O Fala, Atleticano é um canal de manifestação da torcida do Atlético. Os textos abaixo publicados foram escritos por torcedores rubro-negros e não representam necessariamente a opinião dos responsáveis pelo site. Os autores se responsabilizam pelos textos por eles assinados. Para colaborar com um texto, clique aqui e siga as instruções. Confira abaixo os textos dos torcedores rubro-negros:
24 jan 2005 - 9h28

Planejamento

Há alguns anos, tive o prazer de assistir a uma palestra ministrada por Amyr Klink, o “navegador solitário”, num dos auditórios da PUC aqui em Curitiba. Lembro que, o que mais me marcou naquela maravilhosa aventura – narrada em pessoa pelo protagonista – , foi a importância que Amyr deu à fase de planejamento da sua aventura no pólo sul. Levou anos planejando a viagem: cuidando dos detalhes, definindo o tipo de barco a utilizar, depois inspecionando a construção do barco, planejando a alimentação, o percurso. Pessoalmente envolvido em todas as etapas do planejamento, comandando tudo conforme sua visão e sua experiência. Afinal, havia muito a perder e quem gostaria de se aventurar, durante um ano no mar, num projeto no qual não se envolveu desde o início? Além de ser um grande navegador, Amyr Klink também é um exemplo como planejador.

Continuando a pensar em planejamento, lembro também da União Soviética na copa do mundo de 1958, na Suécia. Os soviéticos haviam ganhado a medalha de ouro de futebol nas Olimpíadas de 1956, em Melbourne, e apareciam como um dos sérios candidatos ao título na Suécia. Praticavam o chamado “futebol científico”, planejado para aprimorar cada atleta em todos os fundamentos do futebol; comprovaram sua eficácia em 1956. Iriam mostrar ao mundo as vantagens da abordagem científica-materialista. Todo o desenvolvimento era realizado por grandes experts, que iriam entregar ao comando do selecionado, atletas invencíveis. Infelizmente para eles, acabaram encontrando com um tal de Garrincha e um jovem chamado Pelé, e todo o planejamento científico deles foi por água abaixo. A propósito, lembro de ter lido há muito tempo, que o “planejamento” brasileiro para a copa de 58 não recomendava a utilização de jogadores “negros”, porque eles sofriam de uma grande melancolia quando longe de casa por certo tempo e que isso influía negativamente no desempenho. Também não recomendava levar Garrincha para a copa, pois considerava que ele “tinha o raciocínio meio lerdo”. Verdades da história do futebol.

Dois exemplos interessantes: o primeiro mostra a eficiência, a preocupação com detalhes, a excelência, a busca pela vitória; o segundo, a arrogância, a auto-suficiência, o desprezo com detalhes. E daí que Garrincha fosse meio lerdo? Jogava muita bola!

A etapa de planejamento é a mais crucial e importante de qualquer projeto, seja numa viagem ao pólo sul; seja numa viagem à praia; ou seja no tocante à temporada de um time de futebol. Só que, infelizmente, o planejamento é a etapa mais negligenciada de todas. É coisa de cultura: todos somente enxergam o início do processo com ele já em andamento, em execução. Qualquer correção que por ventura seja exigida, deverá ser feita durante o processo, mesmo que isso tenha um custo – material ou humano – elevado. Muito mais elevado do que se o planejamento houvesse sido efetivo.

E o risco? Você aceitaria viajar sozinho para o pólo sul se não tivesse participado do planejamento desde o início? Um exemplo mais contundente: você saltaria de pára-quedas se não tivesse sido você a pessoa que o preparou e o dobrou?

O Atlético almeja estabelecer uma reputação de “clube de futebol científico”. Quer estabelecer uma fama mundial – por que não? – de centro de desenvolvimento do “futebol científico”, destaque em “planejamento científico”. Conforme li, o planejamento para a temporada de 2005 já estava pronto desde o final do ano passado e sabia-se que o técnico Levir não continuaria no clube. Previa-se, entre outras coisas, a divisão do elenco em dois grupos: o primeiro, formado com alguns reservas do ano de 2004, novas contratações e jogadores promovidos das categorias de base, seriam utilizados no campeonato paranaense; o segundo, formado por jogadores base do time principal de 2004, visaria a copa Libertadores. Foram dispensados alguns jogadores – motivos salariais. Infelizmente saíram os jogadores mais experientes: Marinho, Fabiano e Washington. Mas contrataram-se novos “valores” para posições carentes (como repor alguém como Washington para a Libertadores?), conforme previa o “planejamento científico” do clube, o qual colocava o nome do futuro técnico em segundo plano, afinal “havia tempo até a reapresentação do elenco principal”. E seguiu-se o planejamento, o qual previa que o Lio Evaristo iria comandar o time “B” no campeonato paranaense e o novo técnico, quando contratado, se preocuparia com o elenco principal – o time “A” – e a Libertadores, sendo que a pré temporada deste seria realizada na Granja Comari, no Rio (já que o nosso CT, cantado em prosa e verso, estava alugado. Previsto no planejamento?).

Demorou, mas o nome do técnico foi divulgado: o desconhecido Casemiro Mior. Conforme um colunista do Furacao.com escreveu: “para quem esperava pelo menos o Cuca…”, foi uma ducha de água gelada. Mas tudo conforme o previsto no “planejamento”. O técnico deveria “aceitar trabalhar dentro da filosofia de futebol científico em desenvolvimento no Atlético…” disse nosso presidente. É claro que o futuro comandante também não podia ter salário alto… tudo dentro do “planejamento”.

Casemiro chegou. Deve ter pensado: “vim, vi … e não gostei”. Afinal quem responderá pelas derrotas será ele, e não quem bolou o “planejamento”. Logo após sua chegada, não mais teríamos dois times separados; irão ficar todos juntos e aqui, em Curitiba. Casemiro diz que “não tem essa de dois elencos separados, todos estão no mesmo barco, todos vão treinar juntos”. O torcedor, ingênuo que é, diz: “Ué? E o planejamento?”.

Tenho pena do Casemiro. Espero, sinceramente, que ele tenha tempo para mostrar se é capaz ou não de comandar o Atlético, porque ele já chegou sentado numa bomba relógio , pronta para explodir no dia 15 de fevereiro de 2005, logo após o jogo contra o Independiente de Medellín. O estopim será uma derrota. A torcida está muito ansiosa com relação a Libertadores. Derrotas serão difíceis de explicar.

Como torcedor, não estou gostando do que estou vendo no Atlético. Para mim, as contratações não foram eficazes. Temos carência no meio de campo, de armadores, pois somente temos o Jádson (o Fernandinho já jogou tanto tempo como ala…). Continuamos sem alas ou laterais dignos do Furacão e a zaga mostrou no jogo contra o Império que bola aérea ainda é uma festa para os adversários do Furacão.

Infelizmente, por esse começo de ano, em matéria de planejamento o Atlético está mais para os obtusos soviéticos da copa de 58 do que para o capaz Amyr Klink.

Infelizmente, também, isso vem confirmar que o negócio real do Atlético não é ganhar campeonatos e sim revelar e negociar jogadores, tese também apresentada pelo colega atleticano “SergioSS”, enviada ao fórum do Furacao.com (Principal > Mior no Atlético > pág 10 > Qui 13 Jan 05 – 7:58 > item 2). O “negócio” é ganhar dinheiro, não títulos, que se vierem, será por mera coincidência. E por isso imagino que não há ilusões quanto a Libertadores ou brasileiro de 2005. Acrescente a notícia do Furacao.com (22/01/2005) sobre a criação de um fundo de investimentos internacional que visa a contratação de revelações de futebol. O Atlético, na pessoa do czar Petraglia, está vendendo sua alma.

Com o elenco atual, não dá para esperar muita coisa. Mas imagino que a expectativa da diretoria é somente passar pela primeira faze da Libertadores. Só isso, pois seria um desempenho melhor que o dos “coisas” do ano passado e isso já seria um alento para os torcedores. Pelo que estou vendo no “time do Lio”, podemos correr o risco de sacrificar o paranaense (dando um tri para os “coisas”) e ficar de fora da Copa do Brasil de 2006. Tudo isso por nada ou muito pouco.

Muitos devem dizer que ainda é cedo, que “os times” (Ventania e Furacão) têm tempo para evoluir. Alguns ainda sonham com o título da Libertadores (eu estava pensando nisso, ainda ontem, imaginando o Furacão em Tóquio… torcedor é muito passional e sonhador mesmo). Pode até acontecer, mas será devido à uma conjunção planetária, como 2001, não devido ao planejamento da diretoria.

Planejamento eficaz e de interesse real no Atlético de Hoje (não mais “dos paranaenses”), somente o planejamento dos lucros.



Últimas Notícias