico?
Em parte tem que ter também critério técnico. Nós participamos do último bloco, no meio de clubes que lamentavelmente estão na segunda divisão, caso de Portuguesa, Sport e Guarani. O Bahia recebe mais que o Atlético. Nós entendemos que o Atlético, pelo crescimento que teve nos últimos anos, pela projeção na mídia, deveria estar em outro grupo. Foi contra isso que nós nos insurgimos. E contra a maneira como a diretoria do C13 se comportou. Nós recebemos a proposta na hora de votar. Então você recebe e, em 15 minutos, tem que estudar, não dá para conversar com ninguém e tem que votar.
Por que o C13 fez isso?
Você tem que perguntar isso para eles.
Existe alguma pressão por trás?
Não sei. É estranho. Nós estávamos trabalhando em novas alternativas para a TV fechada, mídias alternativas, mas isso não acabou acontecendo, nada foi feito, tudo acabou sendo postergado. E chegou o momento em que estávamos todos com a corda no pescoço e o pires na mão.
|
É culpa de quem essa postura?
Do Mustafá Contursi, que estava presidindo o C13 interinamente (Fábio Koff estava afastado por motivos médicos). Ele quis conduzir as coisas como faz em seu clube, o Palmeiras. Entendo, respeito o jeito dele, mas o Atlético está entre os 20 maiores clubes do Brasil. E não vejo os clubes considerados grandes, nestes últimos cinco anos, ganhando o título brasileiro. Eles combatem os pontos corridos, querem playoffs, mas também não ganharam com playoffs. Eu falo desde 2000 porque eu considero o vitorioso daquele ano o São Caetano, que foi quem ganhou moralmente aquele campeonato.
Você fala isso por causa da sua rixa com o Eurico Miranda?
Isso eu disse naquele momento e eu não fazia parte da comissão julgadores de ética. A organização do campeonato aquele ano era do Clube dos 13. Foi votado e deram ganho de causa ao Vasco da Gama. Quando houve a queda daquele alambrado, os estatutos eram claros: o clube responsável pela interrupção da partida perderia os pontos e pronto. Mas daí não fizeram isso: marcaram um novo jogo para o ano seguinte, quando o São Caetano já havia vendido jogadores, desmantelado o time, que era muito melhor que o Vasco, que acabou ganhando a João Havelange. Mas, para mim, quem ganhou foi o São Caetano. Então foi o São Caetano em 2000, o Atlético em 2001, o Santos em 2002, o Cruzeiro em 2003 e, 2004, Santos. Não são considerados aqueles cinco maiores clubes que deveriam ganhar. Por isso eles estão sentindo a dificuldade cada vez maior e querem de novo concentrar e elitizar o futebol brasileiro pelo caminho do poder econômico.
O que o Atlético fez para manter o Washington?
Absolutamente nada. Até por que nós assumimos um compromisso com o Washington de que dando tudo certo ele jogaria esse ano pelo Atlético. Se houvesse propostas impossíveis do Atlético cobrir, nós o liberaríamos. E ele iria, sem dúvida nenhuma, ano que vem, para a Europa ou para a Ásia, para algum centro que pague o que ele realmente vale e merece. Ele está com 29, vai fazer 30, teve esta oportunidade de voltar a jogar futebol e ser reconhecido hoje no mundo inteiro como um atleta valioso.
E o Atlético teve um retorno e tanto…
E gostaria de ter mais. Mas infelizmente não dá.
O senhor já disse que o Atlético foi feito para brigar com times como Manchester United e Real Madrid. Este pensamento continua?
Antes vamos brigar com os clubes da América. O Atlético tem pela terceira vez a oportunidade de disputar a Libertadores e dessa vez tem mais experiência. Algumas mudanças no elenco já estão se processando, mas a base, a não ser que sejam feitas ofertas milionárias, deve ser mantida.
Por exemplo, da MSI?
Hoje no Brasil só o Corinthians teria condições de tirar um jogador do Atlético, pela injeção de dinheiro que eles tiveram. Mas isso não deve acontecer.
|
Em 2002, logo após a conquista do título brasileiro, você foi contra manter o Geninho como técnico. Por quê?
Veja, obviamente a história de 2004 é completamente diferente da história de 2001. Foi a primeira vez que o clube ganhou um título da 1ª Divisão. E vencer pela primeira vez é mais difícil do que vencer a segunda. Naquele momento, em 2001, eu fui contra porque entendia que, com o mesmo grupo, a mesma estrutura, as mesmas pessoas, não haveria mais tanta motivação, principalmente depois de ter feito aquele esforço hercúleo para chegar ao título. Era preciso a mudança de algumas peças, mudança de motivação, um novo comandante que viesse com um discurso novo: "Olha, vocês ganharam o título brasileiro, mas eu não ganhei nada." E a chegada de outros que também não haviam vencido para integrar o grupo.
Para o Geninho já estava bom demais ganhar o Brasileiro?
Não bom demais, não dá para dizer que ele não quisesse ganhar a Libertadores. Mas não adianta, é psicológico. Já tinha sido feito um esforço enorme para ganhar o Brasileiro. É a mesma coisa que escalar o Aconcágua, que exige um esforço muito grande, e três dias depois chegar: "Pessoal, vamos para o Himalaia". Bem, agora o momento é diferente. Mesmo assim entendemos que o grupo tenha de ser reforçado, oxigenado.
O Atlético vai entrar na Libertadores pensando no título?
O Atlético tem consciência de que pode chegar. Então naturalmente começará a competição sabendo que está entre os melhores.
A entrevista acima foi concedida ao jornalista Jones Rossi e originalmente publicada no blog De Primeira.