O país dos anjos
Abro os jornais, ouço notícias no rádio e na televisão e constato agora o que a minha percepção não alcançava: vivemos num país de anjos. De repente, cronistas, juízes e ladrões aposentados, jogadores e palpiteiros de todos os cantos se declaram porta-vozes da moralidade e da ética. Tudo por conta do não-gol do William, no jogo com o Império do Futebol. Crucificaram o jogador por ter enganado o juiz e o bandeirinha. Enganado? Se o William socou o chão, lamentando o chute errado, se o gandula devolveu a bola para a cobrança do tiro de meta, por que os árbitros não tomaram mais cuidado antes de se dirigir ao centro do gramado? Foram eles que erraram. Exigir do atleta que divida essa responsabilidade com suas excelências é um exagero.
Não se trata de reverenciar a esperteza. Disso são especialistas os atuais senhores da verdade, muitos deles entusiastas declarados da malandragem do jogador brasileiro. Há exemplos de patriotadas históricas, de bobagens monumentais proferidas por essa gente. Um lance irregular, com ares de pitoresco, aconteceu na partida. Nada mais. No mínimo, seria de se dar ao William o benefício da dúvida antes que se estabelecesse a condenação definitiva. Ele estava caído no chão quando viu a bola seguir a trajetória errada. Em seguida, uma enorme confusão se instaurou no estádio. Ali, no gramado, ninguém saberia dizer com segurança se o gol realmente tinha acontecido. Mas, diante do fato consumado, ficou fácil: William virou a encarnação do mal. Tudo bem, tudo resolvido.
Pior do que o erro crasso, pior do que a mediocridade de um campeonato fictício, só mesmo a hipocrisia que toma conta do meio esportivo em todo o País.