Nuvem passageira?
Sempre fui dos torcedores mais fanáticos, daqueles que iam assistir Atlético e Francisco Beltrão numa quarta-feira à noite lá no Pinheirão pelo Campeonato Paranaense (alguém lembra disto ?). Quando me mudei para São Paulo, há cinco anos, conseguia me manter informado pela família, pelos amigos e pela internet. Fui um dos privilegiados em poder assistir à final com o Azulão em São Caetano em 2001, e lembro que na época no trabalho era o único torcedor do rubro-negro no meio de um mar de Corinthianos, São Paulinos, Palmeirenses e outros, que não podiam nem considerar a hipótese de um time paulista ser superado por um paranaense. Já diziam naquele tempo ser o Atlético “um time pequeno que deu sorte”, que as conquistas não passariam dali.
Veio o ano de 2002, e com ele nossa segunda participação na Libertadores. O time entrou no campeonato já parcialmente descaracterizado, com perda do treinador e de parte dos jogadores que foram fundamentais para o título do ano anterior. A conversa era a mesma: o clube tem uma política salarial, não podemos fazer loucuras, … . Desprezamos algumas das pessoas que amavam o rubro-negro como sua segunda família por causa de “diferenças salariais”. Quem ficou, ou já estava negociado ou se sentiu menosprezado, afinal de contas qualquer um de nós que trabalhe e mostre resultados na empresa onde trabalha quer (e deve) ser prestigiado pelo patrão. Resultado: um fiasco na Libertadores, dando mais munição àqueles que falavam que só ganhamos o título por sorte. É claro que, obviamente, há muito mais entre as negociações da (competente) diretoria e os jogadores do que sabemos, mas o fato inegável é que desprezamos o principal torneio sul-americano por causa de uns trocados.
Este ano, o destino me mandou ir morar em São José do Rio Preto. Acompanhei os jogos pelo pay-per-view e o time à distância, pasmo com a briga entre dirigentes e a torcida pelo valor dos ingressos. A bateria, ritmo que juntamente com os gritos da galera tornava a Arena um caldeirão, havia sido proibida! Quem ganhou com tudo isto? Certamente todos saíram perdendo.
Os jogos foram acontecendo, o time subiu de produtividade a tal ponto de ficar na liderança por semanas, todos esqueceram dos problemas e focaram-se no mais importante ver o time ir para frente. O empate com o Grêmio foi como um balde de água gelada em todos, que renovaram suas esperanças após a vitória contra o São Caetano. Em seguida o golpe fatal: logo após uma discussão totalmente inoportuna do Sr. Petráglia com o Eurico Miranda, o Vasco jogou a vida deles contra o Atlético em campo, e deram de bandeja o título para o Santos. Sabendo que o jogo final seria em São José do Rio Preto, preferi vir à Curitiba ver meu time ser vice (e ainda com uma ponta de infundada esperança de vê-lo campeão) do que ficar lá e ver o Santos levantar a taça. Alguns dizem que a tabela acabou por beneficiar o Santos na reta final, por só pegar times “mortos”; se reconsiderarmos, uma vitória contra o Vasco teria deixado este em posição extremamente delicada na tabela, e eles teriam novamente que jogar suas vidas na última e decisiva partida contra o peixe.
A verdade é uma só: o Atlético não perdeu o título mais ganho da história do futebol brasileiro para o Juventude, Vasco, Grêmio ou Santos. Perdemos apenas para nós mesmos! Perdemos simplesmente porque sequer cogitamos a possibilidade de não ganharmos os últimos jogos! O Levir foi e é um ótimo treinador, mas na reta final faltou o mais básico : liderança dentro e fora do campo. Ganhando de 3 x 1 do Grêmio, fizeram 3 x 2 aos 45 minutos do segundo tempo ? Bola para o mato !! Mas a molecada continuou atacando até o minuto final, ficaram desatentos e o castigo veio.Escrevo este texto apenas para lembrar : quem não aprende com a história está fadado à repeti-la. Temos muito a agradecer à diretoria por ter colocado o Atlético no ponto que está hoje, mas atenção: enquanto o Santos está fazendo um esforço homérico para manter a mesma formação e disputar a libertadores, o rubro-negro já perdeu o esqueleto do time : Washington, Levir, Fabiano, Marinho já foram. Vamos ficar de novo só com a molecada, sem ninguém para liderar o time em campo, e vamos acabar indo para a Libertadores no ano que vem como fomos em 2002 para cumprir tabela. Será que não vale a pena cometer uma pequena loucura para manter o time pelo menos para este torneio tão importante? Diretoria, por favor não permita que em 2005 o Atlético ganhe apenas um título : o de nuvem passageira, prêmio concedido pela imprensa marrom do eixo Rio-São Paulo. Mantenha no coração rubro-negro o orgulho de ter sido vice, sabendo que um novo título de Campeão Brasileiro é apenas uma questão de tempo.