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26 jan 2005 - 9h39

Finalmente o Atlético Paranaense conseguiu uma vaga no Aurélio!

Nelson Rodrigues escreveu certa vez que são três ou quatro utopias que ainda nos mantêm vivos e cada um de nós tem lá suas utopias vitais. Eu, por exemplo, tenho como advogado a utopia de ver um país menos injusto. Como professor de Português, tenho a utopia de ver um povo mais instruído e livre desse analfabetismo perpétuo e hereditário. Como atleticano, minha utopia é ver o Atlético Paranaense como um dos maiores clubes desse país e, para minha sorte, essa utopia tem se tornado real a cada ano, a cada conquista e conquistas não nos faltaram nessa última década.

Mas esse Atlético vitorioso não é produto do engenho de um homem só, como chegam a pensar alguns, mas, sim, é fruto dos esforços de todos os atleticanos que, ao seu modo e dentro de suas possibilidades, lutam pelo Atlético e ajudam a construir tanta grandeza. E eu, modestamente, também tenho lutado, ao meu modo, com meus poucos recursos, em prol do engrandecimento do nosso amado Furacão.

E uma das minhas lutas, uma das minhas utopias, era a inclusão do nome “Clube Atlético Paranaense” nas páginas do dicionário Aurélio. Para tanto, dei início a uma “Cruzada” que tinha o objetivo sagrado de fazer justiça ao nome do meu time, pois eu achava um desmedido absurdo a omissão do verbete “Clube Atlético Paranaense” naquele festejado dicionário.

Para que vocês, amigos leitores, possam entender melhor minha amalucada jornada, refaço a cronologia, ainda que sucintamente.

Dia 13 de dezembro de 2003, fui à banca de revistas da Dona Francisca, esposa do seu Geraldo que é dono do boteco como já lhes disse em outras colunas aqui mesmo no Furacao.com.

Como de costume, pedi a ela um Marlboro “vermelho” box, um Hall’s “preto” e um exemplar da Folha de São Paulo (poderia ter pedido a Gazeta do Povo, mas eu não me sinto à vontade lendo um jornal que comete mais erros de Português do que o leitor. Fui de Folha mesmo).

Lá pelas tantas li a notícia: “Grupo paranaense adquire os direitos sobre o Dicionário Aurélio”. Parei e li detidamente todo o texto. De fato, o Grupo Positivo adquirira os direitos sobre a obra que, a partir de então, seria impressa pelas potentes rotativas do Grupo do Oriovisto Guimarães.

Após ter lido o texto, fui atacado por um trauma que estava adormecido.Que trauma era esse? Era o trauma que me acompanhava desde os primeiros anos de vida escolar, era o trauma de nunca ter visto no tal Dicionário Aurélio o verbete “Clube Atlético Paranaense”, era o trauma de nunca ter lido o verbete “atleticano” como sinônimo de torcedor do Clube Atlético Paranaense.

De posse da notícia, enderecei imediatamente um e-mail ao Grupo Positivo requerendo a inserção do verbete “Clube Atlético Paranaense” às letras do famigerado dicionário. Da mesma forma, solicitei que ao verbete “atleticano” fosse acrescentado o significado “torcedor do Clube Atlético Paranaense”, em atenção ao querido Furacão e em nome da Polissemia.

Três dias se passaram até que eu recebi uma resposta do Grupo Positivo. Algo mais ou menos assim: “Prezado Dr. Rafael, anotamos sua solicitação e já encaminhamos o pedido para a viúva do Professor Aurélio, posto que somente ela pode inserir verbetes no dicionário e alterar o texto. Saudações cordiais. Grupo Positivo”.

Ou seja, em face da resposta eu ficara na mesma, sofrendo ainda com meu trauma infantil. Mas, pensando bem, ficara pior porque ao trauma se somou o sentimento de revolta de ver um grupo paranaense, dono de direitos sobre o maior dicionário da Língua Portuguesa, não fazer nada, absolutamente nada, para atender meu tão singelo, e justo, pedido.

No entanto como ninguém sobrevive de revolta, passei a tocar minha vida normalmente, e aos poucos fui deixando meio de lado essa história de dicionário Aurélio. Ocorre que, quando eu menos esperava, se operou o milagre.

Era dia 18 de janeiro de 2005 quando eu fui acompanhar minha namorada ao Colégio Positivo Júnior. Lá chegando, ela foi prontamente atendida e eu resolvi dar uma passeadinha pelo hall da bonita escola.

Belos quadros, belas fotos, tudo belo até onde meus olhos podiam alcançar e eis que, num desses vôos, meus olhos se depararam com uma bela edição do dicionário Aurélio, versão 2005, majestosamente exposto num pedestal de acrílico. Não resisti. Fui até o grande livro e procurei o nome do Atlético Paranaense. Fui sem muita esperança, mas fui e consultei.

E de onde eu não esperava sair nada brotou o supremo milagre: estava lá, com todas as letras: Atlético Paranaense! Senhores, foi uma grande emoção e meus olhos incrédulos pareciam embaçados diante da nova maravilha que se descortinava diante deles, olhos tão gastos pela incessante procura e pela freqüente frustração de não ver a tão sonhada palavra constando do dicionário.

Cheguei mesmo a pedir que minha namorada lesse o novo verbete para mim, e ela assim o fez, docemente falando aos meus ouvidos “A-tlé-ti-co Pa-ra-na-en-se”, e só nesse momento eu vi que aquilo não era sonho. E só nesse momento eu percebi que sonhos também podem se tornar reais.

Amigos, não posso dizer que meu e-mail, tão modesto, tenha sido capaz de incluir o nome do nosso Atlético no dicionário, mas fiquei com a sensação de ter feito a minha parte para honrar e engrandecer o nosso amado Furacão. Tive, humildemente, a sensação de ser Petraglia ao menos por alguns segundos e que isso dá uma sensação boa, isso dá!

Doravante, quem quiser saber o significado do verbete “Atlético Paranaense” pode recorrer ao Aurelião, mas quem quiser saber o que realmente significa Atlético Paranaense é melhor ir correndo ao Caldeirão, pois o Atlético é uma força tão grande que as palavras se tornam incapazes de descrevê-lo e aí só vendo mesmo para acreditar!



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