13 abr 2005 - 0h01

Borba Filho mostra o caminho

Os atleticanos mais novos conhecem Borba Filho pela sua atuação da imprensa esportiva nos últimos anos. Para eles, Borba Filho é "aquele comentarista da Rádio CBN e colunista do Estado do Paraná". Porém, a ligação de Ronaldo Augusto Borba com o futebol e com o Atlético é muito maior.

Filho de Altino Borba, zagueiro do Atlético durante os anos de 1929 e 1935, Ronaldo passou a ser chamado de "Borba Filho" em razão da lembrança que seu pai deixou no futebol paranaense. Altino foi capitão do Rubro-negro bicampeão paranaense em 1929 e 1930 e ainda foi campeão estadual em 34. Depois, tornou-se árbitro.

Se o pai exerceu as funções de jogador e árbitro, o filho completou os campos de atuação da família no futebol: foi técnico e cronista esportivo. “O futebol é o habitat natural dele”, definiu com precisão o presidente João Augusto Fleury da Rocha na ocasião em que anunciou a contratação de Borba Filho para exercer a função de consultor do clube, no final do mês de janeiro.

Nos últimos dois meses, Borba Filho tornou-se um especialista em futebol sul-americano e Libertadores. Passou duas semanas na Colômbia, acompanhando de perto o desempenho do América de Cáli e do Independiente Medellín, adversários do Furacão na primeira fase da competição. A partir de seus relatórios, o técnico Casemiro Mior montou a equipe do Atlético nos três primeiros jogos da competição.

Agora, com a chegada de Edinho, Borba terá a missão de orientar a renovada comissão técnica, fornecendo subsídios para o Atlético vencer seus próximos compromissos e garantir classificação à próxima fase. Às vésperas do jogo contra o América de Cáli, a Furacao.com conversou com Borba Filho e ouviu dele dicas sobre os adversários atleticanos, análises sobre os aspectos táticos, comentários acerca das atuações do Furacão e sobre o "espírito de Libertadores".

Há muita diferença na maneira de atuar das equipes que estão disputando a Libertadores em jogos em casa e fora?
Basicamente, eles se soltam um pouco mais em casa. Algumas ainda fazem aquela pressão nos minutos iniciais. O São Paulo é uma delas. Uma exceção é justamente o time do América de Cáli, que devido à qualidade técnica de seus jogadores sai para o jogo mesmo jogando fora. Não é à toa que o time está em primeiro e com aproveitamento total. Agora veja o caso do Libertad, que provavelmente vai ter que se abrir no confronto contra o Atlético. É um time limitado, mas muito obediente taticamente, o que dificulta nosso trabalho. Mas a partir do momento em que o time sinta brechas na defesa deles, podemos encaixar dois ou três contra-ataques e liquidar a partida. Aqui eles jogaram com duas linhas de quatro defensores durante todo o primeiro tempo e isso não nos dava espaço para criar muita coisa.

Você não acha que o Atlético poderia ser um time mais ofensivo?
Pelas circunstâncias da partida, pode até ser, mas existe a característica de cada jogador. Acho que o time tem atuado de maneira inteligente e dando poucas opções aos adversários.

A torcida está um pouco apreensiva e ainda não está confiando no time atleticano. Há algum time que esteja enchendo os olhos no Brasil ou na América Latina?
Todos os times têm altos e baixos. Veja como exemplo o América, que é indiscutivelmente um bom time. Assisti a quatro partidas deles e antes de eles nos vencerem por 3 a 1 haviam perdido e no jogo seguinte ao nosso perderam de 3! O Independiente é outro que venceu bem o Libertad e depois perdeu o clássico para o Nacional. Em média, os times estão muito equilibrados. É só ver a classificação da Libertadores: apenas o América fez todos os pontos possíveis (Nota da Furacao.com: o River Plate também conquistou todos os pontos possíveis). E aproveitou o fator campo, pois jogou em casa duas vezes nesse turno.

A torcida fala muito do Santos, do São Paulo…
O Santos quando foi tentar jogar contra o LDU já estava perdendo por 2 a 0. E essa desculpa de altitude não é muito verdadeira. Tanto é que eles ficaram concentrados em Quito e foram para a altitude apenas na hora do jogo, quando se percebem muito menos os efeitos do ar rarefeito. O que faz a diferença é o espírito de Libertadores. Isso realmente existe e só estando lá fora para perceber.


Alan Bahia: exemplo de raça

Como assim espírito de Libertadores?
Nesses países, a Libertadores vale tanto quanto uma Copa do Mundo. Primeiro porque Copa é de quatro em quatro anos e Libertadores tem todo ano! Segundo porque eles sabem que vencer uma Copa do Mundo é muito difícil, então a grande chance de exposição é a Libertadores. Para se ter uma idéia, na Bolívia, Colômbia e Chile passam ao vivo todos os jogos do torneio e nos dias em que não há jogo passam vários programas especiais e debates, tudo acerca da Libertadores. Eles vivem esse clima e se mostram também dentro de campo mais compenetrados, pois o torneio passa a ser uma verdadeira vitrine para esses jogadores.

Estaria faltando esse espírito aos times brasileiros e ao Atlético em especial?
O jogador brasileiro se prevalece muito da técnica. O problema é que esses times já entram com um “bônus” de motivação, então já saem na frente. Os times mais habilidosos, como os brasileiros e argentinos, precisam entrar com a mesma vontade deles, daí, na técnica, conseguem superar. Um exemplo de superação e de time que fez do conjunto o seu ponto forte é justamente o atual campeão, o Once Caldas, que segurou o Boca Juniors e só foi perder para o Porto na final interclubes nos pênaltis. Não acho que esteja faltando o espírito em si, mas acho que o time atleticano, à exceção do Alan Bahia e do Marcão, poderia dar um pouco mais. Tecnicamente, o time é tão bom quanto os outros. Quando todos conseguirem jogar com aquela pegada, aquela característica que faz os vencedores, fatalmente irá vencer e se classificar.

Particularmente, o senhor prefere qual esquema de jogo?
Eu sou adepto do 4-3-3. É um esquema mais maleável e dentro do jogo é possível fazer com que as peças se adaptem ao 4-2-4 ou um 4-4-2, caso seja necessário. Não gosto do 3-5-2, pois no Brasil se joga assim com três zagueiros e não com dois defensores e um líbero. O líbero é o último zagueiro, mas também deve ser aquele que tenha qualidade para surgir na frente ou sair jogando. No Brasil, e não foi à toa que o Atlético foi campeão assim, só vi o Nem com essas qualidades para fazer um time ser vencedor jogando no 3-5-2.

Reportagem: Juarez Villela Filho, do conteúdo da Furacao.com; Fotos: Julia Abdul-Hak, do conteúdo da Furacao.com

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