Mauro Holzmann explica tudo
Em 1969, Mauro Holzmann fez a primeira reunião com a então cúpula do Atlético. "Meu pai era dirigente e eu fiquei ajudando a servir água para o povo, me achando o máximo", disse o dirigente que volta ao Rubro-negro depois de dois anos cuidando dos interesses do Clube dos 13. A conversa com a equipe da Furacao.com foi realizada na primeira semana de março e traz muitas novidades ao torcedor atleticano. Holzmann explica com detalhes como deve funcionar a nova parceria do clube com um grupo estrageiro, as conversas com Os Fanáticos, as perspectivas do time e da direção e sobre diversos outros assuntos. Confira a entrevista que está dividida em cinco capítulos: Clube dos 13, Parceria, Torcida, Mais Negócios e Futuro e Era Petraglia:
CLUBE DOS 13
Como ficou a questão do Clube dos 13? Você já saiu?
Eu saí no dia 31 de janeiro (de 2005). Eu tinha um contrato com Clube dos 13 de dois anos. Antes desses dois anos, fiquei por seis meses num período de transição com o meu companheiro anterior, que era o Jaime Franco, e depois assinei um contrato de dois anos. No último dia 31 de dezembro, esse contrato venceu e eu comuniquei ao doutor Fábio (Koff, presidente do Clube dos 13) que eu não tinha interesse na renovação. Eu não sou um a pessoa de confronto. Eu sou pelo diálogo, pela conversa, e com a mudança política dentro da entidade as coisas iriam ficar muito complicadas. Com a volta do Eurico (Miranda, presidente do Vasco) à vice-presidência, este diálogo ficaria muito difícil. O doutor Fábio queria a minha permanência, mas eu não aceitei.
Você se afastou do Atlético neste período?
Sim. Evidentemente que pelo aspecto emocional você não se afasta totalmente. Agora que eu voltei (ao Atlético), estamos dando uma reestruturada no departamento de marketing, pois o clube cresceu muito e suas necessidades também.
Esse projeto é muito diferente do projeto antigo do Atlético?
Não, ele está justamente chegando no momento em que o projeto dizia que iria chegar. O projeto está aí, foi feito um plano estratégico de dez anos. As coisas estão acontecendo mais ou menos como se imaginava, com todas as dificuldades. Em futebol, você não planeja muito, principalmente dentro do campo. Fora de campo você consegue até planejar, mas dentro do campo é difícil. Então, eu deixei o Clube dos 13 e isso foi politicamente bom para o Atlético. Primeiro porque fazer o que eu fiz pouca gente que faz. Meu relacionamento com todos os presidentes é muito bom. Eu poderia simplesmente ter ficado lá pela remuneração, seria um boy de luxo, vamos dizer assim. Quando eu comuniquei a todos que não ficaria, o respeito aumentou. Tanto que na primeira reunião que eu fui já representando o Atlético, eu senti essa reação. Eles (os dirigentes dos clubes integrantes do Clube dos 13) não estão acostumados com este tipo de atitude.
Como foi a briga do Atlético e de outros clubes com os comandantes do Clube dos 13?
O dia-a-dia do Clube dos 13 é uma luta do pequeno contra o grande. Há o grupo dos fundadores e, além disso, há os cinco maiores, entre aspas: Flamengo, Corinthians, Vasco, Palmeiras e São Paulo. Se você não tomar certas posições, às vezes até mais duras, você perde terreno. Aquela postura do Mário Celso (Petraglia), em defesa do Atlético, ao ser ofendido pelo Eurico e partir para a briga, é tomada de posição e é somente sendo truculento que o Eurico vai entender. Se você não fizer isso, eles passam por cima. Agora, o Atlético deixar o Clube dos 13? Isto no momento é impossível. Existe um contrato com a Globo e se você desistir desse dinheiro, quebra o clube.
Muita gente falou que essa briga prejudicou o Atlético na reta final do Brasileiro. Você concorda com isso?
Nada a ver, absolutamente nada a ver. Aos invés de briga poderia ter sido uma cena de declaração de paixão: o Eurico dizer que o Mário é um cara lindo! Mesmo assim, o Eurico faria exatamente o que ele fez naquele dia em São Januário porque ele faz isso com todo mundo. Olha o que ele fez com o Coritiba: os caras apanharam lá dentro, ele mandou abrir o portão deixando parte da torcida organizada entrar no ônibus dos coxas para agredir o presidente, para agredir o Moro (Domingos Moro, ex-diretor do Coritiba), agredir jogador. E ele tinha discutido com alguém do Coritiba? Esse é o estilo do Eurico.
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Então quer dizer que a perspectiva da participação do Atlético no Clube dos 13, é complicada?
É muito difícil. Mas não é a perspectiva do Atlético, é a perspectiva de todos, inclusive Internacional, Grêmio, Cruzeiro, Atlético Mineiro. Eles ainda estão melhor porque estão há muito mais anos à frente na solidificação como clube grande, começaram isso há trinta anos. A briga é desleal e não é só dentro do Clube dos 13. É isso que às vezes é difícil de o torcedor entender. Fico até meio chateado com a mídia, pois pessoas que têm um entendimento dessa questão não informam e aqueles que deveriam ter são ignorantes com relação ao mercado do futebol. Todo mundo acha que o projeto do Atlético está pronto, que o Atlético é isso, acabou eque sempre foi assim. O projeto não acabou ainda. Esse projeto já tem dez anos e o Atlético está lutando ombro a ombro, principalmente contra os clubes de São Paulo. É uma luta desleal, em função da pequenez comercial do nosso mercado. Não tem nada a ver com futebol. O futebol é o reflexo. O Atlético está fazendo frente a Palmeiras, Flamengo, Corinthians, São Paulo e Vasco, que são os cinco maiores e ainda a Fluminense e Botafogo, que são clubes de tradição, de grande torcida. Um Botafogo que está como está, mas tem nove, oito milhões de torcedores e o Atlético luta comercialmente contra essa gente com uma desvantagem terrível. As pessoas não percebem isto e cobram do Atlético uma posição que é muito mais do que ele já faz. Eu dou um dado pra vocês: o Botafogo vendeu três vezes mais camisas do que o Atlético no ano passado! Caindo para a Segunda Divisão, de novo, e eles vendem três vezes mais do que o Atlético! Mas por que isso? A nossa torcida não compra? Não, a nossa torcida é participativa, ela compra, ela vai. Só que a nossa torcida é pequena ainda na geração de receitas que o clube precisa para se manter entre os grandes. É uma torcida entusiasta, o Atlético tem um grande patrimônio que é o seu torcedor, mas comercialmente nós somos muito pequenos.
Como é que se muda isso?
Só com o tempo e na continuação da disputa, fazendo frente aos gigantes e entusiasmando o torcedor. O ganhar é contingência. O Atlético MIneiro é um bom exemplo: ganhou um título nacional, em 71, e nunca mais teve um título importante. Acontece que o clube participou de sete finais do nacional e esteve em outras competições importantes, está sempre ali. O Atlético Mineiro tem uma força comercial e uma torcida enormes e conta também com a característica do povo. O povo mineiro e também o gaúcho valorizam as coisas da sua terra. Primeiro são eles, depois o resto. Aqui no Paraná é o contrário: o povo paranaense é um povo autofágico, com complexo de inferioridade, primeiro valoriza as coisas de fora, depois as nossas. O Atlético poderia ser o condutor da mudança desta mentalidade por tudo aquilo que tem feito pelo Paraná. O Atlético tem que ser motivo de orgulho não só para o seu torcedor, mas para o futebol paranaense. Fazer o que o Atlético faz aqui com todas as dificuldades de mercado não é fácil. Por que eles não fazem? Por que o Corinthians não consegue construir um estádio? O Flamengo não consegue construir um estádio, o Botafogo não consegue, por que eles não fazem? Eles têm patrocínios dez, doze vezes maiores do que o nosso, eles ganham duas, três vezes mais do que o Atlético ganha com merchandising e vendem jogadores tanto quanto o Atlético, só que o Atlético usa o dinheiro em investimentos patrimoniais. Esse é principal mote do projeto. O Corinthians pode sair com uma pasta e vender sonho. Já vendeu várias vezes e eu não sei se vai vender mais uma vez, mas ele tem marca suficiente para chegar para um grupo de patrocinadores e dizer o que estão querendo fazer. É o Corinthians Paulista, 20 milhões de torcedores, está no Estado de São Paulo, o PIB do conselho do Corinthians deve ser maior do que o PIB de muitos Estados da federação. Se no começo do seu projeto o Atlético chegasse em algum lugar e dissesse "nós queremos construir isso aqui, vocês querem patrocinar, assinar o contrato antes?", o cara ia olhar e dar risada, como vários fizeram. O que o Petraglia pensou na época foi construir um diferencial porque a marca a gente não vai conseguir construir tão rápido. Você não consegue fazer uma marca de futebol tão rápido, então nós vamos estruturar o clube patrimonialmente, nós vamos ser diferentes na outra área. Nós temos a Arena, o CT, os projetos de marketing diferenciados, e assim compensamos a nossa marca ainda não tão forte e geradora de receitas alternativas. Nós fomos vice-campeões brasileiros e o campeonato se definiu na penúltima rodada, nós tivemos quatro jogos transmitidos em nível nacional, o mesmo que o Botafogo, enquanto que São Paulo e Corinthians tiveram doze, treze transmissões! Claro que na hora de assinar o contrato o patrocinador vai pagar mais para um clube que está toda hora na maior televisão aberta do mundo, aparecendo para 50, 60 milhões de pessoas a toda hora e a todo instante. É só vocês lerem os jornais de fora: tem uma coisinha assim, pequena, "Atlético ganha do Libertad". Esse tamanho é o tamanho do Atlético em São Paulo, comercialmente. Eles não podem dar mais espaço porque o clube não tem essa dimensão comercial, só que isso pesa onde? No bolso. Vou dar um exemplo para vocês. Na metade do ano retrasado, a Bombril estava negociando com o Atlético. Apesar de eu não estar no dia-a-dia do Atlético, é o meu time e eu aproximei o Brunoro (José Carlos Brunoro, empresário) – que prestava serviços à Bombril – do clube. O representante da Bombril fez mil exigências e o Mário Celso concordou. Aí chegou nos "45 do segundo tempo", ligaram e disseram que tinha uma determinação da Itália querendo um clube de São Paulo e o contrato foi para o Santos. Por quê? Por causa do futebol do Santos? Claro que eles sabiam que a estrutura do Atlético é muito melhor, que você tem a Arena, que você pode fazer uma série de ações promocionais no CT, nas escolinhas etc, até a cor da Arena é a mesma da logo da Bombril.
O contrato assinado com o Santos foi com o mesmo valor oferecido ao Atlético?
Foi para o Santos pelo mesmo valor porque o grupo Círio, que era o dono da marca, queria exposição no maior mercado consumidor do Brasil. Mesmo com tudo isso a seu favor, eles continuam vendendo jogadores, vendem todo ano. O Corinthians vende, o São Paulo vende. O Corinthians, agora com essa parceria, que ninguém sabe exatamente o que é, está fazendo o contrário, mas os outros clubes continuam vendendo. O Robinho está vendido para o Real Madrid desde janeiro. Quando um jogador como o Jadson recebe uma oferta através do seu procurador dizendo que ele vai ganhar milhares de dólares livres por ano, como é que você vai segurar o atleta? Oferecendo um salário astronômico? E o resto? Aí o Alan Bahia, o Fernandinho e o Dagoberto também querem. Eles vão dizer: se vocês pagam para ele, por que não pagam para mim?
Então a solução criada pelo grupo do Atlético foi a de se estruturar primeiro fora do gramado?
Exato. A solução que o Atlético buscou foi a de se diferenciar pelo outro lado, da excelência técnica, da excelência administrativa, do estádio, do centro de treinamentos. Essa diferença econômica é que é muito difícil de se combater sem você terminar esse projeto, que é transformar o Atlético em uma coisa diferente. As empresas que são as grandes patrocinadoras sabem que estamos fazendo um negócio que ninguém faz, que o clube é organizado, é profissionalizado. A imprensa toda reclama da profissionalização e quando você contrata um executivo falam que se está pagando muito para esse executivo. Querem que contrate um executivo de categoria pagando milão por mês? Então, é esse diferencial que o Atlético está buscando. Quem construiu o estádio que o Atlético construiu? Ninguém.
PARCERIA
Como está a história da parceria com uma grande multinacional?
Vocês lembram disso aqui (mostra um folder do Atlético)? Esse é o folder que o Atlético fez quando lançamos a pedra fundamental da Arena (em 1997). E aqui está escrito que o Atlético terá um patrocinador master. O Atlético sempre disse que ia buscar um patrocinador para o nome da Arena, desde que lançou a pedra fundamental porque isto é o que o mercado faz. Vender o patrocínio para o nome da Arena não significa vender a alma ao diabo e nem a autonomia do clube. O Atlético está negociando com dois ou três grupos. Ainda não está completamente fechado o patrocínio para a sua casa de espetáculos, que é a Arena. A possibilidade de juntar o seu nome ao futebol através do batismo do espaço é aquilo que todas as grandes empresas procuram hoje. Ninguém quer fazer apenas publicidade usual, apenas para solidificação de marca, aquilo que se vê na televisão, toda hora lá a Coca-Cola, Bradesco etc. e tal. Além disto, o que as empresas procuram hoje é relacionamento. Eles precisam estar mais perto do cliente. Quando a empresa vai buscar o naming rights (direito sobre o nome) de um estabelecimento, de uma propriedade esportiva, ela vai porque quer estar lá e trazer muita gente, conversar com aquelas pessoas para oferecer o seu produto e é única e exclusivamente isso que o Atlético vai fazer. Ele não está vendendo a sua autonomia, o patrocinador vai fazer a sua propaganda dentro da Arena e usar o nome. As receitas da Arena vão continuar sendo do Atlético, o Atlético é que vai administrar a Arena, o Atlético é quem vai continuar vendendo outros patrocínios também dentro da Arena. O patrocinador vai pagar para unir o nome dele ao Atlético e acabou. E nisso mais uma vez o Atlético está na frente porque não tem nenhum outro estádio no Brasil que atraia o interesse dos grupos. Vai fazer isso aonde? No Morumbi, que pegou fogo agora? No Maracanã?
E essa questão de mudar as cores do clube?
Imagine! Como você vai querer mudar a cor do clube? O Fleury (João Augusto Fleury da Rocha, presidente do clube) só deu um exemplo que não foi entendido pelo entrevistador. Ele só falou que é a mesma coisa que você vender um espaço na sua casa e colocar lá o nome de um patrocinador. É isso que o Atlético vai fazer. Foi exatamente isso que ele disse. Ele deu o exemplo da garagem da casa dele: "por exemplo, coloco lá a Pirelli e ela passa a ser patrocinadora da garagem da minha casa e não é por isto que vou perder a gestão da propriedade".
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O patrocínio será na camisa e no estádio?
Não acreditamos que a comercialização do nome da Arena e da camisa será independente. É muito complicado porque o patrocinador fica com medo de uma oportunidade de emboscada. Você está com a Arena sendo patrocinada por um grupo e vende a camisa para outro grupo, que às vezes faz produtos concorrentes. O que precisa ficar bem claro é que o Atlético está vendendo o patrocínio da Arena e não a gestão da Arena. Não está fazendo um negócio para dar direito ao patrocinador dizer que tem que pintar a Arena de cor-de-rosa. Aliás, nem eles querem isso. É isso que eu não me conformo: como uma pessoa inteligente pensa que um patrocinador que vai patrocinar um clube de futebol, a maior paixão na vida de 80% dos brasileiros, vai pedir para mudar as cores do clube? Você acha que o diretor de marketing de uma empresa dessas é burro para fazer uma coisa dessas? A empresa corre o risco de se desmoralizar e o efeito ser exatamente o contrário do que ela busca. Muito pelo contrário, o patrocinador quer agradar, quer exaltar, quer fazer coisas para o torcedor daquele clube que o transforme em cliente da empresa ou divulgador da sua marca. Como é que passa pela cabeça de um jornalista dizer que eles vão mudar as cores do estádio? Isso é burrice. Se nós estivéssemos na NBA, que é uma franquia, os clubes mudam de cidade e isso está na cultura do americano, aí tudo bem. Para o americano, o negócio é grana. Agora vá fazer isso no beisebol para ver o que acontece. Essas coisas é que a gente precisa que haja entendimento. E outra, o Atlético está mais uma vez inovando, qual é a intenção disso? É ter um caixa forte, terminar os projetos do Atlético, a Arena, a reforma do CT – já em andamento com a construção de mais quatro campos e uma nova área de hospedagem para mais 120 pessoas.
Com a parceria, a Arena vai ser finalizada?
A finalização depende de outros fatores. Há uma onda para também desacreditar os problemas que temos com o terreno do colégio. Estão começando a dizer que não existe ação, que não existe problema na Justiça, que tudo isso é desculpa da diretoria do Atlético para não fazer o estádio. A questão é a seguinte: tem uma ação na Justiça e o colégio não vem pagando o aluguel para o Atlético. O Atlético comprou o terreno, que aliás nunca foi do colégio. O colégio era locatário dos antigos proprietários do terreno, de quem o Atlético comprou a área. O Atlético entrou com uma ação de despejo e nesse momento eles pararam de pagar o aluguel. Faz 5, 6 anos que eles não pagam o aluguel. Eles estão perdendo e uma hora isso vai se resolver. Por que o Atlético está buscando fazer caixa? Porque precisamos finalizar o projeto e ficarmos mais fortes financeiramente e evitar a venda prematura de jogadores. Vejam bem, o futebol brasileiro sempre será vendedor de mão-de-obra, porém os clubes mais sólidos financeiramente ficarão com seus jogadores por mais tempo. Com Arena concluída, tenho certeza que mais patrocinadores virão e nós poderemos estar mais fortes para enfrentar os clubes do centro do país. Cada um dos cinco clubes considerados maiores recebe R$ 23 milhões na divisão das cotas de TV de 2005, enquanto que o Atlético recebe R$ 11 milhões. Como eu já falei, eles também conseguem mais recursos de publicidade por estarem em um mercado mais atrativo para investimentos publicitários o Atlético tem de compensar isto apresentando um diferencial e este é o projeto idealizado pelo Mário Celso.
Como o Atlético administra esse dinheiro?
Os recursos entram no caixa do clube para torná-lo superavitário e dar condições para que os investimentos sejam feitos. Além disso, um clube do tamanho do Atlético não tem mais a mesma despesa de dez anos atrás e as grandes despesas do clube sempre são no departamento de futebol. Hoje o Atlético não consegue mais contratar um jogador para ganhar R$ 2 mil, R$ 3 mil, como o Paraná consegue, por exemplo. E às vezes são jogadores de qualidade, como o Marcel, que foi para o Palmeiras ganhando R$ 30 mil, quando no Paraná ele ganhava R$ 2,5 mil. Se ele tivesse vindo para o Atlético, jamais seria para ganhar R$ 2,5 mil. O déficit de caixa anual de um clube bem administrado no Brasil, e eu não estou falando do Atlético especificamente, é de 30%. Para ser coberto isso é necessário vender jogadores, pois as receitas alternativas ainda não são suficientes. O merchandising no Brasil ainda é pequeno e nos clubes fora do eixo Rio-SP, menor ainda. Vou dar um exemplo: da décima rodada do segundo turno do Brasileiro (de 2004) até a penúltima, em que o campeonato ainda não estava definido, mas estava entre Santos e Atlético, o Santos vendeu 70 mil camisas e o Atlético vendeu 7 mil. Atlético e Coritiba somados têm menos torcedores no Paraná do que o Corinthians. Isso é a realidade de um estado que foi colonizado por paulistas e gaúchos e que, ao lado da autofagia do paranaense, reflete-se nas receitas dos clubes. Se os clubes grandes do Rio e de São Paulo fossem competentes estariam anos-luz à nossa frente. Imagine o Flamengo bem administrado, com 30 milhões de torcedores, com a Rede Globo sempre priorizando seus jogos? Mesmo com tudo isso, o clube está em situação pré-falimentar, fato admitido pela sua diretoria. O Clube dos 13 invariavelmente é chamado por grandes clubes para conceder adiantamentos de R$ 40, 50 mil para socorrê-los com despesas muito pequenas como luz, água, telefone etc. Como é que o Atlético consegue manter um equilíbrio financeiro e competir de igual para igual com estes chamados gigantes? Porque é competente e tem um projeto do qual sua diretoria não se afasta. Não é possível que o Corinthians não consiga construir um estádio, com toda a sua força e mais o poderio do Estado de São Paulo.
TORCIDA
Você não acha que há uma falha na comunicação entre o Atlético e seu torcedor?
Não, eu acho que há uma falha no entendimento. As pessoas querem sempre entender o Atlético de uma outra maneira do que aquela que o Atlético quer dizer.
Então por que o Atlético não esclarece as dúvidas?
Porque nós não podemos oficialmente divulgar uma parceria que não está fechada, por exemplo. Com todas as empresas que nós estamos negociando tivemos de assinar um acordo de confidencialidade. Claro que a gente sabe que segredo entre dois, só matando um. É claro que quando você começa a conversar com uma, duas empresas, o mercado fala, mas não tem uma posição oficial do clube nem de empresa a, nem de b, nem de c. O clube ainda não pode divulgar todas essas negociações.
Mas a gente sente falta desses esclarecimentos. Nem que fosse para falar isso que você está falando agora.
Mas veja bem, mesmo fazendo esclarecimentos, o Atlético é vítima da maldade que gera boatos, pois aquele que faz sucesso no Paraná sempre é inferiorizado. O Atlético tem balanço publicado todo ano, tem auditoria externa, os organismos oficiais fiscalizam o clube quase que mensalmente – isto também acontece com os outros clubes brasileiros. Leiam o balanço, inclusive o Atlético foi o primeiro clube a publicá-lo mesmo antes da lei que assim o obriga. Isso é a cabeça do paranaense, quem faz sucesso tem que levar porrada. Este é o povo do Paraná, em que eu me incluo, pois sou paranaense. Hoje você não pode esconder mais nada, você é obrigado pela lei a publicar os demonstrativos financeiros e a ser transparente perante a sociedade. Qual é a dúvida dos torcedores? A honestidade do Mário Celso, Fleury e seus companheiros de diretoria? Vejam quem faz parte do Conselho de Gestão do clube, duvidar dessas pessoas, além de injustiça, é muita maldade. É que o torcedor é um dos grandes patrimônios do clube. Mas o torcedor quer o sucesso ou ele quer ficar na fofoca e imaginar que alguém está ficando rico às custas do clube? Se você não divulga, você não é transparente; se divulga, os números são mentirosos e a fofoca continua. Então aqueles que realmente se interessam leiam os demonstrativos financeiros do clube, que são auditados e publicados. Não é possível que as pessoas fiquem em dúvida sobre a honestidade de um empresário como o Mário Celso, que construiu um Atlético quem nem o mais otimista dos atleticanos sonhou em ver. Eu nasci dentro do Atlético. O que era o Atlético estruturalmente antes de 1995? Nós estamos aqui reclamando que não ganhamos de três, quatro em um jogo da Libertadores e que "só" fomos vice-campeões brasileiros três anos após à conquista do primeiro título nacional. Olhem onde o Atlético chegou. É isso que tem que ser discutido, o ganho que o Atlético obteve. Nós estamos preocupados com a grandeza e é isso que precisa ser divulgado. A obra do Atlético tem de ser motivo de orgulho para todos. Nas reuniões do Clube dos 13 e nas conversas com os outros presidentes, o Atlético é sempre citado como modelo a ser seguido. Todos reconhecem a qualidade do projeto do Atlético, todos invejam os resultados que o Atlético alcançou. E todos reconhecem o trabalho de Mário Celso Petraglia à frente do clube. Sem um comando forte e decisões que nem sempre agradam a maioria, nada se constrói. O Mario tem esta qualidade, a perseverança, em nenhum momento ele se afasta do plano. É claro que várias pessoas foram importantes no processo, mas todas já tinham passado pelo clube – inclusive eu – e o Atlético estava sempre entrando e saindo de situações difíceis. O Mario idealizou o projeto, teve a coragem de implementá-lo e continua buscando os recursos para finalizá-lo. Vou contar uma história que eu presenciei quando tinha 13 anos, em 1969. O Atlético lançou uma promoção chamada "A grande jogada", um carnê de prêmios. O lançamento desta promoção foi feita com a vinda de um programa de TV famoso na época chamado "Família Trapo", com o Golias, Jô Soares e outros. O Atlético trouxe o programa inteiro para cá e realizou um grande evento no Cine Vitória. No meio da apresentação, o Bellini, no papel de vendedor de carnê do Atlético, batia à porta e o Bronco atendia. Ele esculhambava o produto, dizia que não iam entregar prêmio nenhum e coisa e tal, mas finalmente o Bellini convencia o Bronco a comprar. A promoção foi um sucesso. Aí eu participei de uma reunião (meu pai era dirigente e eu fiquei ajudando a servir água para o povo, me achando o máximo) em que os diretores fizeram um plano para o uso dos recursos financeiros gerados pela promoção. O que tinha arrecadado, que era um bom dinheiro, dava para pagar as dívidas, sanear o clube. Passou uma semana e o recurso foi gasto apenas no futebol. Acabou o dinheiro e o Atlético ficou na mesma. Foi por maldade? É claro que não. Os dirigentes da época tiveram a intenção de prejudicar o clube? Claro que não, eram todos grandes atleticanos, mas tinham a visão apenas focada no jogo, não tinham essa visão de que se o Atlético se estruturasse poderia no futuro competir de igual para igual com os grandes clubes brasileiros e não mais passar por dificuldades. Tínhamos é que ganhar dos coxas, esse era o grande desejo da torcida atleticana. Campeão a gente sabia que não ia ser, mas pelo menos ganhar um Atletiba por ano e se o título viesse, melhor ainda. Entrar em competições nacionais para ganhar era um sonho distante e participar de uma Libertadores era mais do que sonho.
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O que é mais difícil: manter a torcida ou conquistar novos torcedores?
Os dois. Torcida só se conquista com resultados, o torcedor só quer torcer para quem ganha, torcedor brasileiro não quer ver jogo bom, ele gosta de ver o time dele ganhar. Se tomar um banho de bola, mas ganhar de 1 a 0, está ótimo. Isso é cultural, o brasileiro é assim. Aí você tem as torcidas organizadas, que foi um movimento iniciado apenas para incentivar o time e com o tempo foi se desvirtuando. Eu participei de viagens e comemorações de torcidas organizadas, viajei e torci com elas, mas o que eram quando surgiram? Eram um grupo de amigos que se reuniam para ir torcer juntos. Compravam ingressos, faziam bandeiras, organizavam excursões, tudo com a contribuição individual de seus aficcionadas. Hoje virou profissão. Vejam no que se transformaram a Gaviões da Fiel, Mancha Verde e outras. A imprensa também é muito hipócrita porque quando morre uma pessoa, como já morreram várias, eles dizem que a culpa é dos dirigentes que não fazem nada para acabar com as torcidas organizadas e quando você faz ,o dirigente é culpado porque está impedindo a livre manifestação. Nós conversamos com a Fanáticos, eu me dou bem com o Juliano (Rodrigues, vice-presidente da Fanáticos), o Suke, e dissemos que eles tinham que entender que as coisas mudaram, o estádio é diferente, o Estatuto do Torcedor obriga os clubes a administrar o público de forma diferenciada do que se fazia no passado. Várias pesquisas dizem que o torcedor acha bonito ver o movimento das organizadas, mas de longe, ele não quer ficar perto porque tem medo. Por que nós criamos o pacote com a promoção para pessoa jurídica? Isso foi uma insistência minha. Tem o pacote família que a cada um você tem 50% de desconto no segundo e tem o corporativo, que é a mesma coisa, empresarial. Criamos isso porque eu imaginei que a torcida organizada fosse comprar, porque daí fica barato, já que eles vendem os ingressos. Com o segundo desconto, o ingresso custa R$ 8. Então eles comprariam vários pacotes em nome da organização e venderiam jogo a jogo. Mas eles não compraram. O interesse é outro. Eu acho que não pode ter a torcida organizada com esse modelo atual.
E a questão da proibição da bateria na Arena?
Quando foi que o Atlético impediu a entrada da bateria? Nunca. O Atlético só disse que queria a bateria em cima. Depois do jogo contra o Flamengo foi proibido porque eles foram para cima e jogaram os instrumentos para baixo. As restrições não são por causa da torcida em geral. As restrições são para ver se acaba com esse modelo de torcedor profissional. Depois que estiver resolvido, o clube poderá organizar estas manifestações que abrilhantam o espetáculo. Antes a gente se reunia e fazia faixa, bandeira etc. Agora não, tem que ser sócio da torcida organizada, pagar para a torcida. A torcida explora a mesma marca do clube sem investir nada! O que a torcida investe no clube para vender a camisa dela? Nós fizemos reuniões, propusemos inclusive conversar com a Umbro, para fazer alguma coisa diferente, mas não tivemos aceitação. A venda de camisas deles, com essa quantidade "imensa" que o clube vende, atrapalha o clube. A torcida tem que incentivar o consumo dos produtos oficiais do clube. A Umbro faz milhares de outras camisas mais baratas, de treino, promocionais, com valores mais baixos do que a oficial de jogo. Estes modelos poderiam ser usados pela organizada. Mas não, porque aquilo virou profissão, aí vira uma Gaviões, que hoje é maior que o próprio Corinthians.
O canal da diretoria do Atlético com a Fanáticos está fechado?
Não é que está fechado. Eu nunca deixei de falar com eles, mas nossa posição é a mesma. Organização de torcida é uma coisa bacana. Tem gente que não gosta da bateria, eu gosto, acho legal, mas desde que fosse usado para o incentivo ao clube. O jovem vira torcedor da torcida e não torcedor do clube. Esse é o grande problema. Eu acho que faltou do lado de lá também ter um pouquinho de compreensão.
O ingresso mais barato do Milan é de 17 euros, o que corresponde a 1,88% do salário mínimo. Já o do Atlético é de R$ 20, ou seja 7,69% do nosso salário-base…
Mas o cara de salário mínimo não vai ao jogo e comparar o valor do ingresso com o salário mínimo brasileiro não é correto.
Então tomemos o exemplo do Valencia. O ingresso mais barato custa 8 euros, só que lá não tem pacote. Esse ingresso mais barato representa 1,6% do salário mínimo e a média do ingresso é 7% também do mínimo.
De fato, é um time que dá para comparar ao Atlético, mas o problema é o tamanho do estádio. O futebol sempre foi da classe média. Por que o cara tem de ir em todos os jogos? Você acha que os caras vão a todos os jogos lá? O problema é que em um estádio de 22 mil pessoas, você não tem como fazer muitos setores. Se terminar o estádio, aí isso é possível. Com a conclusão da reta (da Arena da Baixada) você pode pensar em fazer um setor mais barato. Se terminar o estádio agora, claro que o ingresso seria mais barato do que R$ 20. Acho que dá para repensar em uma política dessas. Vejam só, o Atlético foi obrigado a investir no ano passado R$ 4 milhões na Arena com a compra das cadeiras, câmeras, manutenção e investimentos em melhorias do estádio. Então, temos de levar em conta também os custos.
A venda de pacotes foi boa no ano passado?
Se você pensar em números absolutos, é uma piada. Mas se você pensar na realidade brasileira, é uma boa venda. Só que no ano passado nós vendemos o biênio 2004/2005.
Esse ano as vendas não alavancaram?
Até que foi bem razoável.
Interessante é que o time que proporcionalmente mais vendeu pacotes na Itália foi o Cagliari, que botou 38 mil à venda e vendeu todos. No estádio cabem 42 mil pessoas.
E a torcida sabe que o Cagliari nunca vai ser campeão italiano, tem consciência absoluta. Ela vai porque gosta de torcer pelo Cagliari, é o time da cidade. Mas é difícil, essas respostas todas nem nós temos ainda, porque você não tem a cultura da coisa do ingresso no Brasil, de como fazer, do que está mais certo. O que a gente sabe é que num estádio como o nosso, para 22 mil pessoas, você tem que ter um preço diferenciado porque não dá para fazer futebol com tão pouco dinheiro. A gente não tem o merchandising. Tudo bem, agora estamos fazendo um esforço e depois de 5 anos de luta devemos fazer um bom contrato de patrocínio, que ainda é muito abaixo do que faríamos se estivéssemos em São Paulo.
Quando deve acontecer isso?
Para esse ano, para já.
A palavra elitização pegou muito. Qual é a real idéia do Atlético em mudar o perfil do torcedor?
O perfil do torcedor atleticano já mudou. Estamos conseguindo trazer a família de volta ao estádio, para um programa na Arena e não"somente para mais um jogo". O pessoal sempre me cobra isso e às vezes distorce o que eu falo. Eu disse o seguinte para o Juca Kfouri no Cartão Verde: elitização do futebol já existe há muitos anos no Brasil. Primeiro na despesa, que é elitista. Pagar o que se paga para jogador de futebol, para treinador, é elitista. Na cabeça do torcedor, que também é elitista, ele quer o Zidane, o Ronadinho, o Robinho, mas ele quer de preferência nem pagar o ingresso. Ele quer entrar de graça e que alguém vá lá e pague a conta. Ou seja, despesa elitizada e receita empobrecida. Depois que o futebol entrou de vez na indústria do entretenimento na Europa, em que os jogadores começaram a ganhar bem, aqui também houve a escalada do ganho do jogador, a escalada da exigência na estrutura dos clubes, CT, estádio. Mas com o ingresso a R$ 10, o torcedor comprando poucos produtos dos clubes, os clubes quebraram. O modelo quebrou, todos os clubes quebraram, o Atlético quebrou, o Corinthians quebrou, o Flamengo está quebrado, o Vasco está quebrado, o Botafogo está quebrado. Por quê? Porque em qualquer empresa que se preze a receita tem que ser no mínimo igual à despesa. É impossível fazer com que de uma hora para outra todo mundo passe a comprar e que o Atlético tenha 3 milhões de torcedores, que todo mundo comece a comprar camisa, comprar chaveiro. Você não consegue fazer isso de uma só vez, então tem de continuar vendendo jogador para continuar investindo no projeto e tem de tentar ajustar o preço do ingresso para fechar esta conta.
Não compensa em jogos de menor apelo fazer um preço mais acessível. Nos jogos do Campeonato Paranaense desse ano, a renda foi negativa em todos os jogos. Não seria viável cobrar um valor mais barato?
O Campeonato Paranaense não dá para considerar. E não é só o Paranaense, é o Gaúcho, o Mineiro etc., com exceção do paulista. A Globo pagou R$ 23 milhões para os clubes paulistas, pagou R$ 12 milhões para os cariocas e os paranaenses vão receber apenas R$ 1 milhão da TV.
Mas sem ser financeiramente, não é importante um título?
Importante é, mas as prioridades do clube são as competições nacionais e internacionais, que com certeza também são as prioridades do torcedor.
Mas já que o Atlético disputa o Paranaense, não poderia baixar os preços?
Mas daí você mata o pacote.
Mas quem acreditou no time antes e comprou o pacote não poderia ganhar os ingressos?
Mas as despesas não param durante o Estadual.
MAIS NEGÓCIOS
A Umbro é parceira ou patrocinadora do Atlético? É verdade que o Atlético está interessado em um novo patrocinador?
A Umbro é patrocinadora. A gente sempre está interessado em conseguir um novo patrocinador que nos pague mais, mas o contrato com a Umbro vai ser renovado agora. Como é que funciona o patrocínio de material esportivo? O clube recebe um dinheiro, uma espécie de luva, todo o material para todas as categorias e mais um percentual sobre as vendas dos produtos com a marca do clube, os royalties . O contrato com a Umbro não é um mau contrato, pelo contrário, é bom. Inclusive porque a Umbro é uma empresa a quem a gente deve muito, principalmente porque foi ela quem abriu muitas portas para o Atlético. Quando se fizeram aquelas visitas técnicas para conhecer os estádios na Europa, as despesas foram custeadas pela Umbro e maioria das visitas foram marcadas através deles. Mesmo assim, chegamos a examinar propostas de outras marcas, mas a Umbro as cobriu pois ela também reconhece o Atlético como parceiro importante na divulgação da sua marca.
O Atlético recebia mais da Claro que o Coritiba?
Recebia bem mais e eles sabiam disso, como nós recebíamos mais da TIM também. E se nós formos fechar esse ano o contrato do Atlético com a Claro, será muito mais.
Por que as empresas costumam patrocinar os três times daqui de Curitiba?
Isso é de uma burrice do tamanho de um bonde. O pessoal parece que vem para cá e emburrece. Quem fechou a negociação da TIM para o Coritiba fui eu. O Sérgio Prosdóscimo, que é amigo da minha família, era o presidente do Coritiba e disse que naquele época o clube não tinha ninguém e pediu para eu negociar, pois a TIM queria os dois clubes. Eu disse que tudo bem, pois eu sabia que a TIM queria pagar nos primeiros seis meses de contrato exatamente a mesma coisa para os dois clubes e foi assim que aconteceu. Quando terminou o contrato de seis meses, eu disse que nossa amizade continuaria, mas que eu iria negociar só para o Atlético. Nós fechamos um contrato de mais um ano com a TIM recebendo um valor muito maior. O Maurício Roorda, que era diretor de marketing da TIM, coincidentemente era coxa-branca. Mas ele reconheceu a diferença e a maior exposição que o Atlético proporcionava. O que precisa é o torcedor atleticano ter orgulho daquilo que seu clube representa hoje no cenário esportivo brasileiro. Veja o exemplo do torcedor do Manchester United. Mesmo aqueles que não conseguem ir a todos os jogos – porque lá sim é caro para a maioria – se orgulham do Manchester, pela força, pelo estádio mais lindo da Inglaterra.
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Não falta também o Atlético valorizar isso, fazer a propaganda? Em 2001, por exemplo, o Atlético foi campeão brasileiro e não fez a publicidade como deveria.
Nós fizemos propaganda. Usamos a Rede Globo – RPC, gastamos um monte ali. Nós fizemos um filme publicitário que ficou quarenta dias no ar, com quatro, cinco inserções direto na Globo. Fizemos anúncios em jornais, spots em rádios, além da mídia espontânea. O problema é esse: quando você faz, aí você fez pouco e quando você não faz, você não fez nada. Nunca chega. Vejam, por exemplo, as escolinhas do Atlético. O projeto das escolinhas – que nos deu mais um Top de Marketing – não tem foco na revelação de talentos. A principal intenção é a valorização do clube junto a todos os envolvidos. Agora mesmo estamos inaugurando uma escolinha em Cascavel, com o apoio do Paulinho Cascavel, que tem uma bela estrutura de uma escola. Vamos ter 450 alunos já na largada. Vocês sabem o que significa ter 450 alunos numa cidade como Cascavel? Ter 450 meninos jogando na escolinha do Atlético, o dia inteiro com a camisa do Atlético? Alguém tem alguma dúvida de que a família desse menino vai torcer para o Atlético? Nós estamos com 26 escolinhas, inclusive em Belo Horizonte e até na China. Nosso projeto de escolinhas é considerado o melhor do Brasil e qual a atenção que a mídia dá a ele? O Toni (Casagrande, assessor de imprensa) incessantemente tenta emplacar matérias sobre o assunto, mas não consegue. Eles querem é dizer que a torcida está desconfiada porque o clube não disse por quanto vendeu o Jadson e não anunciou. Tem muita dificuldade nessa história da mídia. Se vocês conhecerem o manual que o parceiro recebe quando a gente assina o contrato das escolinhas vocês ficarão encantados. Ali tem até como o futuro parceiro deve fazer a ficha de inscrição, toda a metodologia de treinamento, sugestões de anúncios, uniformes etc. O Antônio Carlos (Gomes, diretor técnico) montou um programa de treinamento para os professores das escolinhas. Eles ficam uma semana no CT aprendendo e de dois em dois meses o André, que é nosso coordenador técnico das escolinhas, visita para olhar o que está sendo feito. Mesmo que a intenção não seja técnica, não podemos por o nome do Atlético em uma escolinha em que a metodologia de treinamento seja deficiente. O Eduardo Requião, coordenador geral do projeto, viaja pelo Paraná todo e para outros estados buscando parceiros para levar o projeto para o maior número possível de municípios e para engrandecer o nome do Atlético.
FUTURO E PETRAGLIA
Os primeiros 10 anos do projeto foram cumpridos. O que o Atlético pretende fazer daqui para frente?
Agora é a solidificação do clube, é o termino do projeto, a conclusão da Arena, a conclusão do CT, a transformação do clube num grande parceiro comercial para os grande patrocinadores para que o Atlético possa tapar esse buraco com outros recursos para poder sempre fazer times melhores.
Existe algum outro projeto para os próximos 10 anos?
Não dá para fazer um projeto de 10 anos porque tem eleição no final de 2005 e não se sabe o que vai acontecer. É uma solidificação, e claro que você tem uma linha mestra, mas tem que ver em que vai se transformar. Existe o presidente, o grupo está aí. Outra coisa que fazem, e é um absurdo, é dizer que hoje o Atlético não tem ninguém, que só tem o Mário. Você tem um Conselho de Gestão em que estão o Paulo Brofman, o Nelsinho Fanaya, o João Luiz Montingeli, o Marcos Malucelli, o Antonio Carlos Bettega, a Yara Eisenbach, o Francisco Cianfarini, o Pedro Steiner e tem ainda uma nova direção do Conselho Deliberativo com jovens atleticanos como Diogo Braz e Tobias de Macedo, entre tantos outros. São pessoas novas, mas reclamavam que o Atlético não abria suas fileiras para novos colaboradores e quando abriu, falam que não tem ninguém.
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O que dizem é que o Petraglia comanda tudo sozinho…
Mas isso é em função da personalidade, do tamanho dele. Tudo isso, de fato, queiramos ou não, influencia. Vocês têm de entender são poucas as pessoas que têm essa capacidade de empreender. O Mário Celso é um empreendedor, é um fazedor. Então, a figura dele à frente do Atlético é essa. Ele assumiu e falou: vamos fazer. Se alguém não despontar na mesa e der o tapa, fica na discussão e não sai nada. E ele falou que ia fazer. Falou que não ia para o Atlético para fazer coisa pequena. Ou ia fazer grande ou não ia fazer. Por isso houve o desgaste pessoal entre o Mário e alguns membros de sua antiga diretoria. Ouvimos no Conselho que era melhor ter deixado o clube pequeno, que era mais fácil de tocar. Até isso que alguns colocam é uma coisa burra: se o Mário quisesse ser dono do Atlético, ele faria um Atlético grande? Com certeza não, deixaria pequeno e simples de administrar. O que não podia era deixar o Atlético do tamanho que era. O modelo que o Atlético adotava é que permitia que o clube parecesse ter dono. O novo presidente assumia, tomava conta, era ele quem pagava as contas com ajuda de alguns companheiros, disputava o Paranaense. Daí vinha o Brasileiro, a luta para não cair – ou para subir quando estava na Segundona. Chegava o fim do mandato, nova eleição e a luta continuava da mesma maneira. Fazer o Atlético grande nunca mais permitirá que o clube corra o risco de ter donos. O Atlético não tem dono, o Atlético é da sua gente, dos torcedores, conselheiros e dirigentes, que antes de tudo, também são torcedores. É isto que o Mário Celso, o Fleury e seus companheiros de diretoria querem para o Atlético: grandeza. O Mário é um homem extremamente tímido, aí dizem que ele é antipático e que não quer falar. Seu silêncio nos últimos tempos tem motivo. Talvez tenhamos errado no lançamento do carnê, no ano passado, talvez tenhamos errado no preço inicial, eu faço mea culpa , erramos numa série de coisas, mas fazer o que a torcida fez, o Mário Celso Petraglia não merecia. Ele sentiu isso, porque não foram só Os Fanáticos, quase o estádio inteiro gritou ofensas contra ele e o Fleury, além da quebra das cadeiras e da danificação do estádio. A cena do Mário, depois daquele jogo, recolhendo as cadeiras, andando sozinho, pegando os pedaços foi algo muito triste. Além da ofensa pessoal, tem a família, a carreira, ele é um homem bem sucedido, assumiu o Atlético por paixão e construiu um futuro para o clube. Imagino que naquele momento ele tenha lembrado do início, quando o Atlético tinha 269 menções no cheque sem fundo. Vocês sabem quando Atlético limpou o seu último protesto? No ano passado! Levou 10 anos para baixar todos os protestos, havia mais de 2 mil.
Mas não falta alguém tipo o Karam (Roberto Karam, Relações Públicas em 2001)?
Também acho que o trabalho dele foi excepcional. Agora vamos começar a fazer esse trabalho, eu estou com mais tempo. Tenho que convencer o Mário a falar mais. Ee ainda está muito magoado, não com vocês, que são um site de torcedores, mas com a imprensa paranaense em geral. Isso é muito da mentalidade autofágica do Paraná. Eu não me conformo do atleticano contestar de forma pejorativa e ofensiva. É claro que idéias diferentes existem e sempre serão respeitadas, mas qualquer ação que o Mário Celso faça é criticada. Dizem que falta transparência, que a diretoria não é honesta. Verifiquem o patrimônio do clube antes de 1995 e agora. Sabem quantos contratos de venda de jogadores do Atlético a CPI do Futebol investigou? Todos. Mas o Mário é um dos caras mais organizados do futebol brasileiro e organizou o departamento de registro de uma tal forma que virou exemplo dentro da CPI. Existem pastas de cada jogador vendido, com o contrato inicial de quando o jogador chegou, o contrato de venda, o fechamento do câmbio, tudo correto e investigado. As parcerias, como a com o Figer (Juan Figer, empresário uruguaio), quando o Atlético não tinha dinheiro para comprar sozinho, casos do Lucas, Gustavo, Cocito, tudo investigado pela CPI e pelos órgão oficiais, tudo corretamente realizado. O Atlético mandava as pastas completas para os senadores e elas tornaram-se exemplos de organização.