23 mar 2005 - 12h34

Opinião de Juliano Ribas

Gaúchos ou Paranaenses?
por Juliano Ribas

O diretor de marketing do Atlético, Mauro Holzman, vem dizendo que o povo paranaense precisa ser menos "autofágico". Disse na sincera entrevista dada recentemente ao furacao.com. Domingo, último, no debate sobre futebol da TV Educativa, tornou a dizer, dando "bola murcha" ao povo da araucárias e disse ainda que deveríamos ser "mais gaúchos". Fica parecendo este assunto uma espécie de cruzada de Mauro na tentaviva de mudar a personalidade do paranaense típico.

Ao bater na mesma tecla, Mauro deixa transparecer um certo ressentimento pala falta de reconhecimento ao trabalho que os dirigentes do Atlético vêm prestando, não só pela nação atleticana, mas pelo estado do Paraná como um todo. Nos últimos anos, o nome Atlético Paranaense explodiu Brasil afora, levando junto o do estado do Paraná. A imagem de modernidade do Atlético mistura-se a do Paraná. Coincide ainda, o despertar do estado como força nacional com o renascimento do Atlético. O Paraná de hoje é diferente do estado de dez anos atrás. Assim como o Atlético.

Muda-se a cara, muda-se a estrutura, muda-se a imagem rapidamente, mas as mentes não se tranformam na mesma velocidade. O Paranaense tem dificuldades históricas de identidade. Serviu de passagem para os tropeiros que levavam o gado do Rio Grande do Sul para São Paulo e Minas Gerais. Foi comarca de São Paulo até a metade do século XIX. É um dos estados de maior diversidade étnica do país. É formado por gente de fora, que veio tentar a vida ou que estava passando e ficou. É um estado tropeiro, de raízes caipiras e ao mesmo tempo internacional. O paranaense nunca soube bem o que é ser paranaense.

Mas toda essa diversidade serviu para fazer um povo com grande senso crítico, pois foi sempre espectador da novidade. Um povo que não se empolga com qualquer coisa, com um poder crítico tão exacerbado que chega a autofagia, critigada por Mauro. Mas que também faz querer sempre o melhor. E nos últimos anos é que essa característica ficou evidente. Com Curitiba sendo reconhecida como capital de ecologia, qualidade de vida e cultura e o estado do Paraná como modelo de desenvolvimento agrícola e industrial, o povo paranaense finalmente parece encontrar sua identidade. A tendência, é o provincianismo, a mania de reclusão e a autofagia, darem lugar ao orgulho de ser paranaense, original e inovador e ao orgulho de ver paranaenses brilharem. Mas ainda levará mais tempo, só as décadas e com elas a renovação das gerações é capaz da efetiva mudança.

Mas a essência do povo paranaense nunca mudará. Será sempre autocrítico, tímido, pouco simpático, tradicional, mas ao mesmo tempo inovador. Curitiba sempre será a capital do mais desanimado e sem graça carnaval do Brasil, o crivo positivo do curitibano continuará a ser o mais difícil de ser obtido por espetáculos de teatro. O paranaense nunca deixará de ser esse caipira orgulhoso, de nariz meio empinado, que fala pouco, mas firme. O estado da primeira universidade do país finalmente desperta, sai da toca. Devagar, com seu jeito cauteloso e polaco de ser. Estamos desenvolvendo aos poucos o orgulho de ser paranaense, que nunca será um orgulho ufanista, desmedido e sem autocrítica como o dos gaúchos. Mauro quer que sejamos um pouco gaúchos. Acho que deveríamos ser cada vez mais paranaenses.

Mauro se precipita ao dizer que não há apoio paranaense. Não é à toa que a torcida do Atlético, segundo a pesquisa Lance/Ibope, já ultrapassa um milhão de pessoas em todo o estado. Um crescimento vertiginoso conquistado em pouco tempo. A torcida verde mal chega na metade. Grande parte dos filhos de paulistas já não são corinthianos ou palmeirenses, mas atleticanos. Temos os animados fãs-clubes de São Mateus do Sul, São José dos Pinhais e outros espalhados pelo Paraná. A campanha de marketing "Clube Atlético dos Paranaenses" foi um sucesso. A Arena Claro em Caiobá vivia lotada de garotos de todo o Paraná vestindo mantinhos Rubro-negros. A grande sacada da Kyocera Arena é comentada com orgulho por todos os cantos. No belíssimo aeroporto Afonso Pena, pude ouvir pessoas comentando e enaltecendo o negócio em conversas informais. O Atlético, bem como o orgulho de ser atleticano crescem vertiginosamente no Paraná. Pode ficar tranqüilo, Mauro Holzman.

Na verdade, Mauro ressente-se principalmente de parte da imprensa paranaense, esta sim, verdadeiramente autofágica, atrelada a interesses e tradições decrépitas, que tenta nivelar tudo por baixo. Que não valoriza da maneira como deveria o Atlético dos Paranaenses para não diminuir o time da colônia e de uma certa elite alemã de Curitiba. Que vê fantasmas no limpo patrocíno realizado pela idônea empresa japonesa Kyocera. Que tem uma acidez cáustica com os assuntos atleticanos e uma benevolência sem sentido com os assuntos coxas. Mas está aí uma coisa difícil de mudar. Um estado com dez milhões de habitantes consegue mudar a mentalidade. Mas sempre existirá uma pequena parte mal intencionada na imprensa, do mesmo jeito, com as mesmas velhas idéias, pouca ética e a mesma vontade de destruir tudo.

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