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23 mar 2005 - 21h51

O maluco

“Eu não sou o problema, mas sim a solução”. Esta frase, quando usada em filmes de cinema ou TV, quase sempre é dita por alguém louco ou suspeito de viver no mundo da lua. Tem outra, ainda mais contundente: “todos estão errados, só eu estou certo”. Particularmente, gosto mais dessa última.

Muito se fala da nova ordem no futebol brasileiro e, segundo muitos, o Atlético é um dos destaques dessa nova ordem. Exemplo para o Brasil, proprietário do melhor estádio da América Latina e também de um centro de treinamento referência nacional. Tenho alguns amigos paulistanos que não escondem o desejo de conhecer a Arena, agora chamada de Kyocera Arena, em mais uma demonstração da “capacidade de inovação” do comando do Atlético. Exemplo de administração e gerenciamento, além de procurar sempre inovar nas áreas de marketing e no planejamento estratégico, seja na área esportiva ou na área administrativa. Enfim, motivo de orgulho para sua sempre crescente torcida, a maior no estado (em relação aos clubes daqui).

Tenho a impressão de que todos os torcedores paranaenses do Atlético são malucos, e somente o comando do clube é racional.

Sim, porque se olharmos em nível nacional, o Corinthians e o Flamengo são os clubes preferidos dos paranaenses. Alguns respondem, como explicação, que isso ocorre devido à maior exposição que os dois times têm na televisão, já que, sendo garantia de audiência, eles sempre tiveram seus jogos transmitidos. Mas, afirmam outros, esse destaque dado ao Flamengo e ao Corinthians está com os dias contados, porque, aqui no Paraná, a torcida do Atlético cresce a olhos vistos e logo irá suplantar Corinthians e Flamengo.

Eu quero isso, você provavelmente também quer. Porém, será que quem comanda o Atlético realmente concorda conosco? Pensamos todos da mesma maneira?

Por favor, peço que me permitam uma pequena regressão.

Quem me conhece sabe que já torci pelo Corinthians. E de forma radicalíssima: já quebrei muita coisa em derrotas alvi-negras. O grande momento foi o título de 1977, quando eu e meu pai saímos pelas ruas de Ponta Grossa, com o carro cheio de bandeiras e soltando foguetes. E meu pai, o corintiano-mor, chorando de alegria. Mas, como era costume, tínhamos um segundo time, e esse era o Atlético Paranaense. Contra-senso enorme dois paranaenses, morando a somente 100 km da sede de um grande time como o Atlético, torcendo pelo Corinthians? Hoje impensável (para mim), naquela época era normal, pois somente via o Atlético jogar quando enfrentava o Operário lá em Ponta Grossa ou quando vínhamos à Curitiba visitar a família (todos coxas roxos) e meu pai levava-me à velha baixada ou ao Belfort Duarte (era o nome do chiqueirão na época) para assistirmos ao Atlético. E vimos alguns jogos…

Por isso não posso afirmar que sempre fui rubro-negro de quatro-costados desde o nascimento, mas muita coisa mudou.

Hoje, distante quase trinta anos daquela noite de 1977, o Atlético ocupa todo o meu coração. Já me fez chorar de alegria e de raiva, já quebrei muita coisa nas derrotas do Furacão (ou empates, como Juventude e Grêmio em 2004, ou nos pênaltis na Libertadores em 2000) e sinto-me tão identificado com o clube que parece que vivi minha vida à sombra das árvores da rua Buenos Aires.

Mas o que fez a minha paixão pelo Atlético tão forte? Simples: 15 de maio de 1983. Atlético e Flamengo. Imagino se você tenha tido a oportunidade de assistir a um jogo do Furacão antes de proibições de faixas, bateria, etc.; na época do pó de arroz e do papel picado; na época da velha baixada. Assim a resposta vem fácil, fácil: o que me transformou foi a torcida!

Mesmo perdendo em 83, a torcida sempre foi um destaque, uma maravilha.

Nunca, em meus 38 anos, presenciei uma festa tão bonita quanto a que a torcida atleticana fazia! Era um show! Músicas o tempo todo; vibração o tempo todo; bandeiras agitando o tempo todo. Indescritível. Pena que acabou…

O grande diferencial do Atlético sempre foi a sua apaixonada torcida. Freqüentar um jogo do Atlético era como uma lavagem cerebral: não há paixão por time nenhum que resista. Até um tempo atrás, se você assistisse a um jogo do Atlético junto d’Os Fanáticos, era a certeza de conversão no final da partida, seja qual for o resultado, tão grande é a paixão e a alegria pelo Atlético demonstradas pelos torcedores.

Muito bem, voltemos ao momento atual. Na Arena, a torcida hoje é secundária. Diria até que é reprimida. Não há espaço para aquela torcida, digamos “estilo antigo”, na nova realidade atleticana. Na nova ordem atleticana. Exclusão é o lema. Classe baixa e média baixa, que têm outras prioridades e não podem pagar R$ 20,00 de ingresso, não são bem vindas. O bordão é: queremos quem pode pagar (ou, em outras palavras, a elite).

Eu, por exemplo, estou excluído. Se em outros anos fui em todos os jogos do Furacão, não mais! Mas isso não importa…

Baseado em experiência pessoal, posso dizer que, para um clube paranaense suplantar os papões Corinthians e Flamengo, aqui em nosso estado, é preciso um trabalho que atraia os torcedores. Também por experiência própria, digo que títulos não são imprescindíveis, mas sim é importantíssimo estimular a presença no estádio, a identificação e a alegria de torcer, mesmo na derrota; o reconhecimento pelo tradição do clube.

Na minha modesta opinião, o Atlético está fazendo o contrário disso.

Teorizações e interesses estão afastando o torcedor e temo verificar que daqui a alguns anos (ou talvez atualmente), a curva ascendente de torcedores atleticanos terá atingido um ponto de inflexão e começará a decrescer, porque os torcedores querem estar junto ao seu time; querem sentir a emoção de vestir a camisa no estádio (seja ela oficial ou não); e não serem desprezados em função de uma curva de viabilidade de negócio!

E penso que, quem compara os paranaenses a seres sem identidade, sem vibração, “autofágicos”, isso vindo de supostos atleticanos e paranaenses, mostra que há algo muito errado. “Bola murcha ao povo das araucárias”! Para mim, isso mostra que, fosse o futebol brasileiro como o americano e vivesse de franquias sem identidade a não ser o retorno financeiro, o Atlético, dito dos paranaenses, já seria “dos paulistas” ou “dos cariocas”, pois já havia de ter se transferido, como o fez o “Rexona do Vôlei”, indo para as “paradisíacas praças cariocas”, desprezando toda e qualquer tradição. Vocês estão errados!

Daí que, se a maioria diz não gostar da forma com que o comando trata a torcida e a tradição, ou uma coisa ou outra: ou eu estou redondamente errado, ou o Atlético corre sério risco no futuro, porque penso que não queremos frieza, mas sim um grande clube, que agregue os paranaenses em uma só torcida, vencendo ou sendo derrotado, mas que valorize a tradição de ser paranaense!

Então quase 1 milhão de paranaenses estão malucos, porque não concordam com o direcionamento que está sendo dado ao Furacão. Somente uma dezena de pessoas sabe o que é o certo e o que é ser paranaense.

Eu, atleticano e paranaense, maluco que sou, não os seguirei!



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