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13 mar 2005 - 22h17

Cândido, o otimista

Cândido, além de atleticano, é um otimista inveterado. No intervalo do jogo contra o América dizia, mostrando todo seu otimismo: “ainda vamos virar! Vai dar 3×2 pro Furacão. Vocês vão ver!” Eu só pensava como a paixão pode nos tornar cegos. É claro que queria acreditar nele, mas eu não vi o Atlético jogar nada no primeiro tempo; Cândido achava que os gols haviam sido obra do azar. Após o gol do Marín, então, Cândido gritava: “eu disse! Eu disse! Vamos virar para 3×2! Só escute!”

Não deu, Cândido. Foi 3×1 “prá eles”…

Torcedor de futebol tem muito disso: otimismo e paixão. Mistura explosiva, responsável por muitas decepções. Nós, atleticanos, parece que devemos ter, por definição, uma dose muito maior das duas coisas: somos otimistas fanáticos pelo nosso Furacão. Queremos acreditar até em Papai Noel, se isso ajudar o Atlético. Acabamos cegos, surdos e mudos para muitas coisas.

Quando aconteceu o aumento dos ingressos, no paranaense do ano passado, Cândido não via motivos para tanta reclamação dos torcedores. Afinal, era para o bem do Atlético. Custa caro ser campeão, então é obrigação dos torcedores dar sua parcela de contribuição. Cândido dizia que não aceitaria participar de nenhum boicote; não deixaria de ver os jogos do Furacão, de maneira nenhuma e sempre afirmou que todos os que eram contra o aumento dos ingressos viviam ainda no tempo do amadorismo, que o negócio agora é muito mais profissional. Ingresso a preço de banana seria o fim do Atlético. E Cândido dizia ainda que a Arena é um estádio moderno, o melhor das Américas, por isso o aumento do preço era justo. “Querem pagar ingresso barato? Vão ver jogos lá no chiqueirão”, costumava dizer. Concluía afirmando que a política de ingressos iria transformar o Atlético numa potência nacional e até internacional.

Veio a setorização e as faixas, fogos e instrumentos musicais foram proibidos na Arena. Cândido achava muito natural, afinal estádio de primeiro mundo implicava em torcida de primeiro mundo. Lembro que eu costumava mostrar as torcidas nos jogos da Europa e o provocava: “olha lá, Cândido. Estádio de primeiro mundo, torcida de primeiro mundo (com bumbos e sinalizadores), preço do ingresso de primeiro mundo mas, acima de tudo, futebol de primeiro mundo”. Ele não dizia nada, mas eu sabia que não gostava da minha provocação.

O ano de 2004 acabou trazendo o vice-campeonato nacional e a classificação para a Libertadores de 2005. Cândido, é claro, disse que o resultado do ano de 2004 mostrou como os comandantes do Atlético tinham razão na sua política. E em 2005 iríamos vencer a Libertadores. Afinal, com Jádson, Fernandinho, quem sabe Washington ficasse, teríamos muitas chances.

Janeiro chegou e o time de 2004 foi desmontado. Cândido dizia que era natural, parte do moderno negócio do futebol, afinal seria difícil segurar os jogadores aqui, já que haveria assédio dos empresários do futebol, que os levariam fácil, fácil. O negócio era vender e lucrar agora. Afinal, descobriremos outros talentos, como sempre o fizemos, não havia por que se preocupar, muito menos ficar irritado.

Mesmo hoje, quando Cândido vê o que foi contratado para repor quem saiu, mesmo após ver que o time não é uma equipe, ainda conserva seu otimismo. Diz ele que Casemiro Mior tem tudo para confirmar que é um excelente técnico, pois já mostrou isso mexendo no time no momento e na posição correta (trocando o “ótimo” Fabrício pelo “esforçado” Lima, por exemplo), apostando nos novos valores (mas ignorando o Ticão e o Evandro), procurando buscar o melhor posicionamento tático (para mim, desculpa de quem não tem o menor conhecimento da equipe); Baloy, Cocito, Aloisio, Fabrício, Maciel, Rodrigo Souto, Netinho, etc. ainda mostrarão que são ótimos jogadores, e que o que conhecemos e pensamos deles está errado.

No que concerne o Atlético, Cândido aceita qualquer coisa que a diretoria faça (“afinal eles sabem o que é melhor para o time”) e acredita que, quem reclama, na verdade é um recalcado. É a favor das proibições na Arena, porque imagina que isso irá transformar a torcida do Atlético num modelo para o Brasil. Sempre acredita que tudo se resolverá e um grande time surgirá, de onde só existe um amontoado, sem comando e sem liderança. É o símbolo da nova era que nos foi imposta.

Bom, esse é o meu amigo Cândido, otimista como ele só. O problema é que tem gente por aí que diz que o Cândido pode até ser otimista, mas que ele não é atleticano, ah, isso ele não é mesmo!



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